Miniciclone provoca prejuízo de US$ 5 bi ao setor madeireiro Do correspondente Reali Júnior
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terça-feira, 04 de janeiro de 2000
Paris, 04 (AE) - O miniciclone que devastou a França na semana passada pode ter causado ao setor madeireiro um prejuízo de 30 bilhões de francos, ou US$ 5 bilhões. As estimativas são do Escritório Nacional de Florestas, que realizou um levantamento nas regiões mais atingidas do país - Vosges, no leste, e Landes, no sul -, onde a maior parte da floresta (90%) foi dizimada.
O governo está anunciando medidas de urgência diante do quadro desolador em que se encontra a reserva florestal francesa. Estima-se que 270 milhões de árvores - perto de 100 milhões de metros cúbicos de madeira - foram destruídas, o que corresponde a três anos de produção, tornando precário o equilíbrio dos 500 mil empregos do setor.
Essa situação está levando o governo a imaginar uma nova política de estocagem da madeira, tentando evitar no curto prazo uma degringolada dos preços. Um carvalho de qualidade, cujo metro cúbico é vendido por cerca de 800 francos, pode ter seu preço desvalorizado - para 35 francos o metro cúbico -, caso as árvores tenham sido derrubadas pela tempestade.
Isso porque uma árvore quebrada, na maior parte das vezes, não permite o mesmo aproveitamento uniforme, como ocorre com um exemplar derrubado pelo homem. A maior parte das árvores quebradas só pode ser aproveitada pelas fábricas de papel e celulose, que já prevêem um fluxo importante de matéria-prima. Os proprietários de florestas, o Estado ou o setor privado, vão propor a suspensão de novos cortes, privilegiando a aproveitamento das árvores derrubadas pela tempestade.
No setor florestal, a catástrofe é mais econômica do que ecológica. O reflorestamento indispensável não apresenta apenas efeitos negativos. Para a diversidade biológica, nada melhor do que uma regeneração, natural ou provocada.
Os especialistas concordam que o reflorestamento permitirá o reequilíbrio do parque florestal francês, normalmente formado por árvores velhas. Sua reconstrução criará um novo equilíbrio, favorável à multiplicação de pequenos animais que apreciam folhas novas e tenras.
A replantação florestal maciça terá uma consequência benéfica para o Estado francês, que vai poder afrouxar parcialmente seus esforços para diminuir a produção nacional de gás carbônico de origem industrial, responsável pelo efeito estufa - já que as árvores em fase de crescimento consomem mais gás carbônico do que produzem na fase de decomposição.
Entre os animais, os pássaros foram os que mais sofreram com a tempestade, atingidos com rigor pelos fortes ventos e quebra dos galhos das árvores. No entanto, os efeitos da tempestade foram inferiores aos da maré negra, na Bretanha, onde milhares de pássaros marinhos estão morrendo, intoxicados pelo petróleo que vazou após o naufrágio do navio Erika. Quanto aos animais selvagens - cervos e javalis -, poucos cadáveres foram encontrados nas partes mais destruídas das florestas. Eles conseguiram, apesar dos ventos e das chuvas, emigrar para locais mais seguros.