MST prepara reação nacional, diz Rainha
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quarta-feira, 18 de outubro de 2000
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está preparando uma reação de suas bases em todo o País em protesto contra a série de denúncias de irregularidades e desvio de recursos da reforma agrária, feitas pelo governo federal. A revelação foi feita ontem pelo principal líder dos sem-terra no Pontal do Paranapanema, José Rainha Júnior que não revelou, porém, a estratégia que será utilizada.
Em entrevista Rainha disse que o MST está levantando documentos para encaminhar à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC), provando que, ao contrário das afirmações do governo, não existem recursos disponíveis para financiamentos de custeio agrícola para as famílias assentadas. O governo está mentindo e precisa ser desmoralizado, afirmou.
Os principais trechos da entrevista são os seguintes:
Como você observa a ação do governo contra o MST?
José Rainha Júnior - É uma política de perseguição, com
a tentativa de desmoralizar o MST e esconder os escândalos que envolvem o próprio governo. Onde está o Eduardo Jorge, o Cacciola, o Pittagate, os precatórios e outros casos que deram bilhões de prejuízos? O governo FHC não tem moral para tentar desmoralizar o MST.
Como o MST está tratando deste assunto?
Rainha - Estamos levantando informações em bancos para
provar que o governo mente quando diz que liberou dinheiro para os assentamentos. Conversei com o Gilberto Portes (líder do MST em Brasília) e ele vai encaminhar os documentos para a OAB, CNBB e CONIC, dando condições para que aquelas entidades questionem o governo.
Desde quando falta dinheiro para o custeio?
Rainha- Nos últimos dois anos o governo não liberou
nada para as famílias assentadas. Agora, com a ofensiva sobre o MST ele está comunicando aos bancos a suspensão das linhas de crédito através das cooperativas ligadas ao movimento. O único financiamento de que dispomos é o autorizado pelo governador Mário Covas, através do Fundo de Expansão da Agropecuária e da Pesca (Feape ), que prevê R$ 3 mil por família para o plantio de mandioca. Pelo mesmo fundo, serão liberados ainda R$ 5 mil por família para o abacaxi e maracujá.
E as denúncias sobre a cobrança de pedágios por parte do MST?
Rainha - É mais uma tentativa de desmoralizar o MST.
Todo trabalhador contribui espontaneamente com seus sindicatos ou entidades representativas. Não é novidade. Agora eles querem provar que os trabalhadores foram obrigados a fazer as doações, ouvindo pessoas, como no Paraná, que não pertencem ao MST. Além disso, quando fazem as doações, os trabalhadores já assumiram o compromisso bancário que deverá ser liquidado integralmente. O dinheiro é dele e não público.
E os inquéritos instaurados pela Polícia Federal?
Rainha Tudo isso não passa de perseguição política de
um governo irresponsável e incompetente. Como a Polícia Federal vai instaurar inquérito se até agora não fomos formalmente notificados da conclusão da auditoria na Cocamp? É tudo bobagem e a Polícia Federal não vai chegar a lugar algum. Não há desvios nem irregularidades. (A.E.)