"Você se animaria em trabalhar até 60 horas por semana em troca de salários tão baixos?", disparou Maria Luiza Macedo, professora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A baixa atratividade do magistério, resultado da falta de valorização do professor, é apontada por especialistas como um dos maiores impactantes no desempenho da educação no Brasil.

Segundo Maria Luiza, os professores enfrentam graves problemas de condições de trabalho, mas a questão financeira é determinante. "As condições são as piores possíveis, mas quando a gente fala em valorização, estamos falando em salário mesmo", reforçou. Formada há 40 anos e prestes a se aposentar, a professora não tem boas perspectivas. "Tenho pena da juventude que viverá em um país sem projeto educacional. Não investem, não equipam, não dão uma base", criticou.

Odilon Carlos Nunes, professor do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), avalia que a mudança depende de uma série de ajustes estruturais. "A educação é afetada diretamente por problemas sociais, como a saúde e outras áreas. Para se resolver essas questões, é preciso adotar políticas sistemáticas que visem resultados", argumentou. "Um exemplo que estamos na direção contrária é a aprovação da reforma do ensino médio sem um amplo debate", lembrou.

Para Nunes, os alunos não podem ser considerados culpados pelos índices educacionais. "Este cenário não é aceitável, mas é compreensivo. O aluno está respondendo ao seu modo ao que ele recebe, ou seja, uma estrutura precária", observou. A opinião é compactuada por Maria Luiza. "Dizem que os alunos estão chegando piores às universidades, mas não vejo desta forma. É claro que são características diferentes. Antes, por exemplo, o acesso ao computador era raríssimo. Hoje é banal, o que abre um universo de potencialidades", observou a professora.
A expansão do setor privado na educação, com cursos de baixa qualidade, é criticada por Nunes. "Nesse sentido, temos um grave problema na formação do professor. São instituições com pouca presença de pesquisa e que, muitas vezes, contratam o professor como horista. Isso vai impactar na qualidade dos profissionais que estarão à frente das salas de aula", opinou.