Marchas e cordões resistem no carnaval do interior José Maria Tomazela e Júlio Ottoboni
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sexta-feira, 03 de março de 2000
Marchas e cordões resistem no carnaval do interior José Maria Tomazela e Júlio Ottoboni4/Mar, 16:33 São Carlos, 4 (AE) - Marcha-rancho, folia na rua com bonecões, corsos e a brincadeira ingênua dos cordões. Tudo isso ainda existe no interior paulista. Em Tatuí, como há 72 anos, o Cordão dos Bichos sai às ruas a partir de amanhã(5), com seus bonecos e monstros. Foliões "vestem" os cabeções e as figuras de animais e fazem a festa, "assustando" as crianças. Há também bruxas e dinossauros. Sob os bonecos, estão operários, funcionários públicos, vendedores ambulantes, pequenos comerciantes, "gente do povo", como diz o secretário do Cordão, Pedro da Silva. O bloco tem sede própria - um barracão, onde os bonecos ficam guardados e passam por frequentes reformas, feitas pelo artesão José Carlos Machado. O Cordão dos Bichos participa amanhã do desfile oficial da cidade, com as escolas de samba locais. A Banda Santa Cruz, do Conservatório Musical de Tatuí, acompanha o bloco. "Mas a gente gosta de entrar no meio do povo, correr atrás das crianças dar um susto em quem está distraído", diz o tesoureiro Antônio Carlos Assunção. Nos outros dias, o bloco faz estripulias pela cidade. O cordão foi criado em 1928 por Vicente de Almeida e Aladim Ponce. No começo, havia só dois cavalos e um elefante. Na década de 70, chegaram a ser 76 bonecos. Hoje, são 40 figuras. Jeca - A cidade Monteiro Lobato, no Vale do Paraíba, optou este ano por também voltar às origens. A festa, batizada de Folia do Jeca, terá marcha-rancho, marchinhas, sambas cadenciados e a bonecões. O patrono da cidade será homenageado neste retorno ao carnaval familiar. Os blocos, formados por amigos, parentes e vizinhos, saem ao som de marchinhas feitas por músicos locais ou antigas canções. No início da noite, o barulhento cortejo invade o lugar os bonecões - conhecidos como Pereirões - acompanham os foliões pelas ruas. O carnaval começa com o desfile do seu bonecão principal uma caricatura de Monteiro Lobato de 4 metros de altura, e será seguido de perto por foliões fantasiados de seus personagens. O escritor que deu o nome ao lugar, conhecido até a década de 40 como Buquira, produziu boa parte de sua obra infantil no casarão colonial de seu avô, o Visconde de Tremembé. A fazenda também era conhecida como Sítio do Pica-Pau-Amarelo. São Luís do Paraitinga, na Serra do Mar, realiza esse tipo de festa há décadas. O samba é proibido e alguns blocos, como o disputado Juca Teles, que abre oficialmente o carnaval, sai às ruas ao meio-dia. Este ano são 16 grupos. Eles desfilam todos os dias de carnaval, da tarde até a madrugada. Carros - Com cerca de 16 mil habitantes, a pequena Brodowski, na região de Ribeirão Preto, também tem um modo especial de diversão no carnaval. Escolas de samba, nem pensar. A agitação fica por conta das mais de 40 repúblicas, reunidas nos quatro dias, e pelo corso com caraterísticas especiais - os carros antigos são adaptados e pintados para desfilar. "Aqui há uma integração legal", diz o presidente da comissão do Carnaval Popular, Angelo Marcelo Fossa. Cada república é cadastrada pela prefeitura e dá uma cesta básica (se quiser) para distribuição a famílias carentes. A simplicidade impera. Os carros antigos adaptados desfilam todos os dias, das 14 às 19 horas - é o horário permitido pela polícia local. Explica-se: os carros, sem documentação, só podem circular nesse período. Este ano, são 14 veículos de repúblicas cadastrados. O mais antigo é da Turma da Geni um DKW ano 66, que vai homenagear os 500 anos do Descobrimento. A Rural Willys da Turma Tokitikutuku virou uma zebra. A Turma dos Cupinzinhos deixou a pintura do Cupim Móvel (um Galaxy) para a última hora. Já o grupo do Cachaça Brasil, transformou seu Galaxy no Carchaça. (Colaborou Brás Henrique)