MST invade Incra em Belém e toma diretor como refém
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quarta-feira, 29 de março de 2000
Por Carlos Mendes
Belém, 30 (AE) - Cerca de 450 agricultores sem-terra acampados há dois anos nas fazendas Bacuri e Quintino Lira, no Nordeste do Pará, invadiram e hoje cedo a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Belém. Eles mantém como refém o superintendente do órgão, Darwin Boerner, e avisam que só irão libertá-lo quando suas reivindicações forem atendidas.
Liderados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), os agricultores exigem a entrega dos títulos das duas áreas, créditos para plantio, habitação, saúde e educação, além da desapropriação da fazenda Taba, localizada em Mosqueiro, distrito da capital, reocupada hoje, pela quinta vez, por 180 famílias. O MST afirma que Darwin passou "um ano mentindo e enrolando" os acampados das duas fazendas com promessas de titulação e liberação de recursos.
Impedido de deixar o prédio do Incra, Boerner telefonou para o presidente do órgão, Francisco Orlando Muniz, e para o ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, pedindo orientação sobre como agir com os sem-terra. "Tenho orientação de meus superiores para não negociar com vocês enquanto as instalações do Incra não forem desocupadas", informou o superintendente ao coordenador estadual do MST, Raimundo Nonato Coelho de Souza.
No início da tarde, Boerner pediu a ajuda de quatro seguranças que prestam serviços ao Incra para que seu gabinete fosse desocupado. Houve um princípio de tumulto, mas os agricultores concordaram em deixar a sala. "Do Incra ele não sai enquanto não tivermos uma solução", prometeu Souza. Uma coluna de sem-terra fechou as entradas e saídas da sede do órgão. Várias barracas de lona e redes foram montadas no local.
"Nós queremos negociar com alguém de Brasília que tenha capacidade de vir a Belém para resolver o problema", disse Souza. Hoje pela manhã cerca de 240 homens da Polícia Militar foram mobilizados para retirar mais de duas mil famílias de agricultores, que ocupam cinco fazendas no sul do Pará. O alvo principal é a fazenda Cabaceiras, em Marabá, onde estão acampadas 1.300 famílias.
Tratores e caminhões foram colocados pelo MST nas entradas para fazenda para tentar impedir a ação da PM. O comando da PM também prepara nova operação militar para desocupação da fazenda Taba.