Manifestantes pedem justiça por morte de jovens em Londrina
Encabeçado pelo Movimento Justiça por Almas, familiares e amigos de vítimas cobram o uso de câmeras nas fardas dos agentes policiais
PUBLICAÇÃO
sábado, 01 de março de 2025
Encabeçado pelo Movimento Justiça por Almas, familiares e amigos de vítimas cobram o uso de câmeras nas fardas dos agentes policiais
Jéssica Sabbadini - Especial para a FOLHA

Duas semanas após a morte dos jovens Wender Natan da Costa e Kelvin Willian Vieira dos Santos, em Londrina, familiares, amigos e membros de movimentos sociais participaram de uma manifestação no Calçadão de Londrina na manhã deste sábado (1°). Com faixas e cartazes pedindo por justiça, o ato foi encabeçado pelo Movimento Justiça por Almas - Mães de Luto em Luta, grupo que reúne familiares de pessoas que morreram em operações policiais.
'FOI UMA CRUELDADE'
Vanessa da Costa, mãe de Wender, de 20 anos, afirma que a família não está conseguindo viver o momento de luto por estar em busca de justiça pela morte dos jovens. "Foi uma crueldade o que fizeram com os nossos filhos", afirma. Segundo ela, não houve abordagem.
Para a mãe, a manifestação no centro de Londrina é uma forma de chamar a atenção de toda a sociedade para a população que vive nas periferias e que merece respeito. "Nossos jovens têm o direito de ir comprar uma bebida e voltar para casa, mas não foi isso o que aconteceu", lamenta.
CANSADA DE SOFRER
Mãe de Kelvin, de 15 anos, Cirlene Vieira afirmou que ensinou seu filho a ser um menino de bem e que está cansada de sofrer pelo que definiu como uma "chacina". Ela garante que, na periferia, vivem pessoas trabalhadoras e de bem. "Hoje eu nem tenho mais psicológico para trabalhar", relata, complementando a preocupação que sente quando os outros filhos precisam sair de casa.
Juliana Ferreira, 41, integra o Movimento Justiça por Almas desde 2022, ano em que o filho de 15 anos, Kauê Alexandre, foi morto por policiais em Jataizinho (Região Metropolitana de Londrina). Ela afirma que o grupo é uma forma de as famílias serem ouvidas. A principal reivindicação do movimento é, segundo ela, a obrigatoriedade das câmeras corporais nas fardas. "Ninguém nos ouve", lamenta, acrescentando que o Justiça por Almas é formado por mães, esposas e outras famílias de pessoas mortas em operações policiais.
Ferreira afirma que eles querem um momento para falar sobre aqueles que se foram. Ao fundo, os manifestantes gritavam frases como “não foi confronto, foi execução” enquanto levantavam cartazes e faixas pedindo por justiça. As mortes aconteceram em 15 de fevereiro e a Polícia Militar afirma que houve um confronto.
'MAIS UMA LUTA'
Um porta-voz do MAP (Movimento Autônomo Popular), que preferiu não se identificar, aponta que o grupo atua nas comunidades na luta pelos direitos básicos da população, como as moradias, saúde, educação e segurança. O objetivo, segundo ele, é formar uma alianças entre as comunidades para que elas possam lutar por seus direitos.
Pelo fato de o MAP ter nascido da morte de um jovem, em 2017, por um policial à paisana, eles começaram a se organizar para lutar por justiça. “Essa vai ser mais uma luta que o MAP está impulsionando e, infelizmente, não deve ser a última”, afirma.
Essa aliança comunitária, de acordo com o porta-voz, é uma forma de trazer voz para as causas, assim como conscientizar a população do que vem acontecendo no dia a dia. De maneira organizada, ele afirma que a população das comunidades tem força para se revoltar e fazer com que o Estado reconheça os direitos básicos, como o da vida. “A gente reivindica também a segurança nas comunidades e nos bairros nas periferias e as câmeras nas fardas dos agentes de segurança”, explica.

AS MORTES
Os dois jovens foram mortos na noite de um sábado, no jardim Santiago, zona oeste de Londrina. O boletim oficial da PM relatava que os jovens haviam reagido a uma abordagem policial e estavam armados em um carro roubado, o que teria provocado a reação dos agentes de segurança. Entretanto, as famílias negam veementemente a ligação dos dois com o crime e acusa os policiais de truculência.
O caso tomou uma proporção ainda maior com o atentado a dois ônibus de turismo no domingo (16), que foi relacionado pela PM aos protestos pelas mortes dos jovens. Também foram registrados incêndios em dois ônibus e a cidade ficou sem transporte durante algumas horas. No entanto, as famílias negam o envolvimento com os atos de vandalismo.
Por se tratar de uma ocorrência envolvendo militares em serviço, foi instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM), que está sob responsabilidade da polícia de Maringá (Noroeste). Já a Polícia Civil tem dois inquéritos em andamento: para investigar o suposto confronto e as mortes e outro para analisar o excesso das manifestações.
Quando esteve em Londrina, em 20 de fevereiro, o governador Ratinho Junior afirmou que há recursos separados para a aquisição de implantação das câmeras corporais, mas disse existir um trâmite burocrático que pode durar meses até que a licitação seja efetivada.

