O Paraná entra nesta segunda-feira (15) no período que pode ser considerado o mais “difícil” desde o início da pandemia do novo coronavírus, em 12 de março. O alerta, divulgado em conjunto por duas entidades médicas e endossado pela Sesa (Secretaria de Estado da Saúde), aponta risco de colapso no sistema de saúde e leva em consideração o crescimento no número de casos e mortes, a disponibilidade de leitos e a curva ascendente no índice de contaminação da doença. A análise das entidades ganha ainda mais peso quando considera o clima de “relaxamento” da população com relação às medidas de isolamento social, o que também faz aumentar a “pressão” sobre prefeitos para que endureçam as medidas de combate à transmissão do vírus. Mesmo falando em “lockdown” por até 15 dias, a Sesa informou que não vai mudar a sua política de relacionamento com os municípios e seguirá tratando o isolamento social através de recomendações e orientações.

Imagem ilustrativa da imagem Momento requer medidas mais duras, apontam entidades
| Foto: Geraldo Bubiniak/AEN

Divulgado após o final da semana epidemiológica em que a doença atingiu mais de 300 cidades do Paraná, ou seja, 75% do estado, o manifesto também destaca o preocupante índice de crescimento de 344% no número de casos em um mês. Somente na última semana epidemiológica, entre os dias 7 e 13 de junho, foram confirmados, em média, 384 casos por dia. O número supera a média de 301 casos diários entre 31 de maio e 6 de junho e se torna ainda mais distante dos 213 novos casos confirmados diariamente na semana anterior. Outro indicador preocupante e que apresentou crescimento entre a última semana de maio e o dia 13 de junho foi a média de óbitos por dia em todo o estado: 4,1, 8,8 e 10,1.

Presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná, Roberto Issamu Yosida, avaliou que a intenção da entidade não é causar “pânico” com o alerta, mas reafirmar à sociedade a importância de se investir ainda mais esforços na prevenção enquanto ainda não possível se discutir com mais tranquilidade o tratamento da doença de forma ampla. “O que queremos é manter a evolução da pandemia sob controle, se é que podemos falar em controle”, lamentou.

Ao lado da Sociedade Brasileira de Infectologia, o CRM-PR também ressaltou que embora os brasileiros e brasileiras representem apenas 2,5% da população mundial, o número de mortes e casos confirmados de Covid-19 no País, mais 43 mil e 870 mil, respectivamente, atingem a marca de 10% no panorama mundial da doença.

Yosida também lembrou que o cenário atual da doença é um reflexo do que aconteceu há pelo menos três ou quatro semanas. Com isso, a expectativa mais “otimista” e que foi mencionada, também, pelo presidente da SBI, o médico paranaense Clóvis Arns da Cunha, é que se a população realmente seguir as medidas de isolamento social, a pandemia poderia apresentar um “refluxo” daqui quatro a seis semanas. “Quando começa, vai muito rápido. Então aparentemente uma situação sob controle pode se tornar descontrolada rapidamente”, explicou Yosida.

Enquanto isso, em Londrina, a semana de previsões pessimistas tem início com a “ressaca” de um final de semana bastante movimentado, especialmente desde o início da noite desta sexta-feira, data em que o Brasil comemorou o Dia dos Namorados. O clima nas ruas que não condiz com a realidade dos números motivou até a divulgação de uma carta do prefeito Marcelo Belinati (PP) em que faz um “apelo” ao bom-senso dos cidadãos e torna a dizer que, se for preciso, vai decretar um novo fechamento das atividades produtivas para evitar um colapso do sistema de saúde, decisão que poderá ficar mais clara depois da reunião do Comitê de Crise agendada para manhã desta terça-feira.

A reportagem entrou em contato com o secretário municipal de saúde, Felippe Machado, mas não obteve respostas aos questionamentos até o fechamento desta edição.

ESTADO

A diretora de Atenção e Vigilância em Saúde da Sesa, Maria Goretti David, avaliou que o período mais “crítico” da pandemia deverá se estender por ainda mais tempo. Entretanto, mesmo assim, o governo do Paraná não deverá alterar a sua política de relacionamento com as prefeituras e seguirá emitindo recomendações e orientações aos gestores. “O poder está com os prefeitos”, relembrou.

Questionada sobre o índice de letalidade da doença na região Norte do Paraná, macrorregião que apresentou a maior quantidade de novos casos (48%) no período analisado, a diretora ressaltou a impossibilidade de apontar um só motivo, mas destacou a proximidade com o estado de São Paulo. “Teríamos que olhar todos os óbitos, avaliar as comorbidades e tentar entender. Outra hipótese poderia ser a proximidade com São Paulo, este deslocamento de pessoas, até porque não houve o cerceamento de barreiras. Londrina tem um baixo distanciamento social, também, então se junto tudo isso”, avaliou.

Também segundo a diretora, o Coe (Centro de Operações em Emergências) aprovou no final da tarde desta segunda uma revisão no plano de contingência no sentido de atender, também, o ofício elaborado pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção à Saúde Pública do Ministério Público do Paraná no final da semana passada.