A presença confirmada do médico neurologista e doutor em Ciências Médicas, Clay Brites, no 1º Primeiro Congresso Nacional da Faculdade CEAM com o tema: ”Transtorno do Desenvolvimento: Um olhar multidisciplinar para o desenvolvimento”, era um dos atrativos para profissionais de saúde e educação, agendado para os dias 27 e 28 de maio, no Recife (PE). Esse era um dos compromissos da agenda do médico que faleceu sábado (11) em Londrina, vítima de mal súbito, aos 49 anos.

O neurologista infantil Clay Brites  faleceu no sábado (11),  enquanto fazia uma trilha de bicicleta.
O neurologista infantil Clay Brites faleceu no sábado (11), enquanto fazia uma trilha de bicicleta. | Foto: Divulgacão/Instagram

Desde o anúncio da confirmação da morte pela família, são inúmeras as manifestações de pesar, assim como o respeito pelo médico, referência no diagnóstico e abordagem terapêutica de TDAH, TOD e autismo e nomenclaturas associadas ao transtorno intelectual. Profissionais da saúde, educação, colegas da área, amigos e familiares de pacientes expuseram o sentimento de perda, mas também o reconhecimento pelo trabalho e dedicação de Brites, pois sua sensibilidade em lidar com os pacientes e seus familiares era diferenciada.

Consultas sem pressa, didáticas e com a missão do melhor atendimento eram qualidades do médico. Mãe atípica de uma criança de 11 anos com deficiência, Juliana Flores mora em Londrina e lamenta a perda precoce do médico. "Sempre que me pediam uma indicação médica nessa área, eu pensava no Clay porque ele tinha muita experiência e o seu trabalho junto com sua esposa no Instituto Saber era reconhecido nacional e internacionalmente", comenta.

Flores pontua que nessa área, como em muitas da saúde, o fator tempo no tratamento é determinante. "Sabemos que transtornos como o espectro de autismo, autismo, transtorno opositor desafiador e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade exigem muito estudo e, além da habilidade em realizar um diagnóstico preciso, ele tornou-se uma grande referência na área da abordagem terapêutica e na estimulação de uma terapia precoce".

Levar conhecimento a mais educadores e familiares

Em meio a tantas emoções e tomada de decisões necessárias, a viúva de Brites, a pedagoga e doutoranda em Distúrbios do Desenvolvimento, Luciana Bites, falou sobre o ânimo em manter o sonho do casal, que é o de manter o Instituto Neurosaber ativo e em dia com o seu maior propósito, o de difundir o conhecimento sobre o desenvolvimento intelectual.

Luciana é natural de São Paulo, capital. Clay, nasceu em Santo André, ABC Paulista. "Nós nos conhecemos em 1992 na UEL, passamos a namorar e lá se foram 30 anos", diz. E o interesse em estudar a neurodiversidade também fortaleceu a parceria do casal. A pedagoga explica que o Instituto foi criado em 2014. "Explicar para as crianças e seus familiares sobre os distúrbios com uma linguagem simples e promover a inclusão". Levar o conhecimento a educadores e pais e a sociedade de um modo geral vai ao encontro de dar suporte às pessoas portadoras de algum transtorno intelectual. "Para que essas crianças tenham mais qualidade no aprendizado e também pensando em em sua saúde mental como um todo", reflete. Por essas crianças, vamos dar continuidade a esse sonho.

Sobre o hábito de pedalar, a viúva relatou que Clay já havia participado com essa turma de amigos de passeios. "Umas três vezes. Com mais frequência ele dava voltas em torno do Lago e gostava muito da bicicleta, essa foi a maneira que encontrou para ter mais equilíbrio e fazer uma atividade física". Com o olhar no horizonte, divide uma informação: "Ele deixou um artigo pronto que escreveu com nossa filha Heloisa, que estuda Medicina. Será publicado em uma revista científica internacional, como era hábito dele, pois era algo que de que gostava muito: escrever sobre os temas relacionados a sua especialidade".

Livro do médico virou best seller

Coautor ao lado da pedagoga esposa Luciana Brites dos livros “Do que realmente seu filho precisa”, “Mentes Únicas”, este best-seller, e “Crianças Desafiadoras” (Editora Gente), em recente entrevista à Rádio EBC, Brites apresentou dados de pesquisas mostrando que os pais de crianças com TDAH têm maior nível de estresse do que os pais de crianças com asma. Ele explica que isso acontece porque é muito comum que as crianças com a síndrome sofram, por exemplo, mais acidentes, além de enfrentarem dificuldades no aprendizado, muitas vezes acarretando em reprovações na escola.

Clay Brites trabalhava no Instituto Neurosaber lado a lado com Luciana Brites, era membro da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). Seu singular serviço prestado na Apae de Arapongas foi lembrado na data de seu falecimento com uma singela homenagem, assim como de dezenas de clínicas, grupos de estudo de autismo, médicos e entidades, que destacaram sua importância.

Segundo informações, o médico chegou a ser socorrido após passar mal durante a trilha de bicicleta e foi encaminhado ao Hospital Evangélico. Na instituição, recebeu o diagnóstico de parada cardíaca e, apesar do atendimento, não resistiu. Clay Brites deixa a esposa, a pedagoga Luciana Brites e três filhos: Heloisa, de 23 anos, Gustavo de 20 e o caçula Maurício, de14.

Médico graduado pela Universidade Estadual de Londrina em 1998, atendia em seus consultórios em São Paulo, Londrina e realizava palestras por todo o País. O velório de Brites vai acontecer nesta segunda-feira (13), a partir das 8h, na Capela 1 do Parque das Oliveiras. O agendamento se deu em razão de o filho do meio, Gustavo, estudar no Canadá e sua chegada é aguardada para a cerimônia de despedida. O sepultamento está marcado para as 13h do mesmo dia no Cemitério São Paulo.

Por meio de nota, a Associação Médica de Londrina declarou: "A Associação Médica de Londrina se solidariza com familiares e pacientes que eram atendidos pelo Dr. Clay Brites. É uma perda precoce na Medicina londrinense".

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