Rio, 07 (AE) - O empresário e deputado cassado Sérgio Naya negou hoje, em depoimento ao juiz da 33ª Vara Criminal do Rio, Heraldo Saturnino de Oliveira, ter conhecimento da existência de corrosão na armação de ferro das colunas do Palace 2 ou de problemas nos pilares do prédio e ainda acusou os ex-moradores do edifício que desabou em fevereiro de 1998. No acidente, morreram oito pessoas. O depoimento foi marcado por um princípio de tumulto e clima de tensão. O encontro de ex-moradores do prédio com uma caravana de Minas Gerais que veio ao Rio prestar solidariedade ao ex-deputado quase terminou em pancadaria.
Pedro de Alencar Martins, que perdeu dois irmãos e o pai no desmoronamento, tentou agredir Leovaldo Nunes, um dos integrantes do grupo. "Esse pessoal do Palace quer enriquecer ilicitamente, por isso eles não foram indenizados ainda", acusou Nunes, provocando a reação do rapaz. Na saída de Naya, uma nova confusão: o carro que levava o ex-deputado entrou na contramão na Rua Marechal Agnaldo Caiado de Castro e bateu em um ônibus, destruindo os pára-choques e faróis. Em seguida, saiu em disparada. Depoimento - Em seu depoimento, o ex-deputado disse que praticamente não acompanhou a obra de construção do Palace 2, que não sabia da existência de corrosão na armação de ferro das colunas e nunca teve conhecimento de problemas nos pilares do prédio. De acordo com o empresário, o comando da obra cabia ao engenheiro Sérgio Murilo Domingues e o cálculo estrutural do projeto foi realizado por José Roberto Chendes. Naya acusou os moradores do Palace 2 de terem ocupado os apartamentos irregularmente, uma vez que o prédio não tinha o habite-se expedido pela prefeitura.
O deputado cassado admitiu apenas ter sido informado sobre problemas em dois pilares do Palace 1 e contou que teria pedido a Chendes para tomar as providências necessárias. Disse que foi informado de que os trabalhos de reparo no Palace 1 foram considerados satisfatórios. Domingues e Chendes são co-réus no processo que apura a responsabilidade criminal pelo desabamento e pela morte de oito pessoas no carnaval de 98. Hoje
os advogados de Naya entraram com novo pedido de revogação de sua prisão.
Vítimas - "Ele está tentando acusar os co-réus e se livrar de responsabilidade, dizendo que não tinha conhecimento de nada", afirmou o advogado Nélio Andrade, que defende as vítimas do Palace 2. "Mas nós temos provas de que ele era informado de tudo o que acontecia". Na avaliação de Andrade, os depoimentos de Chendes e Domingues serão decisivos para mostrar que Naya sabia de tudo o que acontecia na obra. O advogado acredita que a prisão do ex-deputado não será revogada. "Se ele for solto, vai fugir do País ou atrasar ao máximo o processo", disse.
A ex-moradora do Palace 2 Bárbara Alencar, que perdeu a filha e o ex-marido no desabamento, esteve presente ao depoimento. "Foi tudo uma farsa, uma grande farsa", avaliou. "Ele não disse nem uma gota de verdade". A ex-moradora Rauliete Barbosa Guedes, que também acompanhou o interrogatório, acusou um irmão do ex-deputado de intimidá-la com o olhar. "Ele ficou me encarando como quem diz, agora você vai ver", contou.
O advogado de Naya, Nilo Batista, não quis dar entrevistas. "As informações sobre o caso vêm sendo passadas com desonestidade", limitou-se a dizer. No pedido de revogação da prisão, Batista alegou que seu cliente "tem endereço fixo e atendeu a todos as requisições para depor". Segundo o advogado, houve uma confusão na hora de escrever o endereço e, por isso, ele não teria sido localizado.

Naya, preso desde o dia 15 de dezembro na carceragem especial do Ponto Zero, em Benfica, na zona norte da cidade, chegou ao fórum às 12h35, 25 minutos antes do horário marcado para o início do interrogatório. O ex-deputado foi levado em um Gol cinza, acompanhado apenas do motorista e de um policial. Ele entrou pelos fundos para evitar o contato com a imprensa e com os ex-moradores do Palace, que faziam uma manifestação na entrada principal do fórum.

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