Uma das referências no comércio de jornais e revistas de Londrina, Carlos Alberto de Souza Pinto, de 52 anos, morreu na terça-feira (18) decorrente de problemas hepáticos. Carlão, como era conhecido, residia em Londrina desde 1987 e desde 1993 estava no mesmo ponto, na banca Rodeio, localizada na esquina da rua João Cândido com a alameda Miguel Blasi, um dos pontos mais movimentados da cidade.

Carlão  residia em Londrina desde 1987 e desde 1993 estava no mesmo ponto, na banca Rodeio
Carlão residia em Londrina desde 1987 e desde 1993 estava no mesmo ponto, na banca Rodeio | Foto: Marcos Zanutto/19-5-2017

Natural do Rio de Janeiro, o carioca de Botafogo era um flamenguista inveterado e vinha de uma família ligada às bancas de jornais e à distribuição de revistas. Tempos atrás a família tinha outra banca no Calçadão e uma distribuidora de revistas na rua Mato Grosso. Sua primeira atividade na cidade foi ajudar em uma banca do tio, na antiga rodoviária de Londrina. Sua companheira, Samanta Bonavigo, relata que eles estavam casados há três anos, e afirmou que Carlão era uma pessoa rara.

“Uma pessoa maravilhosa e um exemplo de otimismo, de gentileza e de tenacidade. Era um amor, uma pessoa do bem, alguém que queria o bem de todo mundo e torcia por todos gratuitamente”, declarou.

PESSOA ACESSÍVEL

Ela ressaltou que Carlos nunca arrumou briga com ninguém. “Ele sempre se manteve uma pessoa muito acessível”, destacou. Bonavivo enfatizou que ele também foi uma figura de resistência quando houve a reforma do Calçadão e todos os quiosques foram retirados do espaço e ele permaneceu, porque argumentou que a banca Rodeio fica em uma área privada, dentro dos limites do prédio, e que não podia ser removida.

“Ele aguentou firme, sempre otimista. Sempre falou que tem mercado para todo mundo e que a parte dele estava reservada. O serviço dele e a vida dele era a banca. Ele enfrentou a pandemia, a queda das vendas provocadas pelas mídias digitais e todas as revoluções que surgiram com a internet, que a cada dia massacram o nosso ramo”, destacou.

Incansável, abria as bancas diariamente, inclusive domingos e feriados. “Ele era uma pessoa que não se ofendia por pouca coisa. Quando isso acontecia, ele simplesmente fazia de conta que não aconteceu, para não chatear ninguém”, destacou. A Banca Rodeio é um ponto de encontro tradicional no centro de Londrina, onde as pessoas leem as manchetes do dia dos jornais expostas na parte externa do estabelecimento. Também era um local em que aficionados por figurinhas faziam filas para adquirir as imagens dos jogadores mais badaladas do álbum da Fifa.

E por falar em futebol, Carlos Alberto não se curvava nem quando o seu time de coração, o Flamengo, perdia. “Era incrível. Mesmo quando o Flamengo perdia, ele sempre tinha uma piada pronta sobre isso”, apontou Samanta.

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BANCA CONTINUARÁ ATIVIDADES

Mesmo com a dor da perda do companheiro, Samanta ressaltou que a banca continuará suas atividades. “Ele me deixou e com isso confiou a banca a mim. A banca é a vida dele e vou cuidar e amar como fiz com ele. Farei todos os dias o meu melhor para manter o sucesso dela e não deixarei a memória dele ser apagada”, declarou.

LEITORES ASSÍDUOS

Há cinco anos, Carlos Alberto concedeu uma entrevista para a repórter Walkiria Vieira, do Grupo Folha, em que ele disse que a organização é fundamental no ramo e relatou que realizava o balanço da banca diariamente. "Os produtos são tabelados. Assim, ter o produto para oferecer e dar um atendimento diferenciado é importante para o sucesso deste negócio", disse na época. No pequeno espaço, ele ofertava jornais impressos diários, revistas e fascículos colecionáveis. Entre os clientes havia pessoas ávidas por consumir informações sobre artesanato, revistas de carro, e os que buscam as apostilas de concursos. "Mesmo com a internet e toda a velocidade da informação, revistas de moda, comportamento e saúde possuem leitores assíduos", destacou naquela entrevista de 2017.

TRABALHADOR

O comerciante Divonsir Leite, da Padaria Flumê, recorda-se que conhecia Carlão desde o tempo em que ele chegou do Rio de Janeiro e foi trabalhar na rodoviária antiga (atual Museu de Artes de Londrina). “Ele era um molecão ainda.” Leite ressaltou que não tinha tempo ruim para ele. “Ele era sempre a mesma pessoa. Ele não tinha altos e baixos. Mesmo quando vi que ele tinha alguns probleminhas, eu nunca vi ele se alterar. Ele batalhava para caramba. Era um cara trabalhador e mesmo no domingo ou feriado ele sempre abria a banca dele”, apontou.

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