Movimento Outros 500 faz amanhã duas manifestações contra exclusão social
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quinta-feira, 20 de abril de 2000
Por Roldão Arruda
Porto Seguro, BA, 21 (AE) - O Movimento Outros 500, formado por representantes de movimentos de índios, negros, trabalhadores sem-terra e estudantes, vai realizar fazer amanhã (22) duas manifestações contra a exclusão social na região histórica de Porto Seguro. O ato, que será realizado paralelamente às comemorações oficiais do Descobrimento, terá o apoio do Partido dos Trabalhadores (PT), de organizações sindicais e de setores da Igreja Católica, especialmente das comissões pastorais da terra e dos indígenas.
O presidente do PT, José Dirceu, e a senadora Marina Silva, do mesmo partido, participaram hoje da reunião na qual os dois atos foram oficialmente anunciados para a imprensa. A senadora disse que três milhões de índios foram mortos durante a colonização do País, ao mesmo tempo que três milhões de negros foram escravizados. "O País ainda não reparou as injustiças históricas cometidas contra os negros, índios e outros excluídos", afirmou.
Hoje estava sendo vendida entre os interessados em participar das manifestações uma camiseta vermelha com a frase: "Quem disse que fomos descobertos? É ruim, hein?
A primeira manifestação será pela manhã, no sítio histórico de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, a 22 quilômetros de Porto Seguro. Naquele local, famoso por ter sido celebrada ali a primeira missa em solo brasileiro, o governo acaba de investir R$ 13 milhões em obras. Desse total, R$ 536 mil foram gastos com a cruz de metal projetada pelo artista plástico Mário Cravo e fincada no centro de uma grande praça. O monumento desagradou os índios da região, que tentaram erguer um monumento ao lado. Antes que fosse concluído, porém, a Polícia Militar o derrubou. Amanhã (22) o Movimento Outros 500 promete ocupar o local nas primeiras horas do dia.
De Coroa Vermelha, os manifestantes deverão seguir para Porto Seguro, o centro das comemorações oficiais. Eles programaram uma concentração na entrada da cidade, na Praça Pitangueiras, às 17 horas.
A reunião para anunciar as duas manifestações foi feita num acampamento controlado pelo movimento negro, nas proximidades de Coroa Vermelha, chamado Quilombo. Todo o encontro foi conduzido por líderes negros, que, como todos os outros participantes, criticaram duramente as celebrações oficiais. "Chamar essa sujeira de festa é ferir a nossa dignidade", disse Maria de Lurdes Nunes, representante do movimento de agentes pastorais negros.
Intimidação - Durante o encontro os participantes também acusaram o governo de tentar intimidá-los com ações policiais. Várias delegações relataram que passaram por revistas rigorosas durante a viagem até Porto Seguro. Danilo Cerqueira César, estudante do curso de economia da Universidade de São Paulo (USP), disse que os dois ônibus da comitiva estudantil paulista foram parados nove vezes na estrada. "No total gastamos 35 horas para chegar até aqui, em vez das 24 que havíamos previsto", disse ele.
Valdivio Pinto de Sá, do curso de filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBa) contou que a polícia também recolheu faixas de protesto, cartazes e panfletos que eram transportados por estudantes de Salvador.
O vice-prefeito de Porto Seguro, Aziz Ramos, do Partido Socialista Brasileiro (PSB) também irá participar do ato. Ele rompeu com o prefeito Ubaldino Júnior, que também era do PSB e hoje faz parte dos quadros do PFL. Durante a entrevista coletiva
ele afirmou que o prefeito está utilizando politicamente a festa do descobrimento. "Distribuiu centenas de convites para o show que se apresentado amanhã à noite entre os vereadores que o apoiam e pré-candidatos às próximas eleições."