O adeus a dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador (BA) e ex-presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) lotou a Catedral Metropolitana de Londrina e reuniu uma multidão de fiéis nesta segunda-feira (28). Dom Geraldo faleceu no último sábado (26), aos 89 anos, por complicações de um AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Muito emocionada, Julia de Lourdes Bianconi, que foi funcionária de dom Geraldo por mais de 40 anos e esteve com ele nos últimos momentos, afirma que a bondade, paciência e simplicidade são características do cardeal que ficarão marcadas na memória.

“Aquela pessoa sempre com um sorriso no rosto. Ele tinha aquela capacidade de olhar para a gente com um sorriso”, disse. Bianconi e a equipe que cuidou de dom Geraldo receberam agradecimentos durante a celebração.

A missa de exéquias foi celebrada na manhã desta segunda-feira pelo arcebispo de Salvador, dom Sérgio da Rocha, que ressaltou a dedicação e competência com que o cardeal atuou na Igreja. “Nós agradecemos a Deus porque dom Geraldo não só exerceu funções tão importantes de forma exemplar, mas também por aquilo que ele é, pela pessoa humana, pelo cristão, ele que testemunhou tanto o valor do diálogo, do respeito ao outro, da caridade, um homem sempre disposto a promover a paz e a unidade entre as pessoas”, afirmou.

Bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário-geral da CNBB, Ricardo Hoepers pontuou que o cardeal deixa um “legado e testemunho belíssimos”. Ele ficou à frente da instituição de 2003 a 2007 e, entre outras coisas, preparou a Conferência de Aparecida, em 2007.

“Os assessores que trabalharam dizem que ele era um homem que ouvia, [sempre estava] disposto a atender um por um, centrado, com discernimento em tudo que fazia. O que podemos fazer hoje é agradecer a Deus pelo dom da vida dele”, destacando também o aspecto social na trajetória do arcebispo. “Eu entendo que ele abriu uma porta, que foi a Pastoral da Criança, e a partir disso a própria CNBB se envolveu com muitos outros projetos na Campanha da Fraternidade.”

Uma das milhares de fiéis que acompanharam o sepultamento de dom Geraldo foi a assistente social Júlia Pupin Campos, 49. Ela, que fez parte da equipe que cuidava do cardeal, diz que ele era uma pessoa especial.

“Ele me transmitiu muita bondade, muita paz, é isso que eu sentia todas as vezes que íamos visitá-lo. E mesmo com toda a inteligência, toda a capacidade, era uma pessoa humilde, carinhosa e bondosa. É uma pessoa ímpar, foi um escolhido”, relatou.

Após a celebração, que iniciou às 10h, o caixão com o corpo de dom Geraldo foi levado para a cripta da Catedral de Londrina por volta das 12h. O sepultamento também contou com a presença de fiéis londrinenses.

FORMAÇÃO CRISTÃ

A pensionista Ivone da Silva Rodrigues, 58, conta que conheceu dom Geraldo ainda durante a sua infância, em Londrina. O cardeal costumava visitar e tomar café na casa da sua madrinha, no Centro da cidade. “Ele foi uma pessoa muito especial na vida da gente, ajudou na formação cristã, foi uma benção ter conhecido o dom Geraldo. Era maravilhoso, muito atencioso”, lembrou.

O arcebispo de Aparecida do Norte (SP), dom Orlando Brandes, diz que o cardeal foi escolhido pela Providência Divina e pôde atuar em diferentes locais, como em Toledo, enquanto bispo, e em Londrina e Salvador, como arcebispo.

“Dom Geraldo, do ponto de vista humano, era uma pessoa de muita espiritualidade, de muito humanismo, de muita simpatia. Como arcebispo daqui, soube unir os padres e deixar saudade nos leigos”, completa.

No domingo, em entrevista à FOLHA, o prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), destacou que o arcebispo, além de ser um evangelizador, trabalhou para disseminar o amor e a palavra de Deus. “Ele deixa um legado para a humanidade, somos muito gratos. Ele adotou Londrina como sua terra e no final da vida voltou para cá, porque aqui estava o coração dele”, disse.

HISTÓRIA

Nascido em Juiz de Fora (MG), em 1933, o cardeal foi nomeado bispo diocesano de Toledo em 1978. Em Londrina, ficou à frente da arquidiocese de 1983 a 1991. Foi nesse período que, ao lado da médica Zilda Arns, deu início à Pastoral da Criança, em Florestópolis, que combateu a mortalidade infantil na região. A iniciativa repercutiu no Brasil e no mundo.

Em 2011, dom Geraldo teve o pedido de renúncia aceito pelo papa Bento XVI, se tornando arcebispo emérito de Salvador. Já em 2014, por um desejo seu, voltou a residir em Londrina.

Imagem ilustrativa da imagem Multidão emocionada acompanha sepultamento de dom Geraldo
| Foto: Carolina Knup

Em seu site oficial, a Arquidiocese informou que dom Geraldo escreveu em sua carta: "Sempre foi minha intenção ser sepultado no lugar onde tivesse residência, quando Deus me chamasse a si. Assim, expresso mais uma vez o meu desejo de ser sepultado em Londrina, com a anuência do Arcebispo desta Sede Metropolitana, quando chegar a minha hora de partir deste mundo. Sendo assim, a Arquidiocese de Londrina e o seu arcebispo dom Geremias Steinmetz acatam o desejo do Cardeal, que será sepultado na sepultado na Cripta da Catedral Metropolitana de Londrina, onde estão sepultados o primeiro bispo e arcebispo, dom Geraldo Fernandes Bijos, e o terceiro arcebispo, dom Albano Botoleto Cavalin."

Um fiel que acompanhou parte da missa de exéquias lamentou o falecimento do cardeal. “Dom Geraldo era muito bom, sem dúvidas todos que fazem parte da comunidade católica aqui da região vão sentir falta dele e do seu trabalho”.

A aposentada Maria Cleonice Rogério relembra, com emoção, a generosidade e a entrega de dom Geraldo ao sacerdócio e aos fiéis. “Eu não o conhecia pessoalmente, mas a gente conhece pessoas que o conheceram e sempre só ouviu coisa boa. Era uma ótima pessoa, que cumpriu sua missão com louvor aqui na Terra. A morte chega para todo mundo, mas agora ele está com Deus”, comenta. (Colaborou Caroline Knup)

Imagem ilustrativa da imagem Multidão emocionada acompanha sepultamento de dom Geraldo
| Foto: Carolina Knup

(Com informações da Arquidiocese de Londrina)