São Paulo - O ministro da Educação Milton Ribeiro negou nesta terça-feira (16) que o presidente Jair Bolsonaro interfira nas provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Na segunda-feira (15), no fórum de investimentos em Dubai, nos Emirados Árabes, o chefe do Executivo comentou a demissão em massa de mais de 30 servidores no Ministério da Educação às vésperas do Enem e disse que a prova começa a ter "a cara do governo". As demissões ocorrem em meio a denúncias de censura no conteúdo da prova.

"Ele falou a 'cara do governo' porque é o nosso governo. Nós temos feito da melhor maneira possível", afirmou Ribeiro
"Ele falou a 'cara do governo' porque é o nosso governo. Nós temos feito da melhor maneira possível", afirmou Ribeiro | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Questionado, Ribeiro declarou ser necessário perguntar ao presidente o que ele quis dizer quando afirmou que a prova começaria a ter "a cara do governo", mas ponderou diversas vezes que a prova tem questões técnicas e não de "cunho ideológico". "Essa é uma pergunta que caberia bem a ele responder, porque ele nunca me pediu nada, nunca sugeriu nada. Então, eu simplesmente estou aqui para desfazer uma narrativa. Ele falou a 'cara do governo' porque é o nosso governo. Nós temos feito da melhor maneira possível", afirmou.

Já o presidente em exercício Hamilton Mourão disse que o governo não alterou questões do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e que elas são feitas de acordo com a metodologia do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). A cinco dias da primeira etapa da prova, o órgão passa por uma crise interna, após debandada de servidores e denúncias sobre o instituto.

"O presidente fez menção simplesmente a algo que é a ideia dele, pô. Tem liberdade para isso. E o Enem está baseado no banco de dados que foi construído há muito tempo, as questões não estão variando. O governo não mexeu em nenhuma questão do Enem", disse Mourão ao chegar ao Palácio do Planalto. "Não houve (alteração nas questões do Enem). As questões aí são feitas de acordo com a metodologia do Inep", completou.

O presidente em exercício pediu ainda aos jornalistas para "baixar a bolinha". Mourão disse que Bolsonaro tem "uma maneira de se manifestar" e que não vai ficar tecendo críticas a ele, porque é seu vice. As provas do Enem serão aplicadas nos dias 21 e 28 de novembro.

O Inep passou por uma debandada de funcionários. No último dia 8, 35 entregaram seus cargos, citando "fragilidade técnica e administrativa da atual gestão máxima do Inep". Três dias antes, outros dois também já haviam pedido exoneração. Eles se mantêm como servidores de carreira, no entanto. Parte destes funcionários estava diretamente envolvida na organização da prova. Sem entrar em detalhes, o presidente disse que estes servidores ganhavam salários excessivos.

No último dia 14, o programa Fantástico, da Rede Globo, divulgou reportagem na qual ex-servidores do Inep detalhavam interferência do ministério em algumas das questões do exame, além de situações de intimidação. Também apontavam despreparo do comando da entidade. Em junho, a Folha de S. Paulo revelou que uma portaria do Inep estabelecia uma espécie de "tribunal ideológico", com a criação de uma nova instância de análise dos itens das avaliações da educação básica. O documento falava em não permitir "questões subjetivas" e atenção a "valores morais".

O Enem será aplicado nos dias 21 e 28 de novembro para mais de 3 milhões de estudantes em todo o País. No primeiro dia de prova, os participantes farão as provas de linguagens, ciências humanas e redação. No segundo, matemática e ciências da natureza. Os locais de prova estão disponíveis no Cartão de Confirmação de Inscrição na Página do Participante.

O exame seleciona estudantes para vagas do ensino superior públicas, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para bolsas em instituições privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), e serve de parâmetro para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Os resultados também podem ser usados para ingressar em instituições de ensino portuguesas que têm convênio com o Inep.(Com Agência Brasil)