As forças policiais foram responsáveis por 50 mortes em Londrina em 2022, quase 10% de todas as situações envolvendo a polícia em supostos confrontos no Paraná, aponta o balanço semestral feito pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e divulgado nesta quinta-feira (2). De acordo com o levantamento, ocorreram 488 óbitos nestas situações em todo o Paraná no ano passado, um aumento de 17,3% em relação aos registros de 2021.

De acordo com o balanço, a maioria das mortes ocorreu em Curitiba (121), em Londrina, com os 50 registros, e Foz do Iguaçu (22). Juntas, as três cidades somam quase 39% dos óbitos em situações semelhantes. O restante das mortes de civis em supostos confrontos se espalham por outros 102 municípios. Em Londrina, a letalidade policial cresceu 56% em 2022 em comparação com 2021 quando foram computadas 32 mortes em situações semelhantes no município.

São contabilizadas para o levantamento as ocorrências com policiais civis e militares e guardas municipais. A maior parte dos registros vem de confrontos com policiais militares: 483 (75 mortes a mais do que o registrado em 2021). Também houve dois casos envolvendo policial civil (um em Guaíra e outro em Quitandinha) e três com guardas municipais (dois em Curitiba e um em Araucária). Não há registros de confrontos envolvendo a Guarda Municipal de Londrina em 2022.

Além disso, o levantamento indica que as regiões metropolitanas são onde mais ocorrem esse tipo de situação: dos dez municípios que concentram o maior número de mortes em confrontos com a polícia, cinco são da Região Metropolitana de Curitiba (Curitiba, São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande, Piraquara e Campo Largo) e dois da Região Metropolitana de Londrina (Londrina e Cambé com 15 mortes).

O coordenador do Gaeco no Paraná, o procurador Leonir Batisti, diz que a Ministério Público está em constante contato com as forças de segurança do Estado com objetivo de reduzir esse números. "O aumento é expressivo e é objeto de preocupação. Estamos fazendo apurações, que invariavelmente demoram. Além disso, estamos atuando aqui em Curitiba com a presença de um promotor do Ministério Público na cena (após confronto)."

O Gaeco junto com outros órgãos também busca assegurar a correta apuração das mortes de civis em confrontos com policiais e guardas municipais. "A Policia Militar se mostra sempre colaborativa na redução desses números. Ocorre que há outros fatores que influenciam nisso. A corporação também mostra que muitas vezes as facções criminosas estão cada dia mais dispostas a enfrentarem as polícias. Neste caso, entra na questão pontual que pode gerar legítima defesa por situação iminente", pontua Batisti.

CÂMERAS NAS FARDAS

O procurador de Justiça foi questionado em coletiva de imprensa sobre o uso de câmeras frontais, conhecidas com bodycams, pela Polícia Militar do Paraná. A utilização já foi alvo de recomendação do Ministério Pública, mas a ferramenta ainda não foi implantada pela Sesp (Secretaria da Segurança Pública do Paraná). "Tem vários estudos que apontam que o uso da ferramenta pode ajuda na redução do número de mortes. Levamos ao governador (Ratinho Junior) a necessidade que os veículos (viaturas) também tenham instrumentos de geolocalização. São instrumentos que servem de apuração de como os fatos aconteceram."

Segundo ele, o pedido do uso do equipamento foi reforçado recentemente pelo Gaeco em reunião com o comando-geral da PM do Paraná. "O que nós verificamos que é do interesse do próprio policial contra mentiras que também são denunciadas contra o policial. Nas outras hipóteses, existe o interesse do sistema legal que as forças de segurança ajam com firmeza, mas orientadas pelos limites impostos pela própria lei."

RECORTE

Nos confrontos com policiais militares no Estado, 247 vítimas eram pardas (51%), 33 negras (7%) e 203 brancas (42%). Em relação à faixa etária, 287 vítimas em confrontos com policiais militares tinham entre 18 e 29 anos (59,42%) ; 166 tinham idade entre 30 e 59 anos (34,37%) e 30 tinham entre 13 e 17 anos (6,21%).

OUTRO LADO

Em nota, a Sesp informa que o confronto, sempre que possível, é evitado. "As forças de segurança têm treinamentos para atuar em situações de conflito e reveem constantemente os protocolos operacionais. Ressalta-se que as ações são acompanhadas pelas Corregedorias das forças de segurança e órgãos de controle externo relacionados aos Direitos Humanos, ONGs e Ministério Público." Sobre o uso das câmeras, o governo do Paraná informou que o processo de aquisição está em andamento, mas não divulgou detalhes da licitação e nem uma data prevista para o início do uso da ferramenta em campo pela Polícia Militar.