Motoristas do transporte coletivo de Londrina poderão cruzar os braços partir desta terça-feira (8). Reunida em assembleia ao longo desta quarta (2), a categoria decidiu aprovar um indicativo de greve para pressionar as empresas que operam o serviço a renovar a Convenção Coletiva de Trabalho. Por conta do feriado de Corpus Christi, as companhias devem ser notificadas apenas nesta sexta-feira (4). Em seguida, um prazo de 72 horas precisa ser respeitado para o início da paralisação, que poderá ocorrer no dia seguinte ao pagamento dos salários, que deve ocorrer na segunda-feira (7).

Imagem ilustrativa da imagem Motoristas do transporte coletivo aprovam greve com início na próxima semana
| Foto: Gustavo Carneiro

Em abril, os motoristas pararam por cinco dias após atrasos nos pagamentos nos salários de março. O prefeito Marcelo Belinati declarou nesta quarta que a solução para o equilíbrio do sistema é a adoção de soluções técnicas, como adequação do número de veículos rodando de acordo com a demanda de passageiros. No momento, porém, descarta a concessão de subsídio às empresas.

O indicativo de greve foi aprovado por 534 votos favoráveis e apenas 22 contrários. A proposta de greve é endossada pela diretoria do Sinttrol (Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário de Londrina). A apuração dos votos foi acompanhada de perto por representantes da Londrisul e da TCGL (Transportes Coletivos Grande Londrina), além de uma servidora da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização).

"Mostra a força e a união dos trabalhadores”, disse o presidente do Sinttrol, José Falleiros. De acordo com ele, a categoria quer a renovação do acordo coletivo e não aceita abrir mão do recebimento dos valores referentes ao PPR (Programa de Participação nos Resultados) do ano passado.

“Nós, entendendo o momento, levaríamos para a categoria até uma posição de não ter reajuste de salário, mas com uma recomposição de algum valor no tíquete, para não perder tudo. Isso o sindicato teve coragem de propor, mas as empresas e o poder público, infelizmente, querem o retrocesso”, afirmou.

Questionado se haverá a manutenção do serviço com parte da frota, Falleiros esclareceu que isso ainda não está em discussão. No entanto, afirmou que o sindicato já recebeu ofícios de instituições de saúde, como o Hospital Evangélico, além de um pedido da própria promotora da Saúde, Susana de Lacerda, para que a categoria esteja ciente dos prejuízos que podem ser gerados à população que depende do transporte coletivo para receber o atendimento ou trabalhar.

“Eu disse para ela que a categoria tem essa consciência. Pedimos uma mediação do Ministério Público para tratar dos assuntos relacionados à negociação e os serviços essenciais. Mas não é o momento, eu não tenho deliberação até porque nós não sabemos se vai haver a greve ou não”, destacou, passando a responsabilidade sobre a greve para as empresas.

A reportagem procurou as empresas do transporte coletivo e a CMTU, que preferiram não comentar o resultado da assembleia.

Motorista há 19 anos na TCGL, José de Souza disse que seria possível abrir mão do reajuste salarial neste momento, diante da situação econômica desfavorável causada pela queda no movimento de passageiros. Entretanto, faz questão que a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho aconteça. “Se não fica ruim para trabalhar assim”, disse.

Souza disse que também compreende o lado das empresas em relação ao aumento do preço do diesel e demais insumos. No entanto, ressaltou que a vida dos trabalhadores tem se tornado difícil com o encarecimento do custo de vida. “Menos poder de compra, os impostos aumentando muito, tipo o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), e foi tirando o poder de compra não só dos motoristas, mas de Londrina inteira”, lamentou.

USUÁRIOS

Mesmo tendo passado pouco tempo desde a última paralisação no serviço, alguns usuários do transporte coletivo que passavam pelo Terminal Central foram pegos de surpresa com a notícia.

Moradora do Conjunto Vista Bela (zona norte), a diarista Sandra Pereira Rocha contou que já vem utilizando paralelamente ao ônibus aplicativos de caronas pagas para chegar ao trabalho por conta da pandemia da Covid-19. Ela avaliou que o preço da viagem não se torna tão caro quando consegue dividir o carro com outra pessoa.

“A gente não pode ver só um lado, são os dois lados. Prejudica um pouco, mas eles dependem disso. Eu trabalho por dia e vou de Uber quando acontece isso. Quando eu compartilho com alguém fica quase a mesma coisa. Às vezes até compensa porque são duas pessoas só, é mais confortável”, avaliou.

Já o restaurador de relógios Guilherme Tassoni Filho não possui essa opção. Morador do Jardim Pacaembu (zona norte), utiliza o ônibus duas vezes por dia para ir ao trabalho, no centro. “Impraticável”, considerou. Questionado, avaliou que os principais culpados pela situação são as empresas do transporte.

“O que não dá pra entender é por que a empresa está sempre dando problema para os motoristas. Se pagar certinho, eu acredito que eles não estejam pedindo nada que não seja deles, é só a empresa andar certo que não acontece isso. As empresas são grandes, têm os recursos delas, não querem investir”, avaliou.

A recepcionista Mariane Dias também foi compreensiva com a situação. "Todos têm que lutar pelo que é seu. Se eles não chegarem a um acordo é o único jeito”, afirmou.