MST anuncia escola técnica na Mitacoré
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sábado, 22 de janeiro de 2000
Valmir Denardin
Enviado a São Miguel do Iguaçu
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) decidiu instalar na Fazenda Mitacoré, no Extremo-Oeste paranaense, a sua primeira escola técnica no Estado. A estrutura deverá atender prioritariamente filhos de assentados, acampados e de pequenos agricultores do Paraná.
A decisão foi tomada ontem, durante o 14º Encontro Estadual do MST, realizado na própria fazenda, localizada no município de São Miguel do Iguaçu (45 quilômetros a nordeste de Foz do Iguaçu). O encontro, bienal, reúne 1,5 mil representantes dos 252 assentamentos e 70 acampamentos em áreas invadidas no Estado. Roberto Baggio, coordenador estadual, e João Pedro Stedile, coordenador nacional do MST, participam do encontro.
O projeto definido ontem conflita com um movimento da elite regional que pretende implantar na Mitacoré a Universidade do Agricultor - um centro de tecnologia e pesquisa agrícola para o desenvolvimento de sementes, defensivos e técnicas de cultivo. Esse movimento reúne a maioria dos prefeitos, associações empresariais e sindicatos rurais patronais do Extremo-Oeste, além da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).
Esse projeto só beneficia os grandes produtores da região e não nos interessa, afirmou Baggio. Segundo ele, a escola formará técnicos agropecuários de nível médio, seguindo o modelo de uma instituição semelhante que o MST mantém em Veranópolis (RS) e já formou mais de 500 jovens de todo o País. Quando retornam para os assentamentos e acampamentos, os profissionais repassam as técnicas para melhorar a qualidade de vida do grupo.
Segundo José Damasceno de Oliveira, integrante da coordenação estadual, a escola vai utilizar a estrutura de armazéns e construções e os tratores, colheitadeiras e equipamentos agrícolas que pertenciam ao grupo Bamerindus, antigo proprietário da área. A meta é iniciar as aulas em, no máximo, três meses, e atender cerca de cem alunos.
Vamos produzir comida e não soja para a exportação, como defende o outro projeto, disse Oliveira. A Folha não conseguiu localizar no final da tarde de ontem nenhum líder do movimento da Universidade do Agricultor para repercutir a decisão do MST.
Com 1.098 hectares, a Fazenda Mitacoré pertencia ao Grupo Bamerindus e era considerada uma fazenda modelo na adoção de tecnologia agrícola, além de possuir um avançado núcleo de pesquisa, mantido por meio de convênios com instituições públicas e privadas. Em março de 1997, com a intervenção federal no Grupo Bamerindus, a área passou ao Banco Central.
Cinco meses depois, a fazenda foi invadida pelo MST. Atualmente, pertence à União e está em fase final no processo de transferência ao Incra para a reforma agrária. Não há prazo para a conclusão desse processo. Noventa e duas famílias de sem-terra vivem no local.