A divulgação, na última semana de maio, do IPS Brasil 2025 (Índice de Progresso Social), chamou a atenção para a colocação de Londrina na 222ª posição na lista dos 5.570 municípios brasileiros avaliados quanto a capacidade e a performance em atender as necessidades de seus cidadãos. A segunda maior cidade paranaense alcançou no estudo a somatória de 66.29 pontos, chegando à 19ª posição no Estado, ficando abaixo de Maringá, que obteve 68.84 (19ª posição nacional e a 2ª no Estado) e Toledo, 67.80 (77ª posição nacional e a 5ª no Estado). Curitiba ostenta 69.89 pontos, sendo a melhor entre as capitais, ocupando a 12ª posição nacional e a 1ª no Estado.

O Índice de Progresso Social é uma ferramenta de gestão territorial que usa dados públicos para mostrar, de forma simples e comparável, se as pessoas têm acesso ao que precisam para viver bem. Isso inclui desde aspectos como moradia, alimentação e segurança, passando por itens como acesso à informação, comunicação, internet banda larga, até oportunidades e igualdade de tratamento quando o assunto é gênero, raça ou orientação.

Em outras palavras, o IPS mostra como está a qualidade de vida das pessoas nos municípios. Ele é formado por indicadores socioambientais e de resultados. Isso significa que ele não avalia a quantidade de infraestrutura ou recursos aplicados em um município, mas sim se esses investimentos estão, de fato, gerando benefícios concretos para a população local.

57 itens

Dos 57 itens coletados no Índice, Londrina pontua bem em apenas oito: “Índice de Abastecimento de Água”, “Ideb Ensino Fundamental”, “Resposta a Processos Previdenciários”, “Áreas Verdes Urbanas” e “Empregados com Ensino Superior” são alguns exemplos dos pontos positivos. Já os itens com pontuação ruim são “Domicílios com Iluminação Elétrica Adequada”, “Famílias em Situação de Rua” e “Violência contra Mulheres”.

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Esses gargalos puxam a nota da cidade para baixo, fazendo com que ela perca posições para cidades menores e com PIB per capita inferiores aos nossos. Outras cidades, ainda que tenham pontuações piores nos mesmos três itens, conseguem elevar suas notas em outros pontos pesquisados, garantindo posições melhores no IPS.

12 perguntas

De acordo com Gustavo Nascimento, da equipe de comunicação do IPS Brasil, o país “precisa de uma nova medida que avalie e quantifique o que realmente importa para as pessoas, indo além do contexto econômico, afinal, desenvolvimento econômico não necessariamente representa desenvolvimento social”.

A metodologia do IPS é guiada por 12 perguntas orientadoras (veja infográfico). No portal é possível encontrar um verdadeiro raio-X dos municípios brasileiros, com dados que revelam seus pontos fortes, medianos e áreas que demandam atenção imediata. “O IPS Brasil é o índice mais completo da realidade socioambiental de todos os 5.570 municípios do país, ele proporciona um panorama multidimensional e acessível sobre a performance de municípios e estados em atender às necessidades básicas de seus cidadãos”, ressalta Nascimento. A pesquisa de 2025 foi a primeira a divulgar os dados londrinenses e abrange dados entre 2021 e 2024.

A ferramenta ainda permite comparar cidades com perfis similares – mesmo porte populacional, PIB per capita e características territoriais –, tornando-se um instrumento valioso para gestores públicos que buscam embasar decisões em dados concretos. Também é útil para investidores sociais interessados em direcionar recursos de forma estratégica. Além de permitir ao cidadão acompanhar o desenvolvimento de sua região.

Imagem ilustrativa da imagem Londrina se destaca só em 8 dos 57 itens de índice de bem-estar
| Foto: Gustavo Pereira Padial

Professora faz alerta

Para Vera Suguihiro, professora sênior do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UEL, se a cidade não tiver uma adoção de políticas públicas de qualidade, o índice IPS que atribui a 222ª posição a Londrina não será superado, independente do segmento vulnerável da sociedade a ser atendido.

“Precisamos mudar a forma de priorizar as políticas públicas. Isso significa deixar de priorizar somente as ações sobre os direitos já violados. É preciso ir além dessas ações de reparação de direitos violados e passar a priorizar as políticas públicas na perspectiva da garantia de direitos”, comenta.

Do gargalo existente quanto a “Famílias em Situação de Rua”, Suguihiro ressalta que o que se tem hoje é uma postura de relegar essas pessoas para as periferias, distanciando-as da oportunidade a políticas públicas de atenção básica, “o atendimento à população de rua, infelizmente tem ganhado um caráter higienista, a política de habitação social implantada, tem negado aos seus moradores o direito à cidade”.

