Morreram mais integrantes de culto em Uganda do que em Jonestown
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quinta-feira, 30 de março de 2000
Kampala, 31 (AE-AP) - O número de seguidores de um culto apocalíptico mortos em montanhas do sudoeste de Uganda ultrapassou hoje (31) ao do massacre de 1978 em Jonestown, Guiana, depois de a polícia ter revisto a contagem para muito mais, para 924.
As buscas ainda não haviam sido oficialmente encerradas hoje, apesar de não ter ficado claro para onde a polícia iria a seguir.
O número subiu depois que a polícia reviu o total dos mortos na capela em 17 de março que precipitou as investigações das atividades do culto Movimento para a Restauração dos Dez Mandamentos de Deus.
Autoridades inicialmente divulgaram que pelo menos 330 corpos haviam sido encontrados carbonizados dentro das ruínas da capela num complexo da seita em Kanunga. Hoje, elas afirmaram que 530 pessoas pereceram no que acredita-se tenha sido um suicídio em massa. As portas do templo teriam sido fechadas, gasolina espalhada no seu interior, e tudo transformado num inferno.
Os corpos ficaram tão carbonizados, e vários deles foram encontrados tão entrelaçados - sugerindo que as pessoas se abraçaram intensamente diante das chamas - que num primeiro momento foi impossível determinar com precisão o número de mortos.
Buscas posteriores em quatro complexos da seita em vilas montanhosas revelaram valas comuns com vítimas aparentemente mortas depois que não se concretizou a previsão dos líderes do culto de que o mundo acabaria em 31 de dezembro.
Algumas das vítimas parecem ter sido esfaqueadas ou estranguladas; centenas eram crianças.
O número do que seria um dos maiores assassinatos em massa da história recente ultrapassou o da tragédia do Templo do Povo em novembro de 1978.
O suicídio e assassinato em massa em Jonestown deixaram 913 mortos nas selvas da Guiana, incluindo o congressita americano Leo Ryan, joornalistas e um punhado de desertores assassinados a tiros quando tentavam entrar num avião para fugir da floresta. Também estava entre os mortos o "reverendo" Jim Jones, o líder do Templo de Deus.
A polícia de Uganda está buscando uma ordem de prisão internacional contra Joseph Kibwetere, Credonia Mwerinde e três outros supostos líderes do culto. Não está claro se algum deles escapou das valas comum ou do inferno na capela.
A polícia pretendia hoje vasculhar um quinto complexo do Movimento pela Restauração dos Dez Mandamentos de Deus, numa floresta tropical ao longo da fronteira com o Congo. Mas a polícia desistiu do plano por não dispor de equipamentos adequados para chegar à região, segundo o porta-voz policial Eric Maigambi.
Não ficou claro se a busca será realizada em outra data.
