A morte de um jovem de 22 anos em julho de 2019, na zona norte de Londrina, ganhou um novo roteiro na semana passada. Após a conclusão do inquérito policial e do oferecimento de denúncia pelo Ministério Público, quatro policiais militares podem se tornar réus por homicídio qualificado. O caso foi distribuído à 1ª Vara Criminal de Londrina e representa uma “reviravolta” na narrativa transmitida à imprensa, que falava em “confronto armado” com a polícia.

Imagem ilustrativa da imagem Ministério Público denuncia quatro PMs por homicídio qualificado
| Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha

Os fatos narrados pela 11ª Promotoria de Justiça dão conta de que Lucas Hendrik Riedlinger dos Santos, 22, foi assassinado na noite de 12 de julho, no Conjunto Mister Thomas. Para o Ministério Público, além de terem alterado elementos da cena do crime, os quatro policiais militares também teriam buscado um “acerto de contas” por outro fato ocorrido três dias antes. Trata-se de uma denúncia formalizada pelo pai da vítima na 4ª Companhia Independente da Polícia Militar por suposto pedido de propina.

Esta situação foi relatada ao delegado João Batista dos Reis quando da apuração dos fatos no inquérito policial. O pai da vítima afirmou ter sido abordado por policiais militares que o questionaram sobre a origem de uma quantia em dinheiro não informada encontrada em seu bolso. Ao ter dito que o valor correspondia ao seu benefício do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), os policiais decidiram revistar a casa dele. Além de não terem encontrado nenhum ilícito, os PMs não teriam devolvido o dinheiro. Entretanto, segundo Reis, os policiais militares responsáveis por esta ação não são os mesmos que teriam cometido o homicídio três dias depois. Além disso, quando do interrogatório, os quatro policiais permanecerem em silêncio, conforme orientação de sua defesa, pontuou o delegado.

Já com relação à suspeita de fraude processual, o Ministério Público aponta que o capacete da vítima teria sido retirado de sua cabeça e arremessado “rua abaixo”. Indica ainda o possível cometimento de falsidade ideológica por um dos quatro PMs, que relatou em boletim de ocorrência que o jovem estaria sem capacete.

O equipamento de segurança, no entanto, foi encontrado e encaminhado para perícia. De acordo com o inquérito policial, a balística no capacete entregue pela família comprovou que havia coincidência entre o ferimento provocado por um tiro no rosto da vítima e o dano causado no capacete. "O capacete foi enviado para perícia e Laudo Pericial de Pesquisa de Sangue em Capacete confirmou que o sangue era de Lucas", também consta no inquérito. Os depoimentos de outras sete pessoas também embasam a denúncia.

O MP concluiu que houve homicídio duplamento qualificado, por ter sido aplicado recurso que dificultou a defesa da vítima e motivo torpe. Embora todos os denunciados tenham "concorrido para o crime, pois agiram previamente ajustados entre si", apenas um é apontado como autor do disparo que matou Riedlinger.

A 4ª Companhia Independente de Polícia Militar não quis comentar o assunto. Já a Sesp (Secretaria de Segurança Pública do Paraná) não respondeu ao e-mail enviado pela reportagem até o fechamento desta edição. A reportagem também entrou em contato com a Aapomil (Associação de Apoio aos Policiais Militares de Londrina e Região), porém o telefone informado estava desligado.

À FOLHA, o advogado Eduardo Miléo, disse considerar "precipitado" o oferecimento da denúncia pelo MP. "Deve-se saber que Lucas tinha acusações de narcotraficância, fazendo parte de uma família que comanda o crime na região em que se deu o confronto", disse. Em seguida, pontuou que "se sabe que o capacete foi entregue pelo grupo criminoso, sem que se investigasse a possibilidade de manipulação dessa prova", concluiu.

A reportagem não conseguiu localizar a família de Lucas dos Santos, porém, confirmou que os familiares não constituíram um advogado para atuar como auxiliar de acusação.