Maioria das crianças carentes do DF está anêmica ou infectada por parasitas, diz pesquisa
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sexta-feira, 31 de março de 2000
Por Chico Araújo e áureo Germano, especial para o Estado
Brasília, 1 (AE)- A maioria das crianças carentes do Distrito Federal está infectada por parasita ou sofre de anemia. A constatação é de uma pesquisa com amostras de sangue e exames parasitológicos realizada em crianças das cidades-satélites de Samambaia, Taguatinga e Vila Varjão por um grupo de voluntários do Laboratório Sabin. A pesquisa deverá feita em mais oito creches de localidades carentes.
Em Samambaia, das 78 crianças pesquisadas, 69,4% apresentaram parasitas e 22% anemia. Já em Taguatinga, dos 59 atendimentos realizados, 69% das crianças tinham pelo menos um tipo de parasita. Deste total, 14% estavam contaminados com dois tipos combinados e outros 8,8% com até três tipos de parasitas.
As crianças também sofrem de desnutrição grave. Em dois diagnósticos feitos, 36% dos meninos apresentaram peso inferior ao normal para a idade e 32% tem altura inferior a média. As meninas, entretanto, estão em melhor situação: 14% apenas, está com peso inferior.
Segundo a bioquímica Janete Vaz, idealizadora do projeto assistencial, os números apresentados refletem a deficiência na qualidade dos programas de saúde dos governos. "A pesquisa mostra, de forma clara, que as autoridades do setor devem investir mais em serviços de saúde pública e educação em saúde". Apesar da gratuidade do exames, a equipe não tem conseguido atender 100% das crianças das creches selecionadas.
A causa seria a falta de consciência dos pais sobre a importância do programa. Nas cidades visitadas os pesquisadores observaram que as doenças estão relacionadas diretamente à falta de conhecimentos básicos de higiene. A bioquímica explica que, de posse dos resultados, a equipe traça um plano para reverter o quadro de desnutrição e infecções com os pediatras das crianças.
Orientação - A maioria das famílias atendidas é oriunda de estados das regiões Norte e Nordeste e têm, geralmente, baixo nível de escolaridade. Além dos exames, o laboratório ainda orienta as famílias sobre doenças como hepatite, aids, cistite, câncer e outras moléstias graves.
"Se cada médico dedicar um dia por mês a esse tipo de trabalho, as condições de saúde da população seriam bem diferentes", avalia Janete. A opinião da bioquímica é reforçada pelas pessoas atendidas. "Se tivessem médicos mais humanos e caridosos, o pobre não sofreria tanto", afirma Jascilene da Silva Bulhões, de 36 anos, que levou ontem seus três filhos à Creche Escola tia Angelina, na Vila Varjão, para serem atendidos.
Ivanildo da Silva, de 36 anos, era outro que aguardava na fila a vez de ser atendido com suas filhas Natália (2) e Carolina (6). "A iniciativa é ótima", aprova. Grávida de seis meses, Núbia Teixeira, de 28 anos, destacou a importância do trabalho e criticou o atendimento prestado no posto de saúde da vila. "A gente faz exames lá e só recebe (os resultados) depois de dois meses", denuncia. O diretor do Posto de Saúde da Vila Varjão, ginecologista Antônio Paes Landim, nega que o atendimento seja tão precário. "Os exames demoram, no máximo, 15 dias para serem entregues". Landim explica que esse atraso se dá devido as amostras serem coletadas no Centro de Saúde N º 10, do Lago Norte, e enviadas para análise no laboratório do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
Segundo Landim, o posto da localidade, além de atender os 6 mil moradores da região, ainda presta assistência a pacientes provenientes de outros estados, que correspondem a 55% das consultas. "Desse total, 56% são doentes vindos da Bahia". Outros 29%, segundo o médico, são de Minas Gerais e 9% de outros estados como Goiás, Piauí e entorno do DF.