“Violência contra a mulher: NÃO!” A luta é pela igualdade de direito, de salário, pelo direito de ir e vir, de se vestir como quiser, a luta é pelo direito à vida. No fim da manhã deste sábado (22), dezenas de pessoas se reuniram em frente à Catedral de Londrina, no centro da cidade, para pedir o fim da violência contra as mulheres. Organizada pela Secretaria Estadual da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (Semipi), a 1ª Caminhada do Meio-Dia foi realizada em mais de 70 municípios do Paraná na data em que é celebrado o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio.

A deputada estadual Cloara Pinheiro foi a responsável por organizar o evento em Londrina. Segundo ela, o horário do almoço foi escolhido por representar o momento em que as mulheres vítimas de feminicídio poderiam estar reunidas com seus familiares para a refeição. Afirmando ser uma “sobrevivente”, a deputada citou o exemplo da influenciadora Daniele Gonçalves, que foi vítima de uma tentativa de feminicídio em Londrina em maio deste ano. “Nós queremos falar ‘sim’ à vida e ‘não’ à violência. A violência que envolve o ‘você é chata’ e o ‘você é gorda’. A violência de todo o tipo”, ressaltou.

Pinheiro detalhou que o pedido foi para que todas as pessoas comparecessem de branco para representar a paz e a vida. “Não existe mais isso de que em briga de marido e mulher não se mete a colher. Se mete a colher, a polícia e tudo mais”, afirmou.

De branco e muito emocionada, Daniele Gonçalves também compareceu ao ato simbólico. Ela disse que se sente grata por poder estar viva para compartilhar um pouco da sua história, já que muitas outras mulheres não tiveram a mesma chance. A influenciadora disse ainda estar muito abalada com tudo o que aconteceu e que ainda não consegue esquecer do momento em que foi tirada do carro à força e golpeada por Gabriel de Faveri. “Mulheres, denunciem! O que eu quero agora é encorajar outras mulheres a não se calarem”, frisou.

O crime de feminicídio foi tipificado em 2015, quando o Código Penal foi alterado para incluí-lo como um crime cometido pela condição de mulher, seja no contexto de violência doméstica e familiar ou por menosprezo ou discriminação à condição da mulher. As motivações são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da ideia de que as mulheres são sua propriedade.

Segundo dados do Ministério Público do Paraná, em 2022 foram registrados 274 casos de feminicídio ou tentativa de feminicídio no Estado. De 2019 a 2022, foram 314 feminicídios e 911 homicídios dolosos contra mulheres.

Liange Doy Fernandes, secretária municipal de Políticas Para as Mulheres, ressaltou que a pasta presta serviços especializados para que mulheres vítimas de violência doméstica consigam romper o ciclo da violência, que ela afirma ser o primeiro passo para evitar o feminicídio. Segundo ela, Londrina tem um Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), que oferta atendimento psicossocial e jurídico para que a mulher saiba que está em uma situação de violência e receba orientações sobre os seus direitos. Além do CRAM, ela explica que a Casa Abrigo Canto de Dália recebe mulheres que estão em risco iminente de serem vítimas de feminicídio decorrente da violência familiar e doméstica.

“Nós temos percebido um aumento muito grande na busca pelos serviços do CRAM. Nesse primeiro semestre, foram 312 mulheres que procuraram o serviço, enquanto em todo o ano passado foram menos de 500”, detalhou. Segundo ela, o aumento é preocupante mas que, por outro lado, aponta que as mulheres estão buscando o serviço para que haja um rompimento do ciclo de violência.

Regina Simões
Regina Simões | Foto: Jéssica Sabbadini/Especial para a FOLHA

Com músicas e dizerem em prol da igualdade de direitos, apesar da presença de alguns homens, a grande maioria das pessoas que estavam no ato era mulher. Atuando no direito de família, a advogada Regina Simões convive de perto com casos de violência contra a mulher e afirma que esse tipo de mobilização mostra um avanço na luta contra o feminicídio. “A mulher precisa ser vista com mais respeito, com mais atenção pela sociedade e pelos homens. Existem vários tipos de violência, mas o que eu mais vejo é a psicológica”, afirmou. Ela citou como exemplo o caso de uma cliente, que tem um problema físico e o marido que, além de agredi-la fisicamente, a atacava pela condição física. “Ela me dizia que o que mais a machucava não era o tapa que ela levava, mas o fato de ele ficar falando que ela era deficiente e que não servia para nada. A violência psicológica mina muito a força que a mulher tem para lutar”, esclareceu.

A advogada detalhou que muitas mulheres se culpam pelas agressões, o que dificulta que esses casos de violência sejam denunciados. Segundo ela, a maior parte dos casos de violência acontece dentro de casa. “Eu, como mulher, quero mais respeito, amor e afetividade. Eu quero que a família seja vista como um ponto de apoio, um local que você se sinta guardada, protegida, blindada, que não é o que a gente tem visto hoje. É dentro da família que as mulheres estão sofrendo as maiores violências”, finalizou.

Jeanete Vargas
Jeanete Vargas | Foto: Jéssica Sabbadini/Especial para a FOLHA

A psicóloga e corretora de imóveis Jeanete Vargas faz parte de diversos grupos que atuam em defesa das mulheres, como o ‘Nós do Poder Rosa’. “É uma luta incansável”, define. “Não existe sexo maior ou melhor, nós somos iguais. Essa luta nossa não é porque queremos nos sobressair ou sermos melhores que os homens, a gente quer caminhar lado a lado”, afirma.

Sônia Gimenez
Sônia Gimenez | Foto: Jéssica Sabbadini/Especial para a FOLHA

A vereadora de Londrina e professora Sônia Gimenez também assumiu a função de Procuradora Especial da Mulher na Câmara Municipal dos Vereadores de Londrina. Segundo ela, o objetivo é incentivar que mais mulheres participem da política e que denunciem casos de violência doméstica, assim como a luta para a igualdade de direitos e de salários. “São muitas ações que nós temos que trabalhar para que a mulher se sinta como um ser humano que deve ter todo o respeito”, destaca.

Gimenez destaca que esse tipo de evento ajuda na divulgação das ações que existem em prol das mulheres. “Muitas pessoas não sabem que dentro da Câmara [de Vereadores] existe um espaço para denúncia, acolhimento e encaminhamento de casos de violência contra a mulher. Nós temos recebido muitas denúncias, que é algo que não gostaríamos, mas saber que podemos contribuir é muito bom”, afirma. Como uma mulher na política, ela quer incentivar cada vez mais a participação feminina em cargos públicos: “nós somos mais de 50% da população e nós temos que ter nossos direitos preservados”.

COMO DENUNCIAR

A Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 presta uma escuta e acolhida qualificada às mulheres em situação de violência. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. São atendidas todas as pessoas que ligam relatando eventos de violência contra a mulher.