Indicativos de que a Secretaria de Segurança Pública pode optar pelo Imóvel Rio Iguaçu, em Quedas do Iguaçu, no Sudoeste do Estado, como próxima propriedade a ser desocupada, está fazendo aumentar o clima de tensão na área. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) do Paraná teria levado na semana passada assentados e outros trabalhadores, que fez aumentar para mais de três mil o número de pessoas no local, somando-se às cerca de 600 famílias que ocuparam as terras no dia 10.
Os sem-terra acreditam que a Secretaria pode ordenar o despejo porque o Imóvel Rio Iguaçu foi invadido como ‘‘resposta’’ imediata do MST aos despejos feitos na primeira semana deste mês no Noroeste do Estado. Além disso, o coordenador regional do movimento, Elemar Cezimbra, de Cantagalo (Centro-Oeste), anunciou que haverá resistência. Ele espera contar com sem-terra reassentados na região, onde nos últimos anos o Incra fez vários assentamentos. A única área ainda não legalizada na região é a denominada pelos sem-terra de ‘‘Cristópolis’’, no município de Ibema, ocupada no final dos anos 80, mas até hoje não transformada em assentamento.
O comandante do 6º BPM de Cascavel disse ontem que em Quedas do Iguaçu os sem-terra formaram uma ‘‘patrulha armada, com 21 elementos, que circula em um caminhão’’, e que a empresa dona das terras, a Araupel, teme que eles invistam contra sua sede, onde também estão suas indústrias de madeira e papel-cartão, a quatro quilômetros do núcleo central da invasão. Por isso, a empresa mandou funcionários demolirem duas pontes sobre riachos da área, para impedir o acesso à sede. A Polícia Militar mantém alguns homens, a distância, e os sem-terra não permitem que ‘‘estranhos’’ ao seu movimento passem de uma barreira que montaram da entrada da propriedade - de 5 mil hectares, a maior parte de reflorestamento.
Uma fonte da PM disse à Folha que seriam necessários ‘‘mais de dois mil homens’’ para retirar os sem-terra do Imóvel Rio Iguaçu’’, para que a operação não seja de risco e fracasse, por causa do grande número de invasores e de sua organização - principalmente com o apoio de assentados, já ‘‘experientes’’ em outras ações. Na ‘‘Cristópolis’’, a PM chegou a tentar, em 89, o despejo das cerca de 300 famílias que fizeram a invasão (o número hoje é muito inferior). A capacidade de resistência dos sem-terra foi subestimada, houve enfrentamento (baionetas e cassetetes contra foices e facões) e os invasores obrigaram o pequeno número de soldados a recuar, com alguns feridos.