Luany volta a estudar
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domingo, 26 de agosto de 2012
Em outubro do ano passado, a travesti Luany, de 21 anos, foi mais uma vítima da homofobia em Londrina. Depois de fazer um programa com um homem de aproximadamente 30 anos, acabou violentamente agredida pelo ''cliente''. Durante a surra que a deixou em coma por 11 dias, ela só escutava o agressor gritando que ''agora você vai aprender a virar homem.''
A violência extrema só evidenciou o preconceito que ela viveu desde os primeiros anos de vida. ''A família do meu pai nunca me aceitou. Era comum darem presentes para todos, menos para mim. Todos me chamavam de frutinha'', recorda. Foi pela violência que Luany acabou ''na rua''. E foi pelo mesmo motivo que, após sobreviver à tentativa de homicídio já narrada, ela conseguiu dar uma reviravolta na própria trajetória.
Matriculada no projeto Vira Vida, mantido pelo Sesi, onde faz curso de auxiliar administrativo, Luany está concluindo o segundo grau e busca a reinserção social por meio da educação e da busca por oportunidades no mercado de trabalho formal. Há poucas semanas, representou a turma escolar no Congresso Nacional do Vira Vida, em Brasília. Além de conhecer outras travestis que superaram a exclusão, ela viveu experiências como andar de avião e hospedar-se em um hotel. ''É bem diferente dos móteis que costumava frequentar. Brasília é muito linda'', entusiasma-se.
Com novos sonhos, planeja fazer faculdade de psicologia e, assim, ajudar pessoas na mesma situação que enfrentou. A bolsa de R$ 400 mensais rende muito mais que o dinheiro conseguido com os programas, ''que vinha fácil e também ia fácil.'' A mãe, agora, sente orgulho de Luany. ''Ela me adora, não importa o que eu seja'', diz.
Daniele, de 20 anos, é uma travesti de Maringá que já chegou ao lugar almejado por Luany. Ela é aluna do primeiro ano do curso de pedagogia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde está graças ao apoio da mãe e das patroas das casas em que trabalhou como empregada doméstica. ''Minha mãe e meus irmãos sempre me protegeram. A família é a minha base'', afirma.
Ela será a primeira travesti da UEM beneficiada pela resolução 014/2012, que prevê a inclusão do nome social nos documentos para uso interno na instituição. A medida favorece transexuais e travestis, que agora, se desejarem, serão referidos pelo nome que utilizam habitualmente.
Daniele deu entrada no processo que vai oficializar o uso do nome social no início do mês. ''Me sinto feliz, porque não vou mais ter que ficar dando explicações para professores por causa da aparência'', comemora.
A medida, segundo ela, deve incentivar outras travestis a chegarem à universidade. ''Quero mostrar para a sociedade que travestis e transexuais são capacitadas para estudar e subir na vida. Pretendo ser uma grande professora e um grande exemplo para meus alunos.''(C.A.)