A delegada do Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes), Livia Pini, tomou na tarde desta sexta-feira (13) o depoimento do menino de oito anos que está internado no Hospital Evangélico de Londrina após ter sido agredido pelos pais adotivos. De acordo com a delegada, a criança encontrava-se sonolenta, possivelmente em razão dos medicamentos, no entanto confirmou que as agressões ocorreram em casa, corroborando a versão do casal preso no último domingo (8) após a internação do filho adotivo.

Imagem ilustrativa da imagem Menino confirmou agressão por pais adotivos, diz delegada
| Foto: Marcos Zanutto/Arquivo/Grupo Folha

“Ela não consegue fazer diferenciação de lapso temporal, não entrava em detalhes. Tivemos uma confirmação através dos questionamentos que os machucados teriam ocorrido na casa. Menciona o ‘papai’ e a ‘mamãe’ e ele já teria verbalizado para os profissionais do hospital que tem um sentimento de repulsa com a ideia de voltar para casa”, explicou a delegada.

Pini também informou que o menino, internado com várias lesões pelo corpo e traumatismo craniano, ainda está sentindo muita dor, porém já está sendo acompanhado pelas mães sociais designadas pela Vara da Infância e Juventude.

Nesta quinta-feira (12), o TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) suspendeu a guarda do casal que ainda estava em estágio de convivência, período prévio à adoção. Agora, o caso também deve ser acompanhado pela Corregedoria-Geral de Justiça do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, que já solicitou documentos à Polícia Civil de Londrina.

Na entrevista coletiva desta sexta-feira, Pini também falou sobre medidas tomadas por vizinhos da família. Eles dizem ter acionado o Conselho Tutelar em novembro, no entanto não teriam confirmado a presença de conselheiros na residência. “Essas pessoas que teriam denunciado não viram o acompanhamento do conselho no local. É algo que vamos verificar. E eles encaminharam alguns vídeos que foram feitos, porque os próprios vizinhos estavam bastante preocupados. Tem relatos de um episódio em que a criança teria sido deixada na chuva e os vizinhos ouviram que seria algo como um castigo. Era algo que a comunidade já estava percebendo”, explicou.

Além das agressões contra a criança, os vizinhos, que ainda serão ouvidos formalmente, também teriam relatado maus-tratos contra os três cachorros de estimação. “E isso é um vínculo que percebemos, essa questão dos maus-tratos aos animais com violência doméstica é algo real. Existem até alguns trabalhos que vinculam a Delegacia do Meio Ambiente com a Delegacia da Mulher em razão da proximidade destas questões”, ressaltou.

Agora a Polícia Civil aguarda o prontuário médico, cuja cópia deve ser entregue após o final do tratamento, e um laudo complementar do Instituto Médico Legal, além da cópia do processo de adoção. Entretanto, a expectativa é que a denúncia por crime de tortura possa ser oferecida à Justiça no início da semana que vem.

O advogado de defesa do casal, Mário Cesar Carvalho Pinto, informou nesta sexta que os dois estão "preocupadíssimos e perguntam da criança o tempo todo". "O pai chorou quando soube que o menino teve uma melhora no quadro de saúde."

Carvalho Pinto adiantou que vai conversar com delegados, promotores e juiz responsáveis pelo inquérito. "Quero conversar com eles para ver qual a posição deles perante o caso até porque a delegada informou em coletiva que não houve violência sexual. Eu acho isso importante", avaliou. Em relação ao pedido de revogação da prisão preventiva do casal, o advogado afirmou que deverá ficar para depois da conversa com os responsáveis pelo caso.

A reportagem entrou em contato com o Conselho Tutelar, mas o plantonista afirmou que não poderia conceder informações.