MST e polícia têm confronto em rodovia
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sexta-feira, 14 de abril de 2000
Agência Estado
De Salvador
Militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e policiais militares entraram em conflito, ontem, em Itabuna, a 439 quilômetros da capital baiana, após sete ônibus do movimento serem parados em uma barreira. No tumulto, os sem-terra jogaram pedra nos policiais que responderam atirando para o alto. Nove militantes do MST e dois estudantes espanhóis que visitam o assentamento dos sem-terra foram presos.
A confusão teve início quando sete ônibus que transportavam militantes do MST para os festejos dos 500 anos do Descobrimento, em Porto Seguro (BA), foram parados por patrulheiros rodoviários com apoio da PM, na BR-101, próximo à entrada de Itabuna. Segundo a polícia, a documentação dos veículos estava regular. Porém, ao pedirem as carteiras de identidade dos passageiros, descobriram os dois cidadãos espanhóis, com vistos de turistas. Ambos foram levados para a delegacia local e posteriormente à sede da Polícia Federal, em Ilhéus, para averiguação.
A medida revoltou os militantes que decidiram bloquear os acessos rodoviários de Itabuna. Os PMs investiram contra os trabalhadores rurais e foram recebidos a pedradas. Alguns soldados responderam da mesma forma, atirando pedras, outros dispararam suas armas para o alto provocando correria. Um grupo de 70 pessoas permaneceu na entrada de Itabuna, outros 200 se refugiaram na sede do MST no centro da cidade e cerca de 150 se dispersaram pelas ruas. Três soldados ficaram feridos no confronto; nove militantes foram presos e autuados por agressão.
Cercada na sede do MST de Itabuna, Rosa Oliveira, uma das lideranças estaduais do movimento, disse que os boatos de que o governo da Bahia tentaria impedir o acesso dos militantes de organizações populares a Porto Seguro, para as comemorações dos 500 anos, se concretizaram. Os policiais disseram ter recebido ordens para impedir nossa passagem, contou. Segundo ela, os militantes estão sendo pressionados a voltar para seus acampamentos e entregar sete líderes do MST à polícia. Nossos advogados estão tentando conseguir habeas-corpus para impedir uma invasão à sede do MST pelos policiais e garantir nosso livre acesso a Porto Seguro, disse.
Já o comandante da PM em Itabuna, tenente-coronel Gilberto Santana, negou a existência de qualquer determinação para bloquear o acesso do MST. A recomendação é para abordarmos os ônibus, devido ao grande número de autoridades que participarão da festa, disse. De acordo com o policial, os nove militantes do movimento foram presos porque agrediram os policiais.
O presidente de honra do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, classificou a repressão da Polícia Militar como a volta da ditadura na Bahia. Lula fez esta declaração no final da tarde, ao desembarcar em Salvador. O clima tenso criado em relação aos festejos em Porto Seguro está deixando o presidente de honra do PT temeroso. Ele já decidiu não comparecer às comemorações dos 500 anos do Descobrimento.