Moradores vítimas de enchentes revoltam-se com descaso
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domingo, 09 de janeiro de 2000
Por Fabiana Gitsio
São Paulo, 09 (AE) - Quem vive às margens do Córrego Pirajuçara, em São Paulo, há muito sabe que tem de lidar com as enchentes. Mas a última cheia, depois da chuva forte de ontem (08), mexeu com os nervos de muita gente. Hoje, dia de contabilizar, mais uma vez, os prejuízos, o sentimento era um misto de revolta e de impotência.
Que o diga a empregada doméstica Maria de Fátima Dias. Ontem, ela e o marido, o marceneiro Paulo Alves, mal tinham visto o caminhão trazer o material de construção para erguer um muro - justamente para os proteger das enchentes - quando viram areia, cimento e pedra irem embora com as águas. Não conseguiram salvar nada. O prejuízo foi de 450 reais.
"No último fim de semana, estava com dinheiro e comprei tudo", lamentou Alves. Segundo ele, o tempo que o material de construção ficou em sua casa esperando pela obra não chegou a meia hora. Depois, foi tragado pelas águas. A família vive numa casa dos fundos do número 715 da Rua Nílton Machado de Barros, no Jardim Magdalena, no Capão Redondo.
Hoje à tarde, Maria de Fátima ainda estava às voltas com o barro e a sujeira. Toda vez que abria o guarda-roupa, tinha uma crise de choro. Sim, as águas passaram por uma canaleta e invadiram o armário. "Não é a primeira vez que acontecesse isso; é impressionante o descaso da Prefeitura com a gente", revoltou-se. Segundo ela, o abaixo-assinado dos moradores não foi o suficiente para que a limpeza do córrego fosse executada. Francisca Nunes Ferreira, mãe de Cíntia, que nasceu há apenas dez dias, tentava recuperar-se do susto na casa de uma amiga. Na hora da chuva, ela estava deitada, ainda por causa da cesariana, ao lado do bebê. De repente, o cômodo começou a encher. Sem conseguir se levantar, só lhe restava uma alternativa: gritar. Ela e a filha foram salvas pelos vizinhos. "Tiveram de quebrar o batente da porta", contou ela. "O material escolar do meu filho foi todo perdido", lamentou.
Segundo a dona de casa Cleuza Pedro da Silva, moradora do número 249 da Travessa Música do Dilema, o dia seguinte costuma ser ainda pior. É quando os ratos vêm à tona. "Nunca mais limparam e dedetizaram a área do rio", contou. Mais uma vez, ela ficou com água pela cintura. Hoje, ela preparava-se para a próxima chuva - tratando de pôr os colchões em cima dos móveis mais altos de sua casa.