Violência contra a mulher

Quanto à mulheres em condição de violência, é necessário uma política pública voltada para o agressor, no sentido de romper o ciclo da violência. Isso seria alcançado por meio de programas e projetos de caráter preventivo, de reeducação, sem necessariamente evitar a impunidade. O agressor precisa ser responsabilizado. “Se faz necessário uma política pública que atenda tanto a mulher violentada (medidas protetivas) como ao homem agressor (apoio psicológico, prevenir a reincidência) em uma perspectiva complementar, intersetorial e interdisciplinar, com garantias de recursos públicos para a sua implementação. Sem recurso público não há políticas públicas”, define Suguihiro.

O que a pesquisa avalia

Com 57 indicadores distribuídos em três dimensões, o IPS Brasil 2025 vai além da economia, medindo a qualidade de vida das pessoas. Segundo Gustavo Nascimento, da equipe de comunicação da pesquisa, “o índice será atualizado anualmente, focando em medir resultados reais em progresso social, não apenas investimentos, para avaliar se as necessidades básicas da população estão sendo atendidas”. Essas 57 variáveis foram agregadas em um índice geral, pontuando de 0 a 100.

O progresso social foi definido por um grupo de especialistas acadêmicos e sintetizado pelo IPS como a capacidade da sociedade em suprir as necessidades humanas básicas, estabelecer as estruturas que garantam qualidade de vida e fomentar oportunidades para os indivíduos atingirem seu potencial máximo. Sua elaboração e distribuição contou com apoio técnico e institucional de uma ampla gama de instituições comprometidas com o desenvolvimento sustentável do país, como o Imazon (Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia), Fundação Avina, Centro de Empreendedorismo da Amazônia, iniciativa Amazônia 2030, Anattá - Pesquisa e Desenvolvimento, e o Social Progress Imperative.

Os 57 indicadores são estruturados em 12 componentes, organizados em 3 dimensões principais: “Necessidades Humanas Básicas” determina se um país, estado ou município possui condições de garantir necessidades mais básicas para a população; “Fundamentos do Bem-estar” revela se há elementos que garantam às pessoas e comunidades a chance de prover e manter o seu bem-estar; “Oportunidades” revela se a sociedade conta com oportunidades para que todos os indivíduos possam atingir seu pleno potencial.

Imagem ilustrativa da imagem Londrina se destaca só em 8 dos 57 itens de índice de bem-estar
| Foto: Gustavo Pereira Padial

A pesquisa já é referência regional no Amazonas, onde ela é divulgada anualmente desde 2014. “Um exemplo é o município de Itapiranga (AM), que utiliza o IPS desde as edições da Amazônia Legal. A equipe técnica tem usado o índice como ferramenta de monitoramento e orientação de políticas públicas” pontua Gustavo Nascimento.

Toda informação conta

Entre a gama de itens pesquisados, há alguns que em um primeiro momento geram indagação sobre sua relevância na pesquisa, mas com um olhar mais aprofundado eles evidenciam fatos importantes no contexto geral da qualidade de vida dos cidadãos. Indicadores como “Consumo de Alimentos Ultraprocessados” refletem hábitos associados à qualidade de vida e saúde pública. Já indicadores como “Resposta a Processos Previdenciários” medem o acesso à justiça e à proteção social.

Serviço:

Mais informações no site IPS Brasil

Maringá, entre as 10 mais bem avaliadas do país

Das dez cidades mais bem avaliadas do Brasil, com população entre 100 mil e 500 mil habitantes (excluindo capitais), oito estão localizadas no Estado de São Paulo, de acordo com a pesquisa. Apesar dos resultados reforçarem a liderança paulista em áreas como acesso à educação, saúde e infraestrutura urbana, outras três cidades se destacam: Nova Lima, em Minas Gerais e Maringá, no Paraná.

O levantamento não considera as capitais estaduais, mesmo que algumas se enquadrem como cidades médias, devido às suas particularidades socioeconômicas e desafios distintos, como diferenças estruturais (gestão mais complexa, maior demanda por serviços públicos); dinâmica urbana (fluxo migratório intenso, centralização de atividades); desenvolvimento regional (papel estratégico como polos políticos e econômicos).

Essa exclusão permite uma análise mais precisa do desempenho das cidades médias, revelando aquelas que se destacam sem a influência direta dos grandes centros urbanos.

Disparidades e a liderança paulista

A concentração das melhores colocações no estado de São Paulo evidencia não apenas as desigualdades entre as regiões nacionais, mas também a urgência de políticas públicas mais inclusivas e equilibradas, capazes de promover o progresso social em todo o país de um modo mais equilibrado. “Também conseguimos ver que municípios que possuem um histórico de alta taxa de PIB per capita, por vezes, tem um IPS pior que municípios mais pobres, isso revela que volume de recursos não garante boa qualidade de vida”, revela Gustavo Nascimento, da equipe de comunicação do IPS Brasil.

O Índice mostra que municípios com PIBs semelhantes possuem desempenhos sociais muito diferentes, desempenhos normalmente ligados à maneira como os recursos são aplicados, servindo como bússola de gestão e especificando áreas prioritárias para uma atuação pública.

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