Duas servidoras de São Miguel do Iguaçu (Oeste) foram deslocadas de função por terem aplicado indevidamente vacinas contra Covid-19 em 31 pessoas que trabalham no Hospital Madre Dio, que é particular. Entre os funcionários do hospital que receberam as doses estão uma recepcionista, um controlador de acesso, um auxiliar de cozinha e zeladoras, funções que não pertencem ao público contemplado nessa fase por não estar na linha de frente.

A secretária de Saúde do município Clair de Lara Boles, afirmou que os 31 vacinados não estão na linha de frente.
A secretária de Saúde do município Clair de Lara Boles, afirmou que os 31 vacinados não estão na linha de frente. | Foto: Divulgação/Prefeitura de São Miguel do Iguaçu

Clair de Lara Boles, secretária de Saúde do município, afirmou que ficou sabendo no retorno da caixa com as doses de vacina e ao comparar com as listas de conferência havia nomes que não estavam na relação dos profissionais que teriam direito à imunização. Como parte do protocolo, a secretaria enviou a 9ª Regional de Saúde de Foz do Iguaçu uma lista de todas as pessoas que se enquadram no grupo inicial. As unidades que atuam na área de saúde no setor privado também seguiram o mesmo protocolo, enviando a lista também para o município.

Ocorre que, quando a equipe de imunização da secretaria de Saúde foi até uma dessas unidades privadas realizar a imunização, alguns funcionários que não atuam na linha de frente se apresentaram e acabaram sendo vacinados.

Questionada se as servidoras não tinham recebido treinamento ou se não tinham sido informadas sobre a necessidade da vacinação do público prioritário, ela ressaltou que as duas receberam treinamento. “E no momento em que foram entregues as vacinas essa recomendação foi repetida, para que ninguém fosse beneficiado indevidamente, fossem eles parentes ou amigos”, declarou.

Confrontada sobre a falha no processo, ela disse que ainda não houve depoimento delas no processo administrativo, mas em conversa informal as servidoras teriam dito que foram aplicadas as doses da vacina conforme as pessoas foram adentrando no recinto. “Nós fornecemos as vacinadoras. O controle é da própria administração da entidade. Pelo fato de trabalharem em uma entidade de saúde deveriam saber quem é linha de frente e quem não é”, argumentou.

Assim que a lista de imunizados foi apresentada na secretaria de Saúde e a divergência nos nomes constatada, a secretaria municipal imediatamente acionou a 9ª Regional de Saúde e também o Ministério Público do Paraná e denunciou o ocorrido.

Ela ressaltou que o processo administrativo depende do jurídico da prefeitura. “Formou-se uma comissão e as duas serão ouvidas. Elas farão a defesa e serão julgadas. Não posso dizer se leva 15 ou 30 dias ou seis meses”, apontou.

Ela explicou que até serem julgadas, as duas servidoras permanecerão no Centro de Saúde, mas foram deslocadas de função e permanecem como enfermeiras. “Não estarão mais entre as aplicadoras da vacina.”

Questionada se haverá punição às 31 pessoas que receberam a dose, como o encaminhamento deles para o fim do processo de vacinação da segunda dose, ela disse que não pode afirmar isso. “O MPPR não proibiu e a 9ª Regional também não proibiu que aplicássemos a segunda dose neles. Se eles não forem imunizados, jogaremos as 31 doses de vacina fora. Eles receberão a segunda dose no momento em que receberiam a primeira dose para a gente não desperdiçar doses de vacina. Cabe ao Ministério Público aplicar a pena a eles por furarem a fila”, declarou a secretária.

Ao ser inquirida se houve mudança no protocolo de segurança para evitar episódios semelhantes, ela refutou qualquer possibilidade de mudança. “Depois disso, o protocolo é o mesmo. Elas estavam seguindo o protocolo. Nos outros locais todas as vacinas estão sendo aplicadas da mesma forma. Esperamos que ninguém mais erre. Não vamos mudar o protocolo. Não sei o que aconteceu com elas, se foi um ato consciente ou foi falta de atenção”, declarou.

"Não concordamos com o ocorrido, por isso, a abertura do Processo Administrativo e a denúncia junto ao Ministério Público’, destacou a secretária de Saúde, Clair de Lara Boles, que destacou ainda que apesar de as pessoas vacinadas trabalharem na saúde, ‘agora o momento é a linha de frente".

O promotor Pedro Wanderley, responsável pela investigação, afirmou que foi instaurada na 2ª Promotoria de Justiça de São Miguel do Iguaçu o procedimento administrativo destinado a acompanhar a aplicação das vacinas dos municípios que integram a comarca. “Neste procedimento administrativo está sendo apurada a notícia do fato trazido pela prefeitura de São Miguel do Iguaçu de que em um hospital privado da região não foi observada a listagem dos profissionais do grupo prioritário que receberiam a vacina neste primeiro momento”, declarou.

Segundo ele, esse procedimento ainda está em fase preliminar e dependendo do que restar apurado serão adotadas providências no sentido de instauração do inquérito policial quanto em relação a possível ato de improbidade administrativa em relação a servidores e particulares que tenham se beneficiado dessa inobservância da ordem prioritária de vacinação. “E dependendo do que restar constatado serão adotadas medidas de prevenção em relação aos municípios no sentido de que isso não mais se repita e que, a partir deste momento, seja feita uma criteriosa e rigorosa fiscalização no município no momento da aplicação das vacinas”, pontuou.

A direção do Hospital Madre de Dio informa que está abrindo uma apuração interna para averiguar a denúncia citada pela reportagem e que até o momento não foi notificada pelo Ministério Público. Sobre a declaração da secretária de saúde de que era o hospital que seria o responsável pelo controle na entrada da sala de vacinação, a instituição irá apurar a veracidade disso.