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Geral 5m de leitura

Menina de nove meses morre após transplante cardíaco em Londrina

Bebê estava na UTI do Hospital Infantil e expectativa era para que o corpo não rejeitasse o coração

ATUALIZAÇÃO
21 de agosto de 2020

Vitor Struck - Grupo Folha
AUTOR

A bebê Martina Casanova Garlet, de nove meses, não resistiu ao transplante de coração a que foi submetida na tarde desta quinta-feira (20) e morreu durante a noite. O óbito ocorreu devido à falência do transplante e nas primeiras horas do pós-operatório, na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Infantil Sagrada Família. Nas redes sociais, os pais da criança lamentaram a perda e disseram que Martina agora é uma "estrela".

Em nota da instituição, a equipe médica de cirurgiões cardíacos, intensivistas e pediatras que acompanhavam o caso relataram que a criança apresentava boa evolução, no entanto, esta morte súbita pode acontecer em cardiopatias graves, como era Martina.  

NA espera por um coração compatível para a filha de apenas nove meses havia chegado ao fim para o casal de Francisco Beltrão, sudoeste do Paraná, na tarde desta quinta-feira (20), em Londrina. Depois de quase cinco horas de cirurgia, a pequena Martina deu aos pais, a advogada Helen Casanova Garlet, 30, e o vendedor Sigmar Garlet, 32, o alívio que vinham pedindo há pelo menos quatro meses, quando da confirmação do diagnóstico de uma cardiopatia grave.  

 

Martina entrou para a fila de transplantes cardíacos no dia 5 de junho e, por conta de um diagnóstico que também não apresentava opções de tratamento, foi tratada como um caso prioritário. De acordo com a mãe, a criança passou a se afogar constantemente, a não abrir os olhos mesmo estando acordada e a chorar inconsolavelmente. Até brincar e ser surpreendida com caretas e outras estripulias feitas pelos adultos para arrancarem sorrisos deixaram de ser indicados uma vez que poderiam lhe ocasionar falta de ar nos pequenos pulmões.  

Foi somente a partir de um ecocardiograma que os pais descobriram que sua primeira filha possuía cardiomiopatia restritiva, quando as duas câmaras inferiores do coração - ventrículos - , se tornam rígidas, mas não necessariamente espessas, e resistem ao enchimento normal com sangue deixando de levar a quantidade ideal ao restante do corpo. A doença também ocorre quando há o acúmulo de substâncias no miocárdio. “O coraçãozinho dela encharcava e dilatava, não levava sangue suficiente”, contou a mãe ao considerar o sucesso da filha na cirurgia um “milagre”.   

Entretanto, a história de luta da família Garlet tem início há mais de cinco anos, nas primeiras tentativas de ficarem “grávidos”. A filha foi tão aguardada que seu próprio nome é o resultado de uma promessa feita pelo pai à médica que acompanhou o casal em sua terceira tentativa. “Eu disse que escolheria o nome dela se desse tudo certo”, contou o pai em entrevista à FOLHA, antes da morte da bebê.

Questionada sobre o que sentiu ao saber que um coração compatível havia sido encontrado, Helen Garlet tentou definir como uma mistura de euforia, preocupação, alívio e muito medo. Completamente emocionada ao ver a filha na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Infantil ainda entubada e com sondas, porém viva e reagindo após uma cirurgia delicada, a advogada e mãe de primeira viagem tentou descrever a gratidão que sentia, tanto pelo competente trabalho da equipe do cardiologista Luiz Takeshi, porém, principalmente à família do doador.    

“O meu sentimento é só de gratidão porque eles falaram ‘sim’ para a minha filha poder viver. Eu sei da fatalidade e da dificuldade que eles tiveram, infelizmente, de perder o filho deles, como eu estava correndo o risco de perder a minha. Mas quando eles não tinham mais escolha, falaram ‘sim’ para a minha filha. Eu vou ser eternamente grata, meu Deus do céu, porque eles puderam dar uma segunda chance para a Martina. Só gratidão. A doação de órgãos é uma bandeira que vamos carregar com ela para o resto da vida”, disse. 

Com a mesma filosofia de vida muitas famílias paranaenses auxiliadas por profissionais de saúde e servidores públicos de outras áreas também disseram "sim" e colaboraram para colocar o Paraná na liderança em doações de órgãos no primeiro trimestre deste ano. Conforme os dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), o Paraná chegou ao índice de 47,2 doações por milhão de habitantes entre janeiro e março, o que representa 10,3% de crescimento em comparação com o mesmo período do ano passado.    

O coração que a pequena Martina recebeu há pouco pertencia a outra criança, cujo sexo e nome ainda são um mistério. E, talvez, deverão permanecer assim. O "alvo" eram órgãos que haviam pertencido a pessoas que tinham entre seis e 20 quilos e o destino colocou no peito da Martina um coração "catarinense", do município de Jaraguá do Sul (SC). Agora, é com ela, diz a mãe sobre a nova chance que sua pequena teve.  

"Que ela não rejeite, que possa voltar a comer pela boquinha, agora é com ela. Qualquer contato de bactérias é muito ruim. Um transplantado precisa tomar imunossupressores para o resto da vida. A Martina vai ser um contínuo de cuidados em relação a qualquer coisa, mas o coraçãozinho era a única chance dela e cada dia que passava víamos uma piora. Graças a Deus o coração veio e é uma chance dela, agora só depende dela com as medicações. Fé em Deus que vai dar tudo certo", alegrou-se. 

Atualizada às 10h06

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