Uma operação conjunta entre o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e a Promotoria de Defesa da Saúde Pública apura supostas irregularidades nas clínicas Psiquiátrica Londrina e Vila Normandia, que funcionam na zona oeste de Londrina. Durante a manhã, promotores, policiais militares, bombeiros e representantes da vigilância sanitária foram até a clínica para verificar documentos e as condições de prestação dos serviços.

De acordo com os promotores, seis mandados de busca e apreensão foram cumpridos em imóveis relacionados às clínicas e também na residência dos proprietários, Paulo Fernando de Moraes Nicolau e Maria Lúcia Silvestre, na área central. As medidas foram autorizadas pelo juiz da 5ª Vara Criminal de Londrina, Paulo Roldão. Dois mandados de medidas cautelares também foram expedidos e o casal foi afastado do comando das clínicas, proibido de se aproximar do local e de manter contato com funcionários e pacientes. Vinte e quatro armas foram apreendidas durante a operação.

Conforme o promotor do Gaeco, Leandro Antunes, a operação, denominada Hipócrates, investiga a falsificação de documentos e de prontuários médicos e suposto estelionato contra o SUS (Sistema Único de Saúde). "Nós estamos apurando se ocorreram alterações em prontuários de informações importantes que deveriam constar nesses documentos referentes a pacientes internados. Também estamos apurando eventuais manobras da clínica com o intuito de postergar internações e, com isso, receber valores indevidos do SUS", explicou.

Foram apreendidos computadores, pen drives, 50 prontuários médicos, documentos e equipamentos de informática. Segundo o promotor de Defesa da Saúde Pública Paulo Tavares, as suspeitas de ilegalidades foram denunciadas por ex-funcionários no segundo semestre do ano passado. "Os médicos ficaram indignados quando descobriram que os carimbos estavam sendo usados por outros profissionais da clínica sem que esses médicos soubessem dessa situação", relatou.

Além de estelionato e de falsidade ideológica com a adulteração de prontuários, o MP investiga maus-tratos e cárcere privado. "Encontramos pacientes contidos, amarrados em macas e poltronas."

Além do prejuízo ao SUS com a internação prolongada de pacientes, o MP apura agressões e fugas que não seriam registradas em prontuários. As clínicas, que atendem 260 pacientes, são referências regionais. Somente a Clínica Psiquiátrica Londrina chegava a receber um teto de R$ 575 mil por mês pelo convênio do município com o SUS.

Tavares disse ainda que as clínicas costumam ser fiscalizadas semanalmente pelo município e que elas são previamente avisadas. "Como eles sabiam previamente da fiscalização, foi mais um motivo para fazer a investigação", declarou.

A secretaria de Saúde alegou, por meio da assessoria de imprensa, que as auditorias são feitas por enfermeiros concursados e que é difícil identificar tal tipo de falsificação em fiscalizações rotineiras. Segundo a pasta, as fiscalizações surpresa são feitas pela vigilância sanitária. As auditorias da prefeitura são fixas, com dias agendados.

Nicolau e Silvestre, além de outros profissionais, já tinham sido denunciados em 2010 pela morte de um paciente e responderam a uma ação civil pública por precariedade da clínica em questões de vigilância sanitária e condições desumanas, segundo Tavares. "Com a ação isso melhorou muito, com exceção da contratação de pessoal, que ele reverteu isso na Justiça. Na alimentação tivemos alguns avanço", declarou.

Procurados pela imprensa, os advogados do casal decidiram não se manifestar.