Lula chama fome de chaga da humanidade e pede coragem ao G20
Presidente discursou na abertura da cúpula de chefes de Estado do grupo
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segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Presidente discursou na abertura da cúpula de chefes de Estado do grupo
Italo Nogueira, Nathália Garcia, Renato Machado, Ricardo Della Coletta e Patrícia Campos Mello - Folhapress

Rio de Janeiro - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou os membros do G20 nesta segunda-feira (18) para que sejam mais atuantes para acabar com a fome no mundo, pedindo que os líderes tenham "coragem de agir".
O mandatário também chamou a fome de "chaga que envergonha a humanidade" e acrescentou que é inaceitável que essa condição persista, em um mundo que tem gastos militares na ordem de US$ 2,4 trilhões.
"O G20 representa 85% dos US$ 110 trilhões do PIB mundial. Também responde por 75% dos US$ 32 trilhões do comércio de bens e serviços e dois terços dos 8 bilhões de habitantes do planeta. Compete aos que estão de volta nesta mesa, a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade. Por isso, colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G20 o lançamento de uma aliança global contra a fome e a pobreza", afirmou o presidente
Lula discursou na abertura da cúpula de chefes de Estado do G20, bloco que reúne as maiores economias do mundo, além da União Europeia e a União Africana.
O Brasil ocupa neste ano a presidência do bloco, que teve cerca de 150 reuniões de nível técnico e ministerial, em diferentes cidades brasileiras. O evento foi aberto com a sessão para discutir o combate à fome e à pobreza, quando também foi lançada a Aliança Global Contra a Fome, uma iniciativa da presidência brasileira para enfrentar o problema. "A Aliança nasce no G20, mas seu destino é global. Que esta cúpula seja marcada pela coragem de agir", disse o presidente.
Lula citou número da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) que apontam "um contingente de 733 milhões de pessoas ainda subnutridas".
"Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível. Em um mundo cujos gastos militares chegam a 2,4 trilhões de dólares, isso é inaceitável", declarou.
Em sua fala, o brasileiro lembrou que participou pela primeira vez do G20 em 2008, em Washington, e que constatou agora, passados 16 anos, que "o mundo está pior".
"Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e a maior quantidade de deslocamentos forçados já registrada. Os fenômenos climáticos extremos mostram seus efeitos devastadores em todos os cantos do planeta. Há desigualdades sociais, raciais e de gênero", afirmou.
O Brasil manteve na declaração do G20 o apoio à igualdade de gênero e taxação de bilionários, apesar das pressões da Argentina.
Segundo uma cópia do documento obtida pela Folha, o G20 vai apoiar, em sua declaração, "nosso comprometimento total com igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas". Na versão, consta a observação [ARG;reserve], indicando a oposição da Argentina.
Em linguagem diplomática, quando se usam colchetes, significa que algum país ainda está em consultas sobre o tema, ou seja, ainda não há consenso.
Um dos trechos a que o governo de Javier Milei se opôs condenava todas as formas de discriminação contra mulheres e meninas e reafirmava o "compromisso de acabar com a violência de gênero, incluindo a violência sexual, e de combater a misoginia online e offline". A Argentina também não quis apoiar o trecho que defendia "igualdade de gênero no trabalho".
Na semana passada, a Argentina foi o único país a votar contra uma resolução da ONU não vinculante que condenava a violência contra mulheres. Irã, Coreia do Norte e Rússia se abstiveram.

