O Ministério Público acredita que o crime que vitimou o vendedor de máquinas de cartões de crédito Otoniel de Paula Santos, 36 anos, não se trata de um latrocínio, que é o roubo seguido de morte, mas de um homicídio. Com os indícios reunidos até o momento pela Polícia Civil, o promotor Leonardo Nogueira da Silva pediu que o inquérito, ainda não finalizado, fosse encaminhado para a 1ª Vara Criminal de Londrina, que julga delitos contra a vida. O juiz da 4ª Vara Criminal, Luiz Valério dos Santos, onde até então a apuração tramitava, aceitou a solicitação nesta quarta-feira (1º) e determinou a transferência.

Mesmo com a medida, o delegado Antônio Silvio Cardoso garantiu que o caso permanece na 10ª Subdivisão Policial (SDP). Ele não quis comentar o andamento das investigações. Otoniel foi encontrado morto em 6 de junho, um sábado à tarde, às margens da BR-369, no Contorno Norte de Ibiporã. De acordo com o laudo de necropsia do Instituto Médico Legal, o trabalhador teve "lesões cerebrais ocasionadas por ação contundente".

Imagem ilustrativa da imagem Ministério Público afirma que vendedor londrinense não foi vítima de latrocínio
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Dois dias antes, a vítima foi vista pela última vez saindo de um posto de combustíveis na avenida São João, na zona leste. Sem conseguir contato com ele, familiares registraram um boletim de ocorrência de desaparecimento na delegacia na mesma tarde. Na manhã seguinte, o carro de Otoniel, uma Space Fox prata, foi localizada pela Polícia Militar em uma chácara na zona rural de Sabáudia, distante mais de 50 quilômetros de Londrina.

Uma perícia finalizada na semana passada comprovou o que os investigadores já desconfiavam: o veículo estava com sangue no porta-mala e outros locais. O caseiro e o dono da propriedade rural onde o automóvel foi apreendido estão presos preventivamente. O suspeito de matar Otoniel já foi identificado, mas, segundo o delegado, continua foragido.

Em entrevista à FOLHA, o promotor explicou porque não acredita que o vendedor morreu em um latrocínio. "O Ministério Público entende que a intenção principal dos envolvidos era sim a morte dele (Otoniel). Há elementos que apontam que a vítima vendia máquinas de cartão para o executor e, portanto, já eram conhecidos. Ao que consta, o dinheiro das transações não estava caindo na conta e o acusado não aceitava isso, tanto é que Otoniel foi até a sua oficina, em um barracão, ocasião em que foi morto violentamente. Na sequência, para encobrir qualquer rastro deixado, ele ocultou o cadáver e o carro", disse.

Com o envio do processo para a 1ª Vara Criminal, os suspeitos poderão ir a júri popular, se assim decidir o juiz Paulo César Roldão, que coordenará as diligências a partir de agora. Na pedido de transferência, Leonardo Nogueira apontou que, "através das provas até agora colhidas", o crime se trata de um homicídio doloso triplamente qualificado, ocultação de cadáver e fraude processual. Segundo o Código Penal, o latrocínio possui pena entre 20 e 30 anos de prisão. "Já o homicídio, que neste caso possui mais de uma qualificadora, além de outros possíveis delitos, prevê de 12 a 30 anos de reclusão, que deverá ser somada ao tempo dos outros possíveis crimes, isso também em concurso de agentes", completou o promotor.