Mortos, feridos e dezenas de detidos após anúncio de estado de sítio na Bolívia
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sexta-feira, 07 de abril de 2000
La Paz, 08 (AE-AP) - Dois camponeses morreram, três ficaram feridos e dezenas de dirigentes sindicais e cívicos foram detidos neste sábado (08) em uma inóspita região amazônica horas depois de o governo decretar estado de sítio.
Apesar da enérgica medida oficial, houve novos conflitos em Cochabamba, onde começaram há uma semana os protestos que precipitaram o estado de sítio.
O presidente Hugo Bánzer decretou hoje estado de sítio na Bolívia para "restaurar a ordem" no país, agitado por uma onda de protestos de cunho social, agravada por uma greve de policiais, anunciou o ministro da Informação, Ronald MacLean. "A ordem é evitar que o caos se instaure no país."
A decisão foi aprovada no fim da noite de sexta-feira, durante reunião de emergência do gabinete, presidida por Bánzer. Os protestos contra a crise econômica, o desemprego e os baixos salários ganharam corpo durante a semana em vários pontos do país.
Na capital, policiais rebelaram-se contra seus superiores, exigindo reajustes de 150% em seus soldos. Quinze mulheres de policiais e um menino de 12 anos, liderados pela sargento Rossmary Corrales, iniciaram uma greve de fome na sede da Central Operária Boliviana.
Unidades do Grupo Especial de Segurança (GES) receberam ordens para desalojá-las e interromper o movimento. Mas recusaram-se terminantemente a cumpri-las. "Não podemos atacar nossas próprias famílias", justificou o líder da rebelião - não identificado pelo repórter da Rádio Fides que o entrevistou.
O comandante dos GES, coronel Roberto Pérez, rumou imediatamente para o palácio presidencial, onde era aguardado por Bánzer.
As grevistas foram desalojadas mais tarde, provavelmente por homens da Polícia Judiciária (que não aderiram à rebelião), mas prosseguiram o protesto na sede do sindicato dos jornalistas, na capital.
Numa ação simultânea, as forças de segurança leais ao governo prenderam pelo menos dez sindicalistas e líderes comunitários na cidade de Cochabamba que, nas últimas semanas, promoveram uma série de violentas manifestações contra a implantação de um projeto de fornecimento de água potável, temendo a possibilidade de aumento nas tarifas.
Segundo a Rádio Fides, Bánzer ordenou uma "vasta mobilização militar" para desobstruir cinco das nove principais rodovias do país, bloqueadas por camponeses que protestam contra a falta de uma política agrícola justa.
O presidente da Assembléia de Direitos Humanos, Waldo Albarracin, disse não ver motivos suficientes para a adoção de medidas de exceção. "Esperamos que a situação não desemboque em atropelos aos direitos humanos."
Segundo a Constituição boliviana, o estado de sítio, decretado pelo governo, tem necessariamente de ser validado pelo Parlamento, onde Bánzer dispõe de maioria.