Moscou, 10 (AE-AP) - O presidente interino da Rússia, Vladimir Putin, promoveu hoje (10) o ministro das Finanças, Mikhail Kasyanov, ao posto de primeiro-vice-primeiro-ministro, realizando, assim, a primeira grande reformulação do gabinete de governo desde a renúncia de Boris Yeltsin, em 31 de dezembro. Como Putin acumula o posto de primeiro-ministro, a promoção de Kasyanov - o homem forte da área econômica - torna-o o segundo na escala de poder no Kremlin e provável futuro chefe de governo
caso Putin seja eleito presidente nas eleições de 26 de março, para as quais é o candidato mais cotado.
Putin destituiu os dois primeiro-vice-primeiro-ministros e nomeou apenas Kasyanov para o cargo, fortalecendo, portanto, sua posição no governo, do qual passa a ser coordenador, além de titular da pasta de finanças. Kasyanov, um tecnocrata com fortes vínculos com o Ocidente, tem sido figura-chave na equipe russa de negociação com os credores externos.
Mais surpreendente foi a destituição do chefe da Adminsitração do Kremlin, Pavel Borodin, um dos membros da Família, denominação dada ao grupo político de Yeltsin, do qual também fazem parte sua filha e o magnata Boris Berezovski. Borodin é a figura central num caso de corrupção sob investigação na Suíça, pelo qual uma empresa desse país é acusada de ter obtido a licitação das obras de restauro do Kremlin em troca do pagamento de suborno a altos funcionários russos. O valor foi depositado ilegalmente em bancos suíços e Borodin, a filha mais nova de Yeltsin, Tatyana Dyacheno, e o próprio ex-presidente russo são suspeitos de ter recebido o dinheiro.
A demissão de Borodin foi interpretada como parte da estratégia de Putin de desvencilhar-se com o grupo acusado de corrupção e, assim, angariar maior simpatia da população para sua candidatura à presidência. Entretanto, Putin não deve ir mais longe do que isso em relação a Borodin, segundo analistas políticos, uma vez que os dois trabalharam juntos no Kremlin e, além disso, Borodin não foi excluído totalmente dos círuclos de poder: ele foi nomeado secretário de Estado da união entre a Rússia e a Bielo-Rússia.
Putin demitiu o primeiro-vice-primeiro-ministro Nikolai Aksyonenko, que, contudo, permanece à frente do Ministério das Ferrovias. O outro primeiro-vice-primeiro-ministro, Viktor Kristenko, foi rebaixado e é agora um dos sete vice-primeiro-ministros da área econômica. Já o ministro das Situações Emergenciais, Serguei Shoigu, foi promovido a vice-primeiro-ministro. Shoigu é líder do bloco pró-Kremlin Unidade, segundo colocado nas eleições parlamentares de dezembro.