O MEC (Ministério da Educação) anunciou nesta quarta-feira (8) as datas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2020. As provas em papel vão ocorrer nos dias 17 e 24 de janeiro de 2021 e, no computador, em 31 de janeiro e 7 de fevereiro de 2021. A reaplicação ficou marcada para os dias 24 e 25 de fevereiro, e o resultado será divulgado no dia 29 de março de 2021.

Principal porta de entrada para o ensino superior público, o Enem recebeu neste ano 5,8 milhões de inscritos
Principal porta de entrada para o ensino superior público, o Enem recebeu neste ano 5,8 milhões de inscritos | Foto: Gina Mardones/3-11-2019

O Enem ocorreria inicialmente em novembro deste ano. O ex-ministro Abraham Weintraub era contra o adiamento e só mudou de ideia com iminente derrota sobre o tema no Congresso. Weintraub então insistiu na realização de uma consulta com os inscritos, e afirmou que o resultado seria respeitado pelo governo. O resultado da pesquisa foi divulgado após a saída de Weintraub. A maioria votou pela realização da prova em maio, mas, agora já sem ministro, o MEC ignorou essa posição.

Para decidir, o órgão ouviu entidades que representam secretarias de Educação, o ensino superior público e privado sobre as datas. Secretários estaduais de Educação cobravam o MEC pelo adiamento do exame por causa do fechamento de escolas em decorrência da pandemia de coronavírus. O Consed, que representa os dirigentes, apoia as novas datas.

O argumento para não realizar o exame em maio, como queriam os estudantes, é que isso atrasaria muito o calendário das universidades e também dos programas como ProUni (Programa Universidade para Todos) e Fies (Financiamento Estudantil). O que também teria impacto negativo na desigualdade.

A maior preocupação dos estados, que concentram a maioria das matrículas de ensino médio, é com o impacto que o fechamento de escolas vem causando para os alunos de escolas públicas, sobretudo os mais pobres. Em maio, a Folha de S.Paulo mostrou que 3 em cada 10 concluintes do ensino médio em escolas públicas no exame de 2018 não tinham acesso à internet. Na escola privada, 3,7% disseram não ter conexão residencial.

DEFASAGEM

Rita de Cássia Rodrigues, coordenadora do CEPV (Curso Especial Pré-Vestibular) da UEL (Universidade Estadual de Londrina), afirma que as desistências aumentaram muito no curso preparatório depois da pandemia, porque muitos não conseguem acompanhar as aulas por falta de internet e de equipamentos de qualidade para assistir às aulas e também devido à falta de interação com os professores.

“A defasagem é muito grande. Eles precisavam de mais tempo”, pontuou Rodrigues. “Estamos numa acentuação dos casos de Covid. Tudo isso é levado em consideração. Eles estão cada vez mais preocupados com a questão das famílias, avós, pessoas mais velhas e aí não se sabe quando vai começar a voltar ao normal. Estipular uma data é muito difícil para o aluno, porque aí vem uma pressão muito grande.”

Para ela, os maiores prejudicados serão aqueles que cursam o terceiro ano do ensino médio. “Os alunos do primeiro e do segundo ano conseguem ainda no próximo ano correr atrás de algum déficit de conteúdos importantes, agora alunos de terceiro ano, além de ter preocupação em fazer vestibular, prestar Sisu, fazer Enem, não têm o ano que teriam para estudar.” A preocupação é também com alunos que reprovarem esse ano, ela continua. “Temos alunos que vão ser reprovados porque não é qualquer pessoa que consegue fazer ensino remoto.”

PLANEJAMENTO

Já para o coordenador do cursinho MedMagno Universitário, Edmilson Vicente Leite, embora a maioria dos alunos tenha preferido que o Enem fosse aplicado em maio, janeiro foi a melhor opção. “Foi a melhor data possível. Maio para nós era a pior data, porque quebra todo o calendário escolar. Sem contar que o Sisu depende da nota do Enem. Em dezembro também achamos que seria muito perto, dificultaria para alunos da rede pública que não tiveram continuidade dos estudos.” O coordenador também observa que, com as eleições em novembro, o calendário de vestibulares ficou ainda mais apertado. “Fico contente, nossos alunos responderam que estão contentes. Deu fôlego para eles.”

Com a data do Enem definida, o aluno fica mais motivado e pode enfim fazer o planejamento individual dos seus estudos, observa o coordenador. Resta saber agora a data do vestibular da UEL. “Quando não tem uma data definida o aluno precisa ser muito mais motivado. A data definida já é fator de motivação, o aluno consegue fazer cronogramas. Desde já o aluno sabe que vai varar o ano e vamos até o final de janeiro.”

O Enem tem 180 questões e é aplicado em dois dias. Esta será a primeira edição com uma aplicação em computador para parte dos candidatos, em caráter de teste. Principal porta de entrada para o ensino superior público, o Enem recebeu neste ano 5,8 milhões de inscritos. Os resultados também dão acesso a bolsas do ProUni e contratos do Fies.(Com Folhapress)