SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) - Na impossibilidade de sair de casa, os pesquisadores do Brasil realizaram, neste dia 7 de maio, a Marcha Virtual Pela Ciência. O evento, transmitido ao vivo pelas redes sociais da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, principal órgão a congregar cientistas no país), abordou como o conhecimento científico tem ajudado a enfrentar a pandemia de Covid-19, defendendo o apoio à pesquisa como uma das saídas para a crise.

Para o físico Ildeu de Castro Moreira, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e presidente da SBPC, é um momento oportuno para reivindicar mais recursos para a ciência brasileira, apesar do risco crescente de uma depressão econômica.

“O nosso argumento, que pode ser corroborado por tudo o que a gente vê em outros países e outras épocas de crise, é que não existe saída dessa pandemia sem investimento em ciência e tecnologia”, afirma o pesquisador. “Precisamos de uma reforma profunda na maneira como a economia se estrutura, e nenhum país conseguiu isso sem apostar pesado e com continuidade na pesquisa científica.”

Durante a marcha, o ministro do MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), Marcos Pontes, anunciou em vídeo, a liberação de mais R$ 352 milhões em recursos para projetos de pesquisa, inovação e infraestrutura no combate a pandemias. Segundo Marcelo Morales, secretário de Políticas para Formação e Ações Estratégicas do ministério, o dinheiro ajudará a criar laboratórios de biossegurança nível 4 (o mais elevado, dedicado ao trabalho com patógenos que podem ser transmitidos pelo ar e ter efeitos letais).

Moreira lembra que, antes do segundo turno das eleições de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro havia se comprometido a reverter a trajetória de queda de recursos federais destinados à área, que vem se acentuando desde o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Embora isso não tenha acontecido, o físico afirma que a SBPC tem mantido o diálogo com o MCTIC.

“Conseguimos vencer algumas batalhas em comum no Congresso, mas precisamos de muito mais recursos, que podem ser cruciais para fomentar a inovação e a criação de empregos depois da pandemia, inclusive nas pequenas e médias empresas”, diz Moreira. O órgão também tem criticado as novas diretrizes do ministério sobre áreas prioritárias de financiamento à pesquisa, voltadas quase totalmente para a ciência aplicada, deixando de lado a pesquisa básica e as ciências humanas.

Os eventos virtuais da marcha também trouxeram informações sobre o combate ao coronavírus no país e reforçarão o conteúdo do manifesto Pacto pela Vida e pelo Brasil, iniciativa na qual a SBPC se uniu a outras entidades da sociedade civil, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). No pacto, esses órgãos cobraram do governo transparência, a observância dos preceitos científicos e de saúde pública mundiais e um cuidado especial com os mais pobres e marginalizados. “No passado, em outros momentos importantes para a manutenção da democracia no país, a SBPC tinha participado de iniciativas conjuntas como essa”, afirma o pesquisador.

Estavam programados dois painéis nacionais, um sobre o enfrentamento da pandemia de Covid-19 e outro sobre sucessos e desafios da ciência, tecnologia e inovação no Brasil. Também houve eventos em quase todos os estados brasileiros.

Universidades e outras instituições fizeram um tuitaço com as hashtags #paCTopelavida, #fiqueEMCASAcomaciencia e #MarchaVirtualpelaCiencia durante a tarde.