Gustavo Corrêa, 40 anos, estudante de medicina em Buenos Aires, Argentina.

“Sou estudante de medicina e faço internato no Hospital Santojanni, que é um hospital público de referência na capital. Estou cursando o último ano de medicina aqui e, assim como no Brasil, a gente faz um internato"

LEIA TODOS OS DEPOIMENTOS AQUI

"A primeira informação que eu tive do vírus foi de uma residente de cirurgia que estava em contato com a gente e ela veio no voo de Dubai. A administração do hospital a colocou em quarentena por 15 dias e a gente começou a debater sobre o vírus.

LEIA TAMBÉM:

Coronavírus leva Brasil a fechar fronteiras terrestres com 8 países por 15 dias

“Com o vírus, estão vindo nossos medos e angústias mais primitivos”

Na sexta-feira passada, dia 13, foi a nossa vez. Meus superiores disseram para a gente não ir mais ao trabalho. Até o dia 28 eu não volto mais para a unidade.

Esse hospital tinha um caso confirmado de coronavírus quando decidiram colocar os alunos, internos e praticantes, em rotação de quarentena.

Imagem ilustrativa da imagem Londrinense radicado na Argentina conta como está a situação no País
| Foto: Arquivo Pessoal

Muitas medidas foram tomadas e bem rápido. Os governantes daqui atuam de maneira bem rápida, com decisões corretas na maioria das vezes, baseados no que acontece lá fora. Logo no domingo (15), implementaram uma série de medidas para conter o vírus.

O Ministro da Educação pediu para as escolas fecharem, então todo o nível de educação está fechado, desde o primário, colégio, faculdades, todo mundo em casa. Não tem aula e isso até o dia 28 de março, a maioria das medidas são para até o final do mês.

O Ministro do Trabalho disse para as pessoas trabalharem em casa, principalmente os funcionários públicos. Empresas privadas também recomendam que as pessoas trabalhem em casa, na medida do possível. Somente aqueles funcionários que são essenciais, como área da saúde, polícia, bombeiro, continuam trabalhando. Grávidas e idosos têm licença de trabalho, não precisam trabalhar.

ITÁLIA: "Estamos segregados dentro de casa"

O Ministro da Saúde sempre vem a público na televisão, redes sociais, sempre em contato com a população dizendo quais são os sintomas, as medidas preventivas, o que estão fazendo, os números, como agir se tiver sintoma, estão instruindo bem a população.

Eles estão evitando a circulação e aglomeração de pessoas, os shoppings estão abertos, mas as pessoas não podem comer na praça de alimentação. Elas podem comprar comida, mas não podem ficar. Os cinemas e teatros estão fechados, shows e campeonatos de futebol foram cancelados.

Bares e restaurante podem funcionar, mas somente se as pessoas estiverem sentadas, ninguém em pé, ninguém circulando muito, algo que também aconteceu com o transporte.

Aqui nós vamos ter um feriado prolongado neste final de semana e para evitar viagens interestaduais, que possa disseminar ainda mais o vírus, foi proibida a viagem de ônibus, de trem e de avião para outros estados, isso até quarta-feira (25).

ÍNDIA: "Os aeroportos estão fechados, ninguém mais entra na Índia"

Na capital, terá transporte público durante esse feriado, mas as pessoas só podem viajar sentadas, não pode transportar ninguém em pé. As estações estarão fechadas, não tem como muita gente se encontrar.

As fronteiras foram fechadas. Eles estipularam todos os países de risco, como todos os países da Europa, países da Ásia, Estados Unido, inclusive o Brasil. Somente argentinos e residentes podem entrar, nenhum estrangeiro pode, qualquer pessoa pode sair.

Eles cancelaram voos internacionais, isso causou um grande problema, porque existem cerca de 23 mil argentinos presos em outros países querendo voltar. Mais de 20 mil argentinos pediram ajuda do governo pra poder voltar, principalmente em Miami e Madrid. O governo emitiu nota e conseguiu fazer acordo com companhias aéreas para trazer essas pessoas de volta e, quando elas chegarem, terão que ficar de quarentena obrigatória por 15 dias.

A maior parte do tempo eu fico em casa, só saio para ir ao mercado e algumas coisas de extrema necessidade. Eu percebo que a maioria das pessoas está agindo da mesma forma. Eu vejo que o povo da Argentina é bem consciente e está disposto a cooperar com todas as medidas, o pessoal está de parabéns a meu ver, cumprindo com o que foi pedido.

Tenho vários amigos que são médicos, que trabalham no Same (Sistema de Atenção Médica de Emergência). Lá são mais de duas mil chamadas por dia, eles estão bem ocupados, indo na casa das pessoas, atendendo, transportando para hospital, muita gente preocupada.

Os mercados não têm produto, muita gente estocou comida, isso foi um problema. Eu estive no mercado domingo e não tinha praticamente nada.

De modo geral, eu estou bem satisfeito com todas as medidas tomadas, acho que o governo agiu de forma rápida, inteligente, sensata, tomando medidas para prevenir essa disseminação do vírus, que chegou na capital e no estado de Buenos Aires, onde tem a maior concentração de pessoas infectadas. Estão tentando isolar essas pessoas para que não se espalhem muito a doença pelo país.

O povo argentino é bem consciente e bem engajado nessas questões políticas, nessas questões do governo, sempre lendo e sabendo o que está acontecendo. Eles estão dispostos a ajudar, a maioria das pessoas está cooperando, já tem menos gente na rua.

Eles se prepararam e estão agindo rápido, se prevenindo antes que possa acontecer coisas piores.”

LEIA MAIS:

Ratinho Jr. amplia decreto e proíbe entrada de ônibus de todos os Estados

“Com o vírus, estão vindo nossos medos e angústias mais primitivos”