SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Moradores da Favela do Moinho afirmam que a Polícia Militar usou força desproporcional em intervenção na comunidade na manhã desta quarta-feira (29).

Pessoas que vivem no local, ouvidas pela reportagem sob condição de anonimato, dizem que foi o terceiro dia seguido de intervenção truculenta por parte da polícia. Também disseram não contar com nenhum tipo de auxílio do Estado para combate e prevenção do coronavírus.

Segundo contam, nesta quarta cerca de dez PMs iniciaram a operação por volta de 9h30 e entraram em casas sem mandado judicial. Os moradores teriam reagido após um deles ser agredido por oficiais.

A PM diz que a operação realizada nesta quarta prendeu três pessoas por suspeita de tráfico de drogas. Eles portavam cocaína, crack, maconha e lança-perfume, além de R$ 32 mil, segundo a corporação.

Moradores contam que tentaram organizar uma manifestação, mas que foram coagidos pelo batalhão de choque com bombas de gás lacrimogêneo. A polícia foi embora por volta de 13h30, dizem moradores.

"[Os moradores] arremessaram garrafas e pedaços de madeira, sendo necessária a utilização de técnicas de controle de multidões para desobstruir a via. Até o momento, não há relatos de feridos", afirma a PM.

Em cumprimento às normas de isolamento social, a reportagem não foi até o local nesta quarta e conversou com moradores por telefone.

Vídeos publicados na página da Moinho no Facebook e também registrados pela Agência Pavio mostram integrantes do Batalhão de Choque atirando bombas de gás lacrimogêneo de fora para dentro da comunidade.

"Pedimos apoio para os órgãos de direitos humanos, defensoria pública e a todo mundo que apoia o movimento da Favela do Moinho. Já faz algumas semanas que um mesmo grupo de policiais aparentemente liderados pelo sargento Ferreira Silva do Baep vem aterrorizando a população e praticando torturas e arbitrariedades dentro da comunidade", diz o texto publicado na rede social.

O Baep é o Batalhão de Ações Especiais da força estadual.

Única favela no centro da cidade de São Paulo, a Moinho vive há anos sob ameaça de remoção.

Em 2017, por exemplo, o então prefeito da cidade e hoje governador do estado, João Doria (PSDB) declarou que iria eliminar a favela, supostamente para combater o tráfico de drogas.

A comunidade fica entre dois ramais de trens da CPTM, no bairro de Campos Elíseos. Cerca de 500 famílias moral no local.

Os moradores ouvidos nesta quarta contam que não receberam nenhum tipo de assistência do Estado no combate ao coronavírus. Pela internet, eles pedem doações, mas afirmam que, até agora, não receberam nada.

O MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) doou alimentos para a comunidade, como parte de uma série de iniciativas do Abril Vermelho deste ano --jornada anual em que o grupo lembra as mortes de camponeses em Eldorado do Carajás em abril de 1996.

Epicentro da pandemia no Brasil, São Paulo tem visto o números de casos e de mortes crescer em regiões periféricas da cidade, em favelas e comunidades de menor renda e com menos estrutura.

O terreno onde a comunidade está pertence a duas empresas, que compraram a área em um leilão após o antigo dono, a RFFSA (Rede Ferroviária Federal), não quitar dívidas de IPTU.

Em 2008, os moradores, com assessoria jurídica gratuita do Escritório Modelo, mantido pela PUC-SP, entraram com uma ação coletiva de usucapião e obtiveram uma decisão provisória favorável.

A Justiça Federal concedeu a posse do terreno para a comunidade até o julgamento final do processo, que não tem data para ocorrer.