Buenos Aires, 03 (AE-AP) - O ex-presidente argentino Carlos Menem desafiou hoje (03) seu sucessor, Fernando de la Rúa, e membros da atual administração a apresentar à Justiça as denúncias de corrupção contra ele e integrantes de seu governo. "Sei, por causa de minha trajetória de advogado, que ameaçar com investigação não serve para nada, além de amedrontar", expressou Menem num artigo publicado pelo jornal ¶mbito Financiero. "Numa ação judicial, entretanto, os denunciantes têm de substanciar suas acusações."
A guerra verbal entre as equipes de Menem e De la Rúa intensificou-se na semana passada, quando o ex-presidente acusou o atual vice-presidente, Carlos "Chacho" álvarez, de estar liderando uma campanha de "assédio judicial" contra alguns de seus funcionários. "Caso isso continue, serei eu que começarei a falar", ameaçou Menem.
álvarez qualificou a declaração de Menem de "um método mafioso de extorsão". "Se ele (Menem) sabe de alguma irregularidade cometida por membros do novo governo, tem a obrigação de denunciá-las, e não de usá-las como elemento de pressão.
Em seu artigo no ¶mbito Financiero, Menem faz declarações semelhantes em relação às denúncias do grupo de De la Rúa. "Ao governo e à imprensa, convido a denunciar. Denunciar sem mais ilações, conjecturas ou especulações", escreveu.
Os dois integrantes do governo Menem mais comprometidos pelas denúncias são Víctor Alderete, ex-chefe do Programa de Assistência Médica e Aposentadoria - contra o qual pesam 17 ações na Justiça -, e María Julia Alsogaray, ex-secretária de Recursos Naturais e Desenvolvimento Sustentável, denunciada por enriquecimento ilícito. "No que me diz respeito, se recaem suspeitas sobre funcionários que me acompanharam, exijo que elas sejam investigadas judicialmente", expressa Menem. "Mas, se eles não forem culpados, devo exigir com a mesma veemência que sua inocência seja divulgada e propagandeada."
O modo como Menem se relaciona com a imprensa foi analisado na edição de hoje do jornal americano The New York Times, num artigo assinado por Clifford Krauss. Como presidente, Menem dominou a cobertura de mídia da Argentina por mais de uma década
de acordo com o artigo, por causa de sua defesa apaixonada da paridade entre o peso e o dólar - sem mencionar sua paixão por carros de corrida, o episódio no qual pôs sua mulher para fora da Casa Rosada e seus flertes com mulheres que têm a metade da idade dele. Sua habilidade nesse particular é tamanha que, algumas vezes, Menem tem ofuscado o pouco proeminente De la Rúa.
O jornal americano destaca que, mesmo fora do poder, o ex-presidente esforça-se para não desaparecer do noticiário. Para tanto, mantém reuniões de seu "gabinete paralelo" com os ex-assessores e tenta manter um papel relevante em seu Partido Justicialista (peronista) com o objetivo de exercer influência nas eleições deste ano para a cidade de Buenos Aires. Com grande fanfarronice, anunciou ter iniciado um esforço para espalhar pelo mundo a ideologia autodescrita como populista de Juan Domingo Perón.
"Desde que deixou o poder, Menem tem estado depressivo", disse ao New York Times a biógrafa do ex-presidente, Olga Wornat. "Ele ama o poder mais do que a qualquer coisa, incluindo sua família, e estará sempre disposto a fazer o que for preciso para estar no centro do palco."