Para o gerente do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, especialista em segurança pública, o cenário de violência na escola estadual Professor Raul Brasil, em Suzano (SP), reflete os índices de criminalidade no País, agravados pela facilitação do acesso a armas de fogo. "Já tivemos casos como os de Realengo (RJ) e de Goiânia e você vê que, quando o episódio envolve arma de fogo, o nível de letalidade aumenta muito. Esse é um episódio muito trágico e que ajuda a gente a fazer uma reflexão sobre o que está acontecendo em relação ao controle legal de armas no Brasil", criticou.

No início do ano, o presidente Jair Bolsonaro assinou decreto que alterou os critérios para concessão da posse de arma de fogo. Entre as justificativas que passaram a ser aceitas para a compra do equipamento está ser morador em área rural ou morador em área urbana com elevados índices de violência. Porém, todos os Estados se enquadram nesse critério que considera como base os dados do Atlas da Violência 2018. Foram mantidas exigências como a idade mínima para a compra de armas (25 anos), a apresentação de certidões de antecedentes criminais, a comprovação de residência fixa e de uma ocupação lícita e laudos de aptidão técnica e psicológica.

"É lamentável. Estamos falando de vítimas muito jovens, no começo da vida, que morreram de forma trágica. É importante que a gente olhe a questão da violência no ambiente escolar como um todo e o acesso a arma de fogo que vem numa crescente flexibilização nos últimos anos no Brasil. Tivemos ministro do governo falando que arma é tão perigosa quanto liquidificador. Quando a gente olha os números da violência armada no Brasil, a gente vê que sete em cada dez mortes violentas são causadas por arma de fogo", completou Langeani.

Em relação à violência escolar, o gerente do Instituto Sou da Paz mencionou a necessidade de melhorar a formação dos professores para lidar com casos de violência em menor gravidade (como bullying), além de reforço de atenção à saúde mental dos estudantes com a realização de encaminhamentos adequados ao sistema de saúde de forma preventiva.

FRUSTRAÇÃO E CONFLITOS

A dificuldade em lidar com situações de frustração e conflitos é o que leva muitos adolescentes a adotarem comportamento mais agressivo. É o que afirma o professor do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Alex Eduardo Gallo. "Há uma combinação de fatores. Quando a gente fala de violência na escola, normalmente esse agressor era uma vítima. Em grande parte dos casos, vítima de bullying", destacou.

Como exemplo, o professor cita o massacre de Columbine, nos Estados Unidos, em que dois alunos atiraram contra estudantes e professores. Treze pessoas morreram. O fato ocorreu há 20 anos, em abril de 1999. Na ocasião, a dupla cometeu suicídio e, posteriormente, foi constatado que os rapazes sofriam bullying. "O bullying vai causando sofrimento. Esse sofrimento tem um custo. Como lidar com isso depende das habilidades que a vítima tem para enfrentar o conflito", apontou.

O professor alerta ainda que mudanças repentinas de comportamento dos alunos e alterações no desempenho escolar podem indicar sinais de bullying ou outro tipo de violência. "Os adolescentes sempre tiveram dificuldades para vivenciar situações de conflito. A diferença hoje é que essas situações são mais visíveis e instantâneas. É importante que as famílias conversem sobre sentimentos e expectativas", afirmou.

POLÊMICA

O senador Major Olímpio (PSL-SP) afirmou que o massacre na escola estadual Professor Raul Brasil poderia ter sido evitado caso os funcionários estivessem com armas. "Se os professores estivessem armados, e se os serventes estivessem armados, essa tragédia de Suzano teria sido evitada", disse o parlamentar durante reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado.

Em nota, Olímpio acrescentou que "a política desarmamentista fracassou" e que não pode "deixar que os aproveitadores se utilizem da tragédia para falar que o desarmamento é solução, essas armas são ilegais e foram obtidas e usadas por adolescentes". Ele também defendeu a redução da maioridade penal. O senado é autor de projeto de lei que prevê a possibilidade de prender qualquer pessoa a partir dos 12 anos após avaliação psicológica.

Em mensagem nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro definiu a tragédia como "monstruosidade" e "covardia" e prestou condolências aos familiares das vítimas. (Com Folhapress)