Rio, 17 (AE) - O cientista Carlos Chagas Filho será enterrado no fim da tarde de hoje, no cemitério São João Batista
na zona sul do Rio. Ele morreu ontem (16), aos 89 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos, dois meses após ter sido internado com uma pneumonia. Mesmo em cadeira de rodas, o cientista frequentou o Instituto de Biofísica, que fundou e leva seu nome, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e a Academia Brasileira de Letras, da qual era integrante, até meados do ano passado.
Carlos Chagas Filho era um cientista sui generis. Filho do descobridor da doença de Chagas, de quem herdou o nome, dizia que se tornar cientista não foi uma escolha, mas um caminho natural, já que sua família era toda ligada à área. Seu pai era amigo de Albert Einstein e Oswaldo Cruz e seu irmão, Evandro Chagas, dera continuidade ao trabalho do pai, mas morreu em um acidente aéreo aos 35 anos, na década de 30. "Foi a maior perda da minha vida", dizia.
Católico praticante, foi presidente da Academia Pontifícia de Ciência do Vaticano e conduziu o processo que reabilitou o astrônomo Galileu Galilei (obrigado pela Santa Inquisição a renegar suas descobertas, no século 17) e o que determinou a idade do tecido tido como o Santo Sudário (era do século 7). Foi também representante do Brasil na Unesco e um dos principais interlocutores dos papas Paulo VI e João Paulo II.
Seu último trabalho foi a autobiografia, à qual deu o título de Um Aprendiz de Ciência. Teve tempo de terminá-la, mas não de vê-la publicada. Seu amor à arte o fez amigo de poetas como Manoel Bandeira, que escreveu um poema para cada uma de suas quatro filhas, dos pintores Cândido Portinari e Di Cavalcanti e do compositor Braguinha. "Para mim, a melhor música do mundo é a marchinha de carnaval "As Pastorinhas" (de Noel Rosa e Braguinha) costumava dizer. "Todos os dias, depois de minhas orações e antes de dormir, gosto de cantá-la."