"Tem a mata, mas tiraram as árvores centenárias", lamenta o guarda-parque José Ferreira da Silva
"Tem a mata, mas tiraram as árvores centenárias", lamenta o guarda-parque José Ferreira da Silva | Foto: Gustavo Carneiro



Um estudo do IFN (Inventário Florestal Nacional), do Ministério do Meio Ambiente, catalogou 587 espécies de plantas no Paraná. Dezenove delas estão na lista de ameaçadas de extinção. Única área verde remanescente nas proximidades de Londrina, a Mata dos Godoy abriga algumas dessas espécies, como o cedro, a guabiroba e o palmito juçara.

De acordo com o estudo, o Paraná tem 567 espécies de porte arbóreo, de 86 famílias e 265 gêneros. Para o diretor de Pesquisa e Informações Florestais do Serviço Florestal Brasileiro, Joberto Freitas, o número é alto. "Se considerarmos que no Brasil temos aproximadamente de 8.000 a 10 mil espécies, o Paraná tem quase 600. Isso é uma riqueza muito grande, podemos associar diretamente à conservação da biodiversidade", destaca.

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Entre as espécies em extinção, duas são de interesse econômico e social para o Estado: a araucária e o palmito juçara. Também estão na lista de risco: pinheiro-do-paraná, o pinheiro-brasileiro, xaxim, canela-sassafrás, embuia, sabão-de-soldado, bicuíba, grápia, butiá-da-serra, guabiroba, cedro, sucará e canela-preta.

Embora em extinção, no Bosque Central é possível ver guabirobas. Freitas ressalta que essas informações levantadas no inventário são passadas para herbários. "É um conhecimento sobre a flora internalizado no próprio Estado, que direciona pesquisas."

Conforme os dados nacionais, o Paraná tem 3,1 milhões de hectares de florestas naturais, cerca de 16% de seu território. Setenta por cento dos locais visitados pelos pesquisadores tinham evidência de atividades humanas que alteram o meio ambiente.

Levantamento feito há cerca de 20 anos na Mata dos Godoy catalogou 320 perobas
Levantamento feito há cerca de 20 anos na Mata dos Godoy catalogou 320 perobas | Foto: Gustavo Carneiro



Para o guarda-parque da Mata dos Godoy, José Ferreira da Silva, a reserva ainda conserva mata e espécies. "Tem muitos locais em que foi feita uma exploração seletiva. Tem a mata, mas tiraram as árvores centenárias", lamenta.

Entre as árvores centenárias está a peroba. Levantamento feito há cerca de 20 anos na Mata dos Godoy catalogou 320 perobas. Segundo Silva, a quantidade de anéis no tronco indica a idade da árvore. Cada anel representa "mais ou menos um ano". "Quanto mais grossa, mais velha. Tem peroba que vai uns quatro homens para abraçá-la, tem cerca de 400 anos", conta. O guarda-parque menciona que há quem diga que a peroba pode chegar a viver 1.200 anos.

O Estado passou por um intenso processo de desmatamento. A dificuldade em se achar árvores tão velhas quanto as perobas da Mata dos Godoy, segundo Silva, se dá pela grande extração de madeira ocorrida na região até 1965. "O pessoal queria fazer uma cerca, um palanque, usava a madeira. Você acha que um cara com uma mata assim iria comprar madeira? Não ia, naquela época o Código Florestal deixava o negócio meio solto. De 65 para cá começaram a pegar mais no pé", diz.

O coordenador da pesquisa da diversidade florestal lembra que, mesmo com esse valor de cobertura florestal, o Paraná passou por uma perda grande de florestas para o desenvolvimento humano. Essas quase 600 espécies catalogadas são resquícios do que existia nas florestas da região.

O inventário foi feito para conscientizar as pessoas do uso racional das florestas, segundo Freitas. "Muitas espécies dessas podem oferecer produtos não madeireiros, que não precisa derrubar árvores, como remédios. O Paraná está na Mata Atlântica, um bioma muito diverso."