MST ocupa praças e libera cancelas de pedágio
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sábado, 29 de junho de 2013
Gustavo Carneiro
Arapongas O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) decidiu ampliar sua atuação nas ondas de protestos do País e ocupou na manhã e na tarde de ontem sete praças de pedágio em rodovias paranaenses exploradas pelas concessionárias Viapar e Econorte. A ocupação foi considerada pacífica pela Polícia Rodoviária Federal, que acompanhou a movimentação à distância. Os atos ocorreram em Arapongas, Jataizinho, Mauá da Serra, Mandaguari, Campo Mourão, Jacarezinho e Cascavel.
Até às 14 horas de ontem, não havia sido registrado nenhum ato de violência nos pontos de manifestação. O protesto, que começou simultaneamente às 8h30, terminaria às 17 horas de ontem. Além do MST, também participaram dos atos a Via Campesina, o Movimento dos Agricultores Sem Terra (Mast) e Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
Os manifestantes pedem mais agilidade nos processos de desapropriação de terra para reforma agrária e o fim da cobrança de pedágio, considerado pelos manifestantes como "um roubo" e o como o "símbolo da privatização".
Em Arapongas, na BR-369, concedida à Viapar, motoristas de carro de passeio, condutores de moto, caminhoneiros e passageiros de ônibus demostraram grande simpatia pelo ato, que liberou duas cancelas um em cada sentido para a passagem gratuita, quando normalmente os usuários pagam tarifas que vão de R$ 6,10 e R$ 31,20. A maioria buzinava, muitos aplaudiam.
Por questões de seguranças, as outras cancelas foram fechadas e isoladas.
A assessoria de imprensa do escritório paranaense da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias informou que a entidade, embora entenda o direito de manifestação, iria avaliar a situação ao final do sábado para se pronunciar a respeito. As concessionárias decidiram retirar os funcionários e a frota de apoio ao usuário das praças para evitar violência e depredação.
De acordo com Diego Moreira, da coordenação do MST, o movimento só começou. Ele explica que os integrantes estão discutindo um cronograma de ação. Uma coisa é certa: os protestos nas estradas e nas ruas vão continuar. "Estamos organizando uma sistemática de mobilização", afirmou.
Os líderes querem que a reforma agrária e o pedágio entrem na pauta dos protestos de rua. "A reforma agrária está parada no Brasil. São 200 mil pessoas acampadas à espera de um assentamento. E falta agilidade do processo, principalmente do Judiciário, normalmente ligado às oligarquias rurais", acusou Josmar Choptian, coordenador estadual da Contag.
O integrante da direção estadual do MST, Ramon Brizola, criticou duramente a cobrança dos pedágios no Paraná. "É um dos mais caros do Brasil, completamente fora da realidade do poder aquisitivo da população. Nós queremos que a sociedade cobre as autoridades e que imponha o fim dos pedágios. As estradas são públicas e devem continuar públicas", afirmou.
Enquanto os líderes discutem o que vão fazer para dar maior visibilidade aos protestos, os manifestantes tinham esperança que a mobilização vai ser capaz de mudar realmente a realidade. É o caso do boia-fria Adão Gonçalves Pereira, de 43 anos, que está acampado ao lado de outras 450 famílias na Fazenda Tapabuã, em Centenário do Sul. "Lá as pessoas dependem da cesta básica", conta Pereira, que é boia-fria e colhe laranja em outras fazendas. "Também queremos protestar como as pessoas estão fazendo nas grandes cidades. Só que nós temos liderança, somos organizados e temos um objetivo, que é a reforma agrária", avisa o sem-terra.