Quem não gosta de um feriado, ainda mais se for prolongado? É a oportunidade de colocar o sono em dia, descansar ou aproveitar para viajar e sair um pouco da rotina. Para alegria de uns e descontentamento de outros, em 2024 o número de feriados prolongados vai ser menor do que em 2023. Enquanto no ano passado foram dez, neste serão apenas seis. A situação agrada alguns setores, como do comércio de rua, da indústria e da prestação de serviços. Já para o setor de turismo, gastronomia e lazer, o cenário pode apresentar redução na movimentação de clientes e visitantes.

Em Londrina, os feriados prolongados em 2024 são: Ano Novo (dia 1° de janeiro, segunda-feira); Carnaval (dias 12 e 13 de fevereiro, segunda e terça-feira); Paixão de Cristo (29 de março, sexta-feira); Corpus Christi (30 de maio, quinta-feira); Sagrado Coração de Jesus (7 de junho, sexta-feira); e Proclamação da República (15 de novembro, sexta-feira).

Nos feriados prolongados, o londrinense deixa de gastar nas lojas da cidade. diz presidente da Acil
Nos feriados prolongados, o londrinense deixa de gastar nas lojas da cidade. diz presidente da Acil | Foto: iStock

Angelo Pamplona, presidente da Acil, explica que existem quatro principais segmentos que são impactados pelos feriados prolongados, tanto positiva quanto negativamente. Segundo ele, um desses setores é a indústria, que precisa parar toda a sua cadeia produtiva durante o feriado, o que pode contribuir para uma perda no ritmo de produção.

COMÉRCIO

O comércio é outro setor que acaba sofrendo com feriados prolongados, já que muitas pessoas acabam optando por viajar, deixando de gastar esse dinheiro no comércio local.

“Em Londrina, existe uma grande rede de serviços, que também acaba ficando impactada com esse prolongamento”, aponta, complementando que o único setor que tem a ganhar é o de turismo. Para ele, o menor número de feriados prolongados em 2024 alivia o comércio, a indústria e o setor de serviços, já que o dinheiro que as pessoas investiriam em viagens pode ser injetado no comércio local. “As pessoas acabam ficando nas cidades e consumindo na própria cidade que moram, então um lazer, um churrasco, uma reunião de família ou de amigos acabam também influenciando no consumo”, ressalta.

Os feriados de Independência (7/9), Nossa Senhora Aparecida (12/10) e Finados (2/11) vão cair em sábados, o que também pode trazer impactos negativos para o comércio de rua. “Os dois primeiros [sábados] do mês têm um movimento mais forte e as pessoas acabam comprando mais, saindo mais às compras do que no restante do mês em função do pagamento”, explica. Já para os shoppings, esse feriado no sábado leva mais pessoas a saírem, principalmente pelas áreas de lazer e praças de alimentação.

Apesar dos gargalos, Angelo Pamplona enxerga como favorável o cenário de 2024 para o comércio de Londrina. “A pessoa que sai para viajar, ela gasta um dinheiro extra que poderia gastar na própria cidade onde mora fazendo alguma compra, então isso acaba influenciando [positivamente], sim”, afirma.

QUEDA NO MOVIMENTO

Fábio Aguayo, presidente da Abrabar (Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas), aponta que os feriados prolongados são "ótimos para o turismo local nas grandes cidades do Paraná, como Curitiba, Londrina, Foz do Iguaçu e Maringá, principalmente para restaurantes e bares, já que movimenta a cidade e todo o entorno". Já quando há uma redução nos feriados prolongados, o movimento chega a ser 40% mais baixo no setor, detalha o presidente.

A novidade para 2024, que pode ajudar o setor, é o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (Lei N° 14.759/2023), que foi sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia 21 de dezembro, transformando a data em feriado nacional a ser celebrado no dia 20 de novembro. “O feriado não movimenta só a questão do dinheiro, mas também é uma forma de o cidadão quebrar aquela rotina de trabalho”, reforça, complementando que a associação está acompanhando de perto as propostas sobre as semanas de quatro dias úteis.

O grande desafio, segundo o presidente, é manter o crescimento do setor, ainda que com uma dificuldade em encontrar mão de obra. “É [aumentar] a inovação e a tecnologia nos estabelecimentos e a agilidade no serviço e nos atendimentos. Quando você melhora a sua qualidade de atendimento, você atrai pessoas”, explica.

CAMPANHAS

Para Fábio Aguayo, o que ainda falta é incentivo por parte dos municípios com o setor da gastronomia e do entretenimento. “Independentemente de ser feriado, quando chega o fim do ano as cidades fazem campanhas para atrair turistas, só que às vezes não estimulam os locais a estarem abertos”, ressalta, pontuando que também falta mais incentivo para que táxis e motoristas de aplicativo estejam disponíveis para levarem os turistas.

“A sugestão [da Abrabar] é que nestes feriados que são nos fins de semana as cidades ativem ações promocionais que movimentem a cidade. E o setor está de braços abertos para estar nessa ação”, explica, complementando que as ações não devem ser pontuais, mas durante todo o ano. Por fim, ele afirma que a luta pelo retorno do horário de verão permanece, o que também ajudaria a incrementar o setor.

NA BUSCA POR QUALIDADE DE VIDA

Muitas pessoas aliam o número de feriados em um determinado período com a qualidade de vida, já que feriado significa uma folga no trabalho ou nos estudos. Beatriz Tamura, médica do trabalho, afirma que é fundamental que as pessoas não relacionem exclusivamente a qualidade de vida com os feriados, já que muitas vezes essas datas também podem trazer alguns estresses.

“Nós não podemos depender do feriado para termos um alívio da rotina do dia a dia. Tem aquelas pessoas que falam que precisam de férias do feriado porque no feriado ele saiu de uma rotina que trouxe muito mais estresse para ele”, explica.

Tentando amenizar essa ansiedade pelos feriados, segundo a médica, muitas empresas passaram a adotar estratégias para aliviar a rotina dos colaboradores, já que a qualidade de vida está ligada ao bem estar físico, emocional, psicológico e financeiro da pessoa. Ela detalha que muitos locais de trabalho oferecem atividades recreativas, como jogos ou brincadeiras, assim como espaços para cochilo, entre outras iniciativas.

“[A qualidade de vida] não deve se fundamentar em um pilar único de ter ou não feriado porque a qualidade de vida é um investimento diário e ela não pode ser dependente de anos que tem feriado e de anos que não têm. Ela deve ser feita no dia a dia para uma vida melhor, para uma qualidade de existência melhor que não deve ser baseada em momentos únicos”, finaliza.