O número de mortes em confrontos policiais aumentou em Londrina, segundo balanço detalhado divulgado pelo Ministério Público do Paraná (MPPR) nesta sexta-feira. Em 2023, as mortes desta natureza na cidade foram 29, mas em 2024 subiram para 49. Anteriormente, a FOLHA divulgou que as mortes foram 43, mas o número em questão são o de confrontos policiais na cidade. O aumento foi ainda maior, de 69%.

A elaboração do levantamento foi realizada em parceria entre o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e o Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública) e vai de encontro ao que disse o procurador-geral de justiça, Francisco Zanicotti. Ele esteve em Londrina nos últimos dias e em entrevista à imprensa afirmou que as mortes em confrontos tem sido um tema central em sua gestão à frente do MPPR.

“Instituímos uma forma diferente de enfrentar essa questão. É muito grave a morte em confrontos policiais. Aprimorando os dados, fomos estudando para ver como foram aqueles confrontos. Quando há o mínimo indício de que aquela conduta possa ter sido, de alguma forma, excessiva ou não apresentada em legítima defesa, investigamos a fundo”, disse o procurador.

Londrina voltou a ter um aumento nas mortes em confrontos policiais no ano passado. De 2022 para 2023, a queda havia sido de 42%, de 50 para 29 óbitos. “A polícia tem o dever e a missão de nos proteger e nos defender, e é isso o que eles fazem. Erros que acontecem, excessos ou, infelizmente, mortes que não deveriam ocorrer, tudo isso tem que ser investigado e punido. Ninguém está aqui para passar a mão na cabeça de bandido, nem de bandido dentro da polícia e, com certeza absoluta, muito menos de bandido fora da polícia. O que nós não podemos é colocar o policial como um refém, como culpado pela violência da sociedade. O culpado pela violência na sociedade é a bandidagem”, destacou Tiago Amaral, em entrevista nesta semana, quando participou de evento ao lado de Zanicotti e foi questionado sobre a violência policial em Londrina.

NO PARANÁ

Londrina foi a segunda cidade com mais mortes por confrontos policiais em 2024, atrás apenas de Curitiba, que teve 98. Na sequência da lista divulgada pelo MPPR aparecem São José dos Pinhais, Foz do Iguaçu e Colombo, com 15 mortes, e logo aparece Cambé, cidade da Região Metropolitana de Londrina, com 12 óbitos da mesma natureza no ano passado.

“Pretendemos aperfeiçoar o acompanhamento desses confrontos. O objetivo não é apenas investigar os casos que envolvam mortes, mas sim acompanhar de uma maneira que possam interferir, fazendo sugestões às corporações policiais, orientando ou até mesmo fazendo recomendações administrativas que levem ao incremento dessa atividade. Nós já tratamos disso com as próprias forças policiais, com seus comandos, que estão dispostos a trabalhar em parceria", explicou Cláudio Rubino Zuan Esteves, coordenador do Gaeco.

"Do lado de lá, também há interesse em trabalhar com o MPPR para tratar desse fenômeno. O objetivo é a redução desses números. Se identificarmos que esses casos estão conectados com uma ação criminosa, com características de crime, e se for de atribuição do Gaeco, não vamos nos afastar da investigação, naturalmente, como sempre foi. É um trabalho natural do MPPR, e evidentemente estamos atentos a esse fenômeno”, acrescentou Esteves.

NOVA FORMA DE TRABALHO

"Inauguramos uma nova forma de trabalhar a temática dos confrontos policiais. A atuação rotineira, que sempre ocorreu por parte dos órgãos do MPPR, investigando eventuais desvios ou acompanhando inquéritos policiais, permanece inalterada. A novidade é que, a partir de agora, o Gaesp passará a acompanhar os dados sobre esses confrontos, compilando informações, fazendo tratamento de dados e, de certa forma, estabelecendo parceria com as forças de segurança pública na compreensão do fenômeno dos confrontos policiais. O objetivo é buscar protocolos de atuação e melhorias estruturantes nas forças de segurança pública que, como consequência, tendam à redução desses eventos de confronto”, indicou Ricardo Casseb Lois, coordenador do Gaesp.

A abordagem do MPPR para o assunto dá destaque à prevenção e repressão, com a primeiro sendo direcionada ao Gaesp, enquanto a segunda será de responsabilidade das promotorias de justiça com atribuições para o acompanhamento das investigações em suas localidades, além do Gaeco, quando atendidos os critérios de atuação do grupo.

O novo sistema conta com diagnósticos que visam levar a ações concretas, como a primeira, que está em em execução, que foi a aquisição pelo Estado de armamento não letal, como os “tasers”, em complemento às armas de fogo. Segundo o MPPR, os equipamentos possibilitam efetividade nas abordagens.

(Com MPPR)
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