A dona de casa Neide Paulino de Lara, moradora da Vila Nova, em Wenceslau Braz (Norte Pioneiro), já perdeu móveis em alagamentos, sofreu com lama, pó e enfrentou diversos acidentes domésticos na casa "construída" com madeira encostada, em um dos tantos morros que formam a ocupação irregular em que vive. “Estava desacorçoada. Aqui na vila ninguém tinha esperança de que algo de bom fosse acontecer”, revelou. Mas a realidade dela está a poucos meses de mudar, já que a localidade vai ser reurbanizada com recursos do governo estadual e contrapartida da prefeitura.

Neide Paulino de Lara acompanha as obras de sua futura casa.
Neide Paulino de Lara acompanha as obras de sua futura casa. | Foto: Gilson Abreu/AEN

Os imóveis condenados e o terreno castigado pela erosão darão lugar a casas novas, pavimentação, calçamento, galerias pluviais, rede de água e esgoto e iluminação. A previsão de conclusão é para o primeiro trimestre de 2021 e o investimento é de R$ 8.891.438,22. Como contrapartida, a administração municipal isentou por cinco anos a taxa de IPTU para os beneficiários e também fez a doação dos terrenos para a construção dos conjuntos.

Outro futuro morador da localidade, Anderson Rodrigues de Souza, 32, está ansioso e acompanha o andamento da obra. “Hoje pago aluguel de R$ 450, mas já está certo que vou ter uma casa nova depois que o bairro estiver reurbanizado. A minha casa ainda está no meio da construção”, afirmou. “Faz um ano que estou esperando. Mas quando eu receber as chaves será a minha casa. Esse dinheiro que gasto no aluguel faz falta no meu orçamento”, destacou.

Para o proprietário de uma mercearia que fica no bairro, Paulino Sereno da Silva, morador há 35 anos no local, a reurbanização irá mudar o perfil do bairro. “Ajeitando fica bom para nós. Vai vir mais gente para cá e acredito que irá melhorar o movimento”, destacou.

Requalificação urbana da Vila Nova, em Wenceslau Braz, no Norte Pioneiro.
Requalificação urbana da Vila Nova, em Wenceslau Braz, no Norte Pioneiro. | Foto: Gilson Abreu/AEN

ALUGUEL SOCIAL

De acordo com os critérios do programa Nossa Gente Paraná, os moradores cadastrados deverão permanecer por, pelo menos, dez anos nesses imóveis. Nesse período o município fará o acompanhamento social das famílias, inclusive em relação ao acesso das crianças ao ensino regular. Apenas depois desse tempo elas receberão as escrituras definitivas e poderão vender ou alugar o imóvel

A obra em Wenceslau Braz começou em setembro de 2019. Desde então, as 97 famílias foram realocadas em outros imóveis, com os aluguéis sociais, no valor de R$ 480 por mês, custeados pela Secretaria da Justiça, Família e Trabalho.

“Agora não tenho do que reclamar. O Governo está mandando o dinheiro do aluguel e estamos vivendo direitinho. E vejo a casa ser construída, ficando grande, do tamanho que eu sempre sonhei. Não há nada a desejar”, ressalta Lara, que dia sim dia não dá um jeito de visitar o canteiro para se atualizar sobre o andamento das obras.

CONSTRUÇÃO

Segundo a Cohapar, a reformulação da Vila Nova consiste em 66 novas casas, com ações de infraestrutura e recuperação ambiental, exatamente no mesmo local em que as famílias residiam. As outras 31 famílias serão beneficiadas com a reforma dos imóveis. O critério é a condição do imóvel e a anuência do proprietário.

Todos os os terrenos dos moradores da Vila Nova passarão pelo processo de regularização fundiária, sem a necessidade de nenhum tipo de pagamento de prestação após a conclusão das obras. “A ideia foi manter as pessoas no mesmo lugar, desmanchando casas precárias para construir tudo novo no lugar, com infraestrutura e urbanização adequadas”, destaca o presidente da Cohapar, Jorge Lange.

Secretária municipal de Habitação, Paula Sayure Ono explica que a intervenção urbana extrapola os limites da Vila Nova. Segundo ela, a ação do governo do Estado terá reflexo em todo o município. “Era uma região com zero de infraestrutura, tinha apenas iluminação. É um impacto gigante para a cidade, uma transformação social bastante significativa”, diz. Mas essas novas casas resolvem somente uma parcela do problema. “Nós temos 1200 lotes irregulares no município e os principais estamos fazendo regularização fundiária. Os lotes mais críticos totalizam entre 600 e 700 lotes”, destacou.

“Nosso município foi fundado devido à linha férrea e temos um trecho dessa que passa no centro de nossa cidade e que está ocupada irregularmente. Essa é a nossa maior preocupação no momento, com esse pessoal que ocupa essa faixa”, destacou Ono. Segundo ela, já há a aprovação para construção de 39 moradias para pessoas que tenham renda e possam pagar pelo programa Minha Casa Minha Vida.

NOSSA GENTE

A revitalização da Vila Nova não é a primeira ação do programa Nossa Gente em Wenceslau Braz, no Norte Pioneiro. No fim de junho, 50 famílias que viviam em situação de risco receberam as chaves da casa própria, também fruto da parceria entre a Cohapar, a Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho e a prefeitura local

As unidades habitacionais foram distribuídas em dois conjuntos – 30 casas no loteamento Pôr do Sol e 20 moradias no Bairro São Francisco de Assis. Os empreendimentos receberam um investimento de R$ 2,8 milhões com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As moradias não possuem custo nenhum para os contemplados.

Secretária Municipal de Habitação, Paula Sayure Ono explica que a intervenção urbana extrapola os limites da Vila Nova.
Secretária Municipal de Habitação, Paula Sayure Ono explica que a intervenção urbana extrapola os limites da Vila Nova. | Foto: Gilson Abreu/AEN