O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está preparando uma reação de suas bases em todo o País em protesto contra a série de denúncias de irregularidades e desvio de recursos da reforma agrária, feitas pelo governo federal. A revelação foi feita ontem pelo principal líder dos sem-terra no Pontal do Paranapanema, José Rainha Júnior que não revelou, porém, a estratégia que será utilizada.
Em entrevista Rainha disse que o MST está levantando documentos para encaminhar à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC), provando que, ao contrário das afirmações do governo, não existem recursos disponíveis para financiamentos de custeio agrícola para as famílias assentadas. ‘‘O governo está mentindo e precisa ser desmoralizado’’, afirmou.
Os principais trechos da entrevista são os seguintes:
Como você observa a ação do governo contra o MST?
José Rainha Júnior - É uma política de perseguição, com
a tentativa de desmoralizar o MST e esconder os escândalos que envolvem o próprio governo. Onde está o Eduardo Jorge, o Cacciola, o Pittagate, os precatórios e outros casos que deram bilhões de prejuízos? O governo FHC não tem moral para tentar desmoralizar o MST.
Como o MST está tratando deste assunto?
Rainha - Estamos levantando informações em bancos para
provar que o governo mente quando diz que liberou dinheiro para os assentamentos. Conversei com o Gilberto Portes (líder do MST em Brasília) e ele vai encaminhar os documentos para a OAB, CNBB e CONIC, dando condições para que aquelas entidades questionem o governo.
Desde quando falta dinheiro para o custeio?
Rainha- Nos últimos dois anos o governo não liberou
nada para as famílias assentadas. Agora, com a ofensiva sobre o MST ele está comunicando aos bancos a suspensão das linhas de crédito através das cooperativas ligadas ao movimento. O único financiamento de que dispomos é o autorizado pelo governador Mário Covas, através do Fundo de Expansão da Agropecuária e da Pesca (Feape ), que prevê R$ 3 mil por família para o plantio de mandioca. Pelo mesmo fundo, serão liberados ainda R$ 5 mil por família para o abacaxi e maracujá.
E as denúncias sobre a cobrança de pedágios por parte do MST?
Rainha - É mais uma tentativa de desmoralizar o MST.
Todo trabalhador contribui espontaneamente com seus sindicatos ou entidades representativas. Não é novidade. Agora eles querem provar que os trabalhadores foram obrigados a fazer as doações, ouvindo pessoas, como no Paraná, que não pertencem ao MST. Além disso, quando fazem as doações, os trabalhadores já assumiram o compromisso bancário que deverá ser liquidado integralmente. O dinheiro é dele e não público.
E os inquéritos instaurados pela Polícia Federal?
Rainha Tudo isso não passa de perseguição política de
um governo irresponsável e incompetente. Como a Polícia Federal vai instaurar inquérito se até agora não fomos formalmente notificados da conclusão da auditoria na Cocamp? É tudo bobagem e a Polícia Federal não vai chegar a lugar algum. Não há desvios nem irregularidades. (A.E.)