Com o calor próximo dos 40°C e o tempo seco, nada melhor do que tomar um banho refrescante ou aquele copo d’água geladinha. Entretanto, essa necessidade básica está virando luxo para muitos por conta da constante falta d’água em bairros de Londrina e de Cambé. Alegando a manutenção nos reservatórios por conta do calor e do alto consumo, a Sanepar informou que cerca de 150 bairros das duas cidades devem ficar sem água, de forma escalonada, entre a tarde desta terça-feira (9) e a manhã da quinta-feira (11).

Apesar do anúncio de que a falta d’água começaria às 16h desta terça-feira, alguns moradores relataram que já estavam sem água antes disso. No Parque Residencial Manela, em Cambé, Leda dos Santos, 44, conta que no início da noite de segunda-feira (8) a água acabou e só retornou por volta das 10h desta terça.

Ela ressalta que o problema é comum na região, já que no domingo (7) eles também estavam sem água. “[É muito difícil], ainda mais na minha situação. Fiz cirurgia e tenho que ficar fazendo curativo e aí a gente precisa d’água”, explica.

“Agora o pessoal está mais esperto [com as constantes interrupções], então já tem muita gente guardando água”, relata, acrescentando que deixou reservada parte da água que usou para lavar as roupas, assim como recolheu um balde de água da chuva na manhã desta terça.

Para ela, é difícil conviver com a incerteza, não saber se vai acordar com ou sem água na torneira. “A gente tem que ficar juntando [água] toda hora porque não sabe se vai ou não ter”, lamenta. Já em relação a fatura, ela garante que a cobrança nunca atrasa e que a qualidade do serviço não é condizente com o preço que é pago pelos consumidores. Além das constantes interrupções no abastecimento, ela relembrou o fato da água estar com cheiro e gosto na primeira quinzena de dezembro, o que fez com que ela precisasse comprar água para beber e cozinhar, ainda mais pelo fato de estar no meio de um tratamento quimioterápico.

Também morador do Parque Residencial Manela, o mecânico Nilson Sebastião, 39, afirma que também estava sem água desde o início da manhã desta terça-feira, sendo que o fornecimento só retornou por volta das 15h. Ele tem caixa d’água, mas que só abastece o banheiro e a cozinha, o que compromete a tarefa de lavar roupa.

No Conjunto Avelino Vieira, na zona oeste de Londrina, o aposentado José Pereira, 78, afirma que a água costuma sempre vir mais fraca em alguns períodos, demorando para retornar à vazão normal. Na semana passada, ele chegou a ficar mais de 24 horas sem água, o que fez com que tivesse que economizar ao máximo, já que são duas casas no terreno onde mora que compartilham apenas uma caixa de 500 litros.

A pedagoga Abiqueila Padilha, 40, é moradora do Conjunto Habitacional Gávea, também na zona oeste de Londrina, e relata que a falta d'água na região tem sido frequente. Segundo ela, por conta da baixa pressão, a família optou por utilizar apenas a água que vem direto das tubulações da Sanepar, então quando acaba a casa toda fica sem.

Em dias assim, ela precisa ir até a casa da sogra em outro bairro para tomar banho. Já para beber e cozinhar, a solução é comprar galões d’água. “A gente liga lá [na Sanepar] e eles só dão a notícia de que estão fazendo adaptações e arrumando e não tem uma resposta [definitiva]”, afirma, complementando que a concessionária deveria prestar esclarecimentos sobre o problema, já que não vem sendo algo rotineiro e não pontual. “E fica nessa: um dia tem água e no outro não. Estamos vivendo momentos em que logo vamos ter que estocar galões d’água para beber e essa dificuldade está sendo revoltante”, finaliza.

CONSUMO ELEVADO

Gil Gameiro, gerente da Sanepar, explica que as interrupções no abastecimento de água nesta semana ocorrem por conta do alto consumo e que a suspensão não se trata de rodízio. Segundo ele, com uma mudança de tempo prevista para quinta-feira (11), inclusive com a possibilidade de chuva, a situação deve ser normalizada. Entretanto, o gerente garante que a interrupção não tem relação com a falta de precipitações. “No nosso caso, é por conta da temperatura, e a falta de chuva eleva essa temperatura e fica essa estiagem com pó e com calor muito alto, o que aumenta o consumo”, explica.

“Os reservatórios entraram em colapso e a gente teve que fazer essa manobra para não perder todo o sistema”, afirma, complementando que a obra para mandar mais água para as regiões oeste de Londrina e leste de Cambé já teve a ordem de serviço assinada, o que deverá "resolver o problema no abastecimento".

A respeito do relato de constantes interrupções por parte de moradores de Cambé e Londrina, Gameiro afirma que, em muitos casos, o problema pode ser causado pela diminuição da pressão, o que pode dar a impressão de que a água está acabando. Além disso, segundo ele, o consumo maior acaba contribuindo para a baixa pressão. “[Por isso], algum morador ou outro, por falta de caixa d’água, talvez tenha a sensação de que está faltando água”, ressalta, complementando que isso não é algo corriqueiro.

A orientação da Sanepar é que os consumidores priorizem a utilização da água para consumo próprio e higiene. “Evitar o desperdício de lavar calçadas, de lavar carro, de usar a mangueira como vassoura, regar jardim, encher as piscinas, deixar as crianças brincando com a mangueira. Tudo isso sobrecarrega o sistema”, enumera.