A bebê Martina Casanova Garlet, de nove meses, não resistiu ao transplante de coração a que foi submetida na tarde desta quinta-feira (20) e morreu durante a noite. O óbito ocorreu devido à falência do transplante e nas primeiras horas do pós-operatório, na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Infantil Sagrada Família. Nas redes sociais, os pais da criança lamentaram a perda e disseram que Martina agora é uma "estrela".

Em nota da instituição, a equipe médica de cirurgiões cardíacos, intensivistas e pediatras que acompanhavam o caso relataram que a criança apresentava boa evolução, no entanto, esta morte súbita pode acontecer em cardiopatias graves, como era Martina.

NA espera por um coração compatível para a filha de apenas nove meses havia chegado ao fim para o casal de Francisco Beltrão, sudoeste do Paraná, na tarde desta quinta-feira (20), em Londrina. Depois de quase cinco horas de cirurgia, a pequena Martina deu aos pais, a advogada Helen Casanova Garlet, 30, e o vendedor Sigmar Garlet, 32, o alívio que vinham pedindo há pelo menos quatro meses, quando da confirmação do diagnóstico de uma cardiopatia grave.

Imagem ilustrativa da imagem Menina de nove meses morre após transplante cardíaco em Londrina
| Foto: Gustavo Carneiro -Grupo Folha

Martina entrou para a fila de transplantes cardíacos no dia 5 de junho e, por conta de um diagnóstico que também não apresentava opções de tratamento, foi tratada como um caso prioritário. De acordo com a mãe, a criança passou a se afogar constantemente, a não abrir os olhos mesmo estando acordada e a chorar inconsolavelmente. Até brincar e ser surpreendida com caretas e outras estripulias feitas pelos adultos para arrancarem sorrisos deixaram de ser indicados uma vez que poderiam lhe ocasionar falta de ar nos pequenos pulmões.

Foi somente a partir de um ecocardiograma que os pais descobriram que sua primeira filha possuía cardiomiopatia restritiva, quando as duas câmaras inferiores do coração - ventrículos - , se tornam rígidas, mas não necessariamente espessas, e resistem ao enchimento normal com sangue deixando de levar a quantidade ideal ao restante do corpo. A doença também ocorre quando há o acúmulo de substâncias no miocárdio. “O coraçãozinho dela encharcava e dilatava, não levava sangue suficiente”, contou a mãe ao considerar o sucesso da filha na cirurgia um “milagre”.

Entretanto, a história de luta da família Garlet tem início há mais de cinco anos, nas primeiras tentativas de ficarem “grávidos”. A filha foi tão aguardada que seu próprio nome é o resultado de uma promessa feita pelo pai à médica que acompanhou o casal em sua terceira tentativa. “Eu disse que escolheria o nome dela se desse tudo certo”, contou o pai em entrevista à FOLHA, antes da morte da bebê.

Questionada sobre o que sentiu ao saber que um coração compatível havia sido encontrado, Helen Garlet tentou definir como uma mistura de euforia, preocupação, alívio e muito medo. Completamente emocionada ao ver a filha na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Infantil ainda entubada e com sondas, porém viva e reagindo após uma cirurgia delicada, a advogada e mãe de primeira viagem tentou descrever a gratidão que sentia, tanto pelo competente trabalho da equipe do cardiologista Luiz Takeshi, porém, principalmente à família do doador.

“O meu sentimento é só de gratidão porque eles falaram ‘sim’ para a minha filha poder viver. Eu sei da fatalidade e da dificuldade que eles tiveram, infelizmente, de perder o filho deles, como eu estava correndo o risco de perder a minha. Mas quando eles não tinham mais escolha, falaram ‘sim’ para a minha filha. Eu vou ser eternamente grata, meu Deus do céu, porque eles puderam dar uma segunda chance para a Martina. Só gratidão. A doação de órgãos é uma bandeira que vamos carregar com ela para o resto da vida”, disse.

Com a mesma filosofia de vida muitas famílias paranaenses auxiliadas por profissionais de saúde e servidores públicos de outras áreas também disseram "sim" e colaboraram para colocar o Paraná na liderança em doações de órgãos no primeiro trimestre deste ano. Conforme os dados da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), o Paraná chegou ao índice de 47,2 doações por milhão de habitantes entre janeiro e março, o que representa 10,3% de crescimento em comparação com o mesmo período do ano passado.

O coração que a pequena Martina recebeu há pouco pertencia a outra criança, cujo sexo e nome ainda são um mistério. E, talvez, deverão permanecer assim. O "alvo" eram órgãos que haviam pertencido a pessoas que tinham entre seis e 20 quilos e o destino colocou no peito da Martina um coração "catarinense", do município de Jaraguá do Sul (SC). Agora, é com ela, diz a mãe sobre a nova chance que sua pequena teve.

"Que ela não rejeite, que possa voltar a comer pela boquinha, agora é com ela. Qualquer contato de bactérias é muito ruim. Um transplantado precisa tomar imunossupressores para o resto da vida. A Martina vai ser um contínuo de cuidados em relação a qualquer coisa, mas o coraçãozinho era a única chance dela e cada dia que passava víamos uma piora. Graças a Deus o coração veio e é uma chance dela, agora só depende dela com as medicações. Fé em Deus que vai dar tudo certo", alegrou-se.

Atualizada às 10h06