Londrinenses participam de movimento nacional contra a violência carcerária
“Como que uma pessoa vai sair de um lugar desses com a vontade de recomeçar a vida da maneira correta”, questionou a familiar de um homem de 60 anos preso por associação para o tráfico
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sexta-feira, 28 de agosto de 2020
“Como que uma pessoa vai sair de um lugar desses com a vontade de recomeçar a vida da maneira correta”, questionou a familiar de um homem de 60 anos preso por associação para o tráfico
Vitor Struck - Grupo Folha
Enquanto nos Estados Unidos o episódio envolvendo o afro-americano Jacob Blake, 29, alvejado com sete tiros nas costas disparados por policiais fez acender uma nova onda de protestos nas ruas, no Brasil, grupos se mobilizaram na tarde desta sexta-feira (28) contra um tema que também está enraizado na história social do País, divide opiniões e ainda gera muita polêmica: a violência carcerária. Para tornar as duas discussões, que se confundem em torno do racismo estrutural presente nos dois países, ainda mais calorosas, Estados Unidos e Brasil estão próximos de escolherem seus futuros representantes, porém em âmbitos diferentes. E, ainda assim, pouco se discute com seriedade o tema da segurança pública pelo lado de dentro do sistema prisional, o que faz muitas pessoas até os dias de hoje defenderem que a trajetória no cárcere seja dura.
"Defender os presos não dá votos", disse uma senhora em frente à Prefeitura de Londrina. Na tarde desta sexta-feira, um grupo de familiares e amigos de pessoas privadas de liberdade esteve no Centro Cívico com cartazes que disparavam mensagens de protesto sobre o tema. Ao todo, cerca de 60 pessoas se dirigiram até a Prefeitura de Londrina. “Prisão domiciliar para o Queiroz revela as injustiças do sistema para os mais pobres”, dizia um cartaz em alusão ao ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e principal “pedra no sapato” do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Investigado no suposto esquema de “rachadinha” na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Queiroz teve a prisão domiciliar decretada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, uma "estrutura" do Poder Judiciário que a maioria da população mais pobre não tem acesso, o que também foi alvo de críticas.
Munida de fotos que mostravam hematomas e escoriações nos braços e nas pernas de presos, Priscila Juliana Correia disse que a opressão carcerária aumentou desde o início da pandemia do novo coronavírus. “Estamos aqui para provar tudo o que está acontecendo porque acreditamos na ressocialização. A SOE (Seção de Operações Especiais) tem dado tiros de borracha, a comida está azeda, quando vai. Eles estão apanhando muito e como eles estão sem visita eles não têm como provar. Teve um agente que tirou as fotos e enviou para nós”, disse.
Questionada, informou que as fotos haviam sido tiradas na Penitenciária Estadual de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, e na unidade 1 da PEL (Penitenciária Estadual de Londrina).
Na Região Metropolitana de Londrina, a discussão possui um elemento que a torna ainda mais atual: a morte de seis presos da cadeia de Ibiporã há menos de duas semanas após uma confusão que deu origem a um incêndio na carceragem. Conforme destacou uma senhora ouvida pela reportagem, os familiares não são favoráveis aos crimes que foram cometidos e defendem que seus amigos, filhos, pais ou esposos paguem suas penas e "acreditam na ressocialização". Porém, "como que uma pessoa vai sair de um lugar desses com a vontade de recomeçar a vida da maneira correta”, questionou.
A manifestação também contou com o apoio de advogados e do Movimento Nacional dos Direitos Humanos.