Mercado espera aumento de 0,25 ponto no juro americano Do correspondente PAULO SOTERO
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terça-feira, 01 de fevereiro de 2000
Washington, 01 (AE) - A dúvida não é se o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, eleverá a taxa de juros na reunião de dois dias da Comissão Federal do Mercado Aberto (Fomc), que termina amanhã (02), mas apenas de quanto será o aumento. A expectativa do mercado é de um aperto de 0,25 ponto acompanhado por uma mudança do sinal da política monetária para indicar disposição para um novo aperto da mesma magnitude na segunda quinzena de março. Se for essa a decisão, que é esperada para 17 horas, horário de Brasília, a taxa de juros dos fed funds, usada no mercado bancário overnight, subirá para 5,75% e a Bolsa de Nova York deve reagir com tranquilidade, até porque já incluiu esse aumento de juros no preço.
Nesse cenário, o impacto da súbida dos juros nos EUA será pequeno e passageiro em mercados emergentes como o Brasil, segundo avaliação do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, que é compartilhada pelos economistas do Fundo Monetário Internacional e dos bancos. Eles calculam que, mantido o esforço de ajuste das contas públicas ora em curso no Congresso, a queda possível de até 3 pontos dos spreads de 6,5% que o País está pagando para buscar no mercado será suficiente para absorver o aperto monetário americano sem afetar a capacidade do governo e das empresas de captar dinheiro no exterior, nem a estratégia do Banco Central de reduzir gradualmente os juros.
Mas há um cenário alternativo, com consequências mais difíceis de prever. A forte valorização do mercado de bônus - o papel de dois anos do Tesouro americano ultrapassou os 6,5% no início da semana - sugere que uma parte dos investidores está preparada para uma ação mais drástica do Fed, ou seja, um aumento de 0,5 ponto. Essa possibilidade é considerada mais remota, até porque é pouco comum o Fed mexer nos juros mais do que 0,25 ponto cada vez. O último aumento de 0,5 ponto ocorreu há cinco anos. Mas ela não pode ser descartada.
O desafio para o presidente do Fed, Alan Greenspan, e os demais governadores e presidentes dos Feds regionais, que integram a Fomc, é agir de maneira a conseguir esfriar a economia, que cresceu a uma taxa de 5,8% ao ano no último trimestre de 1999, e inibir pressões inflacionárias já aparentes em alguns indicadores, mas fazê-lo de forma a prolongar o período de expansão do PIB americano, que entrou ontem em seu cento e sétimo mês consecutivo e tornou-se o maior da história do país. Pressionada pelo aumento do preço de petróleo e do custo de outras fontes de energia, a inflação americana chegou a 2,7% no ano passado, a mais alta desde 1996. Dois fortes indícios de ressurgimento da inflação foram confirmados por estatísticas divulgadas nos últimos dias: no último trimestre de 1999 os preços subiram 2%, ou quase o dobro do trimestre anterior; e a remuneração dos trabalhadores aumentou 1,1%, além do que era esperado.
A autoridade de Greenspan para comandar a delicada operação de por ordem na festa antes que ela saia do controle foi reafirmada hoje pela Comissão de Finanças do Senado, que avalizou sua nomeação para o quarto mandato. A única questão que há sobre a aprovação pelo plenário é se ela será por unanimidade.