A vida da estudante Maria Julia Queiroz, 18, atacada na região do aterro do Lago Igapó enquanto praticava uma das suas atividades de lazer favoritas, deverá demorar para ter a mesma qualidade. Desde que foi surpreendida por um homem desconhecido e que também parecia utilizar roupas de corrida, na manhã deste domingo (31), a ansiedade tem batido à sua porta com maior frequência e o medo acabou por influenciar toda a rotina da família. “Muda o contexto da minha vida. Não posso mais sair de casa sem a minha mãe entrar em pânico. Ir estudar, trabalhar, mudou a perspectiva da minha família", lamentou à FOLHA. A reportagem entrou em contato com a Guarda Municipal e a Delegacia da Mulher, que ainda não divulgou como estão os primeiros passos do inquérito aberto para identificar o agressor.

Ataque ocorreu na pista de caminhada da rua Bento Munhoz da Rocha Neto, na esquina com a Jerusalém
Ataque ocorreu na pista de caminhada da rua Bento Munhoz da Rocha Neto, na esquina com a Jerusalém | Foto: Gustavo Carneiro

“Não quero uma vingança, mas justiça. Eu posso não ter sido a primeira (vítima) e nem a última. Diversas mulheres passam por isso em silêncio. Eu corria no lago, era algo que gostava, um direito como cidadã e que foi retirado”, lamentou Queiroz, que seguia pela pista de caminhada da rua Bento Munhoz da Rocha Neto, na esquina com a rua Jerusalém, quando foi surpreendida por trás, com poucas chances para reagir e até ver o rosto do seu agressor.

Ela contou que teve a boca fechada pelo homem e chegou a cair no chão, o que lhe rendeu escoriações nos braços e na perna. Em seu relato, feito às forças de segurança no mesmo dia e em sua casa, também descreveu o agressor como um homem alto, forte, negro e de meia idade, e que acredita que tinha intenção de empurrá-la em direção à mata.

Para a jovem, a tentativa de estupro só não foi consumada porque o homem desistiu ao perceber a presença de uma ambulância. “Foi a minha sorte porque se ele tivesse me jogado para o mato... (..) Eu gritei bem alto, mas não tinha ninguém na rua. Então não iria adiantar de nada. Ele me surpreendeu e provavelmente viu a ambulância antes de mim", explicou.

Assustada e com escoriações pelo corpo, a jovem foi socorrida pelos profissionais que estavam na ambulância que pertence a um plano de saúde privado, e que a levaram para casa.

De acordo com ela, a esperança na identificação do homem está no registro feito por uma câmera da Guarda Municipal. Ela acredita que as imagens possam mostrar o momento em que ela passava pela via e é seguida pelo homem. No entanto, ainda não foi chamada para analisar o conteúdo, o que deve acontecer no decurso do inquérito conduzido pela Polícia Civil.

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A reportagem solicitou entrevistas para a Guarda Municipal e para a Delegacia da Mulher de Londrina, porém não foi atendida até o fechamento desta edição.

Nos últimos meses, a Região Metropolitana de Londrina vem registrando diversos casos de importunação sexual, no transporte coletivo e até em ruas ou parques pouco movimentados. Um destes rendeu a prisão de um homem de 22 anos pela delegacia de Ibiporã. O suspeito foi flagrado apalpando as partes íntimas e levando saias de mulheres enquanto passava de moto. Ao todo, 11 vítimas reconheceram o agressor, que chegou a ficar preso, mas obteve o direito de aguardar o julgamento em liberdade e é monitorado por uma tornozeleira eletrônica.

Maria Júlia Queiroz disse acreditar que o seu relato possa encorajar outras vítimas. "Diversas mulheres passam por isso em silêncio e eu quero que possam cobrar por justiça. O que ele fez foi muito grave. Atentou contra a minha vida, meu direito de ir e vir. Tive muito apoio e ver que outras meninas estão se identificando me fortalece e fortalece a todas”, avaliou.

